Meus olhos se mantinham em Adora, um sorriso carregado de charme ainda percorrendo minha face, era possível notar a dúvida nela, em toda ela, seu olhar, suas expressões, gestos, um misto de desejo de aceitar minhas investidas e receio, por um momento me perguntei se o receio ainda era devido a Aaron, algo que por mais que parecesse absurdo agora eu compreendia um pouco, afinal, ainda sentia a dor da rejeição de Astrid, então agora conseguia compreender um pouco mais Adora, embora ainda assim não sabia dizer se o suficiente para achar justificável ela ainda ficar daquele por alguém que não merecia nem o ar que respirava, mas não queria me ater a tal pensamento, afinal, que benefício aquilo traria?

Ethan, eu não posso... Não posso fazer isso com Astrid. Senti minha feição se fechar levemente, algo que tentei corrigir o mais rápido possível. Astrid? Não esperava ouvir a nome de Astrid naquele momento, não esperava sentir aquele vazio, minha cabeça, que até segundos atrás tinha apenas a imagem de Adora seminua, agora estavam sendo bombardeada com o rosto de Astrid, algo que quase me fez gargalhar, uma vez que tinha a mente tão cheia dela e um sentimento de vazio tão intenso no peito, um vazio que agora sabia que precisava preencher de alguma forma. Ela me rejeitou, Adora... Não há nada entre nós. Disse tentando manter a voz sob controle, mas sabia que minha voz tinha um rancor, uma rancor e uma dor estranha que eu vinha tentando evitar nos últimos dias.

Fechei os olhos rapidamente, forçando minha mente a ignorar a imagem de Astrid, imagem que estava tão viva na minha cabeça, tão intensa, que eu quase conseguia sentir seu perfume no ar, abri os olhos novamente, dando um passo em direção à Adora. Adora, pense bem... Vamos ter um momento só nosso... Levei a mão, tocando levemente em seu rosto. Você não quer isso? Disse suavemente, minha mão acariciando levemente seu rosto, sabia que ainda havia hesitação em seus olhos, mas também havia um brilho neles que me dizia que talvez, apenas talvez, ela estivesse disposta a deixar todas as dúvidas de lado e foi naquele talvez que investi.

Me aproximei ainda mais, deixando minha boca bem perto do seu ouvido. Você não quer se entregar a alguém que realmente valha a pena? Alguém que realmente te deseja? Que não te engane?" Sussurrei, fazendo questão de enfatizar a última parte, vi ela engolir seco e, por um momento, quase pude ver a imagem de Aaron se formando em sua mente, sabia que era muito errado jogar com ela daquela forma, mas já estava feito, a encarei e sorri ao ver que a dúvida logo foi substituída por um olhar decidido, sabia que ela havia se rendido ao desejo.

Ela se aproximou de mim e me beijou com uma intensidade que eu não esperava, mas simplesmente me deixei levar pela paixão e pelo desejo do momento, por um segundo, quando ela finalmente se rendeu, senti uma sensação de triunfo misturada com culpa, mas no segundo seguinte, graças ao beijo intenso, esqueci de Astrid, do chute e de todas as merdas que sempre me rodeavam. A puxei mais perto, nosso beijo se intensificando ainda mais, a dor e a frustração se transformando em uma onda de desejo incontrolável, uma sensação quase intoxicante, algo que tinha que admitir que sentira falta, falta do calor que emanava, da ânsia por toques e carícias, de tudo aquilo.

Eu queria saborear cada segundo, cada detalhe de Adora, o sabor de seus lábios, a delicadeza de sua pele, o cheiro de seus cabelos, simplesmente tudo, levei minha mão até suas costas, nos colando ainda mais, um movimento quase instintivo, o momento parecia dilatar e a intensidade do beijo aumentava a cada segundo que passava.
Apesar de todo o turbilhão de sentimentos conflitantes que nos trouxe até ali, aquela conexão física e emocional compartilhada nos ajudou a encontrar um escape, mesmo que momentâneo, das circunstâncias complicadas que nos rodeavam.

Quando nos afastamos, cessando momentaneamente o beijo, Adora arregalou os olhos, se afastando de mim rapidamente, algo que me fez frisar o cenho sem compreender, observo a direção dos seus olhos, pareciam encarar alguém atrás de mim, quando começo a me virar vejo Adora dar um passo, sua boca se abrindo. Desc... Mas então ela cessou, um som, uma voz, um simples murmuro soou de trás de mim, o suficiente para fazer meu corpo inteiro congelar, como se eu estivesse no topo da mais alta e gélida montanha, ou de frente para um inimigo que eu sabia que seria incapaz de vencer, claro que eu sabia que não era nenhuma das duas coisas, mas senti meu corpo estremecer como se fosse.

Me virei lentamente encontrando Astrid, suas bochechas molharas, seus olhos lacrimejantes, eu fiquei mudo, minha cabeça voltou ao caos costumeiro, não era muito complicado compreender que a garota que me faz sentir vivo estava claramente machucada e ferida pelo que presenciou, meu orgulho tentou se sobrepor, como quem dissesse para mim que eu era quem estava frustrado e magoado por sua rejeição mas, olhando para ela, era difícil acreditar naquilo. Astrid... Tentei interromper o fluxo de palavras dela, todas direcionada contra Adora. Cala boca não estou falando com você Ethan. Embora normalmente eu escutasse aquelas palavras e simplesmente as ignorasse, como quem deixasse claro que ninguém simplesmente mandava em mim, naquele momento eu parecia um mudo.

As palavras de Astrid continuavam, escutava tudo atentamente, tentando compreender o que tudo aquilo significava, ligar os pontos, em principal, Enric, o que aquele bastardo tinha a ver com aquela história, principalmente com Astrid, abri a boca novamente, mas os dizeres de Astrid sobre mim me fez parar, naquele momento acabei por me lembrar de nossa conversa, um sorriso quase se formou em meus lábios, aquilo era óbvio, tão simples, ainda era o mesmo Ethan para ela, a mesma pessoa indigna de confiança, alguém que não se devia esperar nada, no fim, nada havia mudado, ela podia fazer o show que quisesse, fingir o quanto quisesse estar magoada, mas no fim, me olhava da mesma maneira.

Fechei os olhos, sentindo minha cabeça girar, engolindo com amargor as lágrimas que senti surgir, já era a segunda vez que sentia aquele mesmo sentimento, aquela mesma frustração, aquele mesmo ódio e rancor e, novamente, Astrid provocara. Então senti alguém trombar contra mim, abri os olhos, notando Astrid, não era um abraço, não era nada, pelo visto ela apenas recuara ao toque de Adora e eu estava em seu caminho, minha cabeça parecia ainda pior, o caos que já estava apenas se intensificou, o calor dela era completamente diferente, inebriante, mas ao mesmo tempo me fez ficar completamente à deriva.

Astrid abraçou o próprio corpo, como quem buscasse se proteger, senti o ar tenso, o olhar de Adora estranho, o olhar de Astrid assustado, mas assustado por que? Por minha causa? Minha cabeça doía, balancei a cabeça negativamente, aquilo era um erro, Astrid estar com medo de mim era loucura. Astrid... Ergui minha mão, mas o que houve em seguida me fez ficar paralisado, sem qualquer reação, Astrid quase gritou para que eu não a tocasse, dando um forte tapa em minha mão, se afastando de mim como se eu fosse um monstro, não apenas alguém indigno de confiança, não alguém que ela detestava, mas com um medo, um nojo misturado de dor e decepção.

Dei um passo para trás, minha cabeça... Não, meu mundo inteiro girando, tudo pareceu desfocado, tudo estava estranho, senti meu peito doer de uma maneira que nunca senti antes, meus pulmões se fecharem, eu não via direito, não respirava direito, minha cabeça parecia uma loucura, dei mais um passo para trás, vacilante, balançando a cabeça negativamente, então tudo parou, o mundo parou, como se tudo ficasse suspenso, mas ainda assim eu sentia um pânico, um medo, algo torturante. Você... Eu tentava falar, mas não sabia se minha voz saia naquele momento. Você... Com medo de mim? Eu não sabia o que fazer, parecia perdido, senti minha cabeça começar a doer. Eu te... A palavra "amo" pareceu se perder na loucura da minha cabeça, ou talvez tenha saído, de qualquer forma eu não sabia dizer. E você me olha desta forma? Dei outro passo para trás. É assim que me vê? Como um monstro? Tudo parecia turvo naquele momento.

Minha cabeça parecia querer explodir, levei as duas mãos sobre a cabeça, a apertando, como se aquilo pudesse ajudar de alguma forma, mas nada parava aquela sensação, naquele momento senti uma onda de choque, minha mente girou novamente, uma onda de imagens vindo até minha cabeça, flashes de algo que eu não tinha ideia do que era ou o que representava, em um instante me vi sentado no Expresso Hogwarts, um garoto moreno sorrindo e estendendo a mão. "Sou Jack!", ele dizia com um sorriso amigável, então a porta da cabine se abriu e, mesmo sem ver o rosto, eu sabia que o sentimento pela garota que entrava era diferente, era quase o mesmo que tinha por Astrid, meus olhos voltaram aos jardins, retornando agora em eu voando ao lado de Jack com vestes da Grifinória, mas minhas vestes agora eram verdes.

Fechei os olhos rapidamente, e quando os abri estava no meio dos corredores das masmorras, um garoto loiro avançava contra mim, mas meu movimento foi simples, prático, eu simplesmente desviei, dando um leve chute no pé esquerdo dele, o fazendo tropeçar nos próprios pés e cair, antes que ele se levantasse eu já estava sobre ele, meus pés pressionando sua cabeça enquanto eu torcia seu braço, podia não ver, mas sabia que tinha um sorriso arrogante no rosto. "Você vê?... A diferença entre nós é como o oceano... Você não passa de um inseto.", a voz que saia era diferente da minha, mais grave, no instante seguinte minhas mãos estavam sendo enfaixados, novamente a sensação de conforto, a garota me olhava, eu não sabia quem era, mas sabia o que sentia. "Não acredito que você brigou com o Edward... Por que vocês brigaram?", ela parecia irritada comigo, eu sentia as palavras 'por você' vindo a mente, mas ficando paradas ali.

Novamente me vi nos jardins, mas eu não conseguia mais identificar o que acontecia ali, tudo era um borrão e então me vi encarando um home com uma máscara, ele dizia que o lorde solicitava minha presença em meio à maldição cruciutus sendo lançada contra mim, a dor era real, intensa, eu fechei os olhos, sentindo minha garganta arder com um grito, mas então a sensação e cheiro da floresta proibida inundaram minha mente, abri os olhos novamente, uma completa escuridão ao meu redor, mas eu sabia que caminhava no interior de uma cachoeira, um caminho escuro que então se abriu em um vasto jardim, onde uma serpente gigante se inclinou levemente em minha direção. "Messstre." Ela sibilou, mas compreendi perfeitamente.

Então em um piscar de olhos estava dançando em um baile, a garota em meus braços, novamente aquela sensação reconfortante, novamente a mesma sensação que encontrei somente nos braços de Astrid, estava em um baile, risos e conversas ecoando ao meu redor. Astrid? A pergunta saiu, mas não na voz grave, grossa, era minha voz, mas não parecia ter sido dita naquele baile. "Eu te amo!", a garota disse e foi como se tudo simplesmente valesse a pena, abraçar as trevas tinha um motivo, protegê-la, eu mataria por ela sem qualquer tipo de hesitação, desviei meu olhar rapidamente e tudo era apenas caos, haviam tantos Dementadores, voando ao nosso redor, eu vi Jack e Edward, vi minha mão segurando uma varinha diferente, mas familiar, então um patrono, uma serpente surgiu, afastando os Dementadores, criando um clarão.

Quando o clarão se desfez eu encarava um homem morto à minha frente, risos ao fundo, uma festa ocorria ao longe, um casamento, soltei um suspiro pesado, sabia que não podia retornar, não até que eu controlasse as trevas, não até que eu dominasse todos os Comensais e os fizesse meus servos, não até que eu pudesse garantir que todos que eu amava estavam seguros, soltei um suspiro e ergui a cabeça, uma chuva caía, eu já não estava no mesmo lugar de antes, o cheiro de morte ao meu redor era insuportável. "Circe..." Sibilei e logo o enorme Basilisco surgiu, "Percorra os corredores de Hogwarts... Mate todos que encontrar.", as palavras saíram frias, crueis, carregadas de uma dor profunda, mas igualmente carregadas de determinação.

Aqueles flashes eram confusos, reais, era eu, mas não era ao mesmo tempo, era como se meus olhos captassem o que ocorria nos jardins, Astrid ainda me olhando de longe, Adora, mas ao mesmo tempo as memórias de outra pessoa estivessem cruzando minha cabeça rápido demais para que eu fosse capaz de compreender qualquer coisa e, então, veio a sensação de dor, de tortura, como se eu estivesse passando por tantos traumas, tantos feitiços me atingindo, tanta maldição, tantos golpes, que senti minhas pernas fraquejarem, caindo de joelhos no chão, a falta de ar se intensificou, aquela sensação era como se a morte me tocasse, mas não para me levar, apenas para brincar comigo, ergui os olhos novamente vendo um homem caído aos meus pés, havia conseguido, havia assumido o controle das trevas, mas o custo me pareceu alto demais, olhei ao redor, a pilha de corpos, então vi a adaga na minha mão, a minha adaga, a adaga que Theo vivia escondendo de mim, minhas mãos e ela banhadas em sangue, todos os olhos do Salão Principal em mim.

Então eu sumi, não havia aparatado, não havia fugido, apenas sentia que estava em outro lugar, mas onde eu ia, onde eu pisava, apenas a morte me acompanhava, apenas dor, não sentia mais a ligação com Circe, não sentia mais minha ligação com Jack, ódio por Edward, nem mesmo o amor, fora como se todo o sentimento simplesmente sumisse por completo, havia apenas o caos, apenas a morte e destruição, sem remorso, sem absolutamente nada, aquele não era eu, mas era como se eu o compreendesse, na verdade eu o compreendia, não julgava qualquer ação dele, já que faria o mesmo se sentisse que aquilo manteria Astrid segura. Então veio as sombras, e das sombras a total escuridão, não tinha mais flashes, não tinha mais memórias, não havia mais nada, não havia mais vida, só a sensação de vazio, abri os olhos novamente, a grama verde se estendendo na minha frente, mas eu não tinha forças para nada, não tinha ar nos pulmões, mas sabia que, naquele momento, aquele era eu e que eu estava morrendo.