Ela se preparou mentalmente para o que estava por vir, enquanto seguia com sua irmã Freya em direção à tenda. A conversa anterior sobre Nicholas e as preocupações de Freya haviam sido encerradas, mas o peso da responsabilidade ainda pairava sobre Ksenia. Enquanto adentravam a tenda juntas, Ksenia mantinha sua decisão firme de não querer conhecer Nicholas. Freya parecia desapontada, mas respeitou a escolha da irmã. Lá dentro, o ambiente estava movimentado, o ar estava carregado de uma mistura de ansiedade e determinação. Cada uma foi direcionada a um enfermeiro diferente. Freya, sempre calorosa e amigável, imediatamente começou a conversar com seu enfermeiro, tentando amenizar o clima tenso. Ksenia, por outro lado, permaneceu distante e reservada. O enfermeiro que a atendeu parecia preocupado, notando sua expressão séria e o leve tremor em suas mãos.

"Você está bem?" Ele perguntou, seus olhos cheios de preocupação. "Estou," Respondeu Ksenia, sua voz firme e indiferente. Ela estava acostumada a lidar com situações difíceis e não queria demonstrar qualquer fraqueza. O enfermeiro continuou a preparar os materiais para a coleta de sangue, lançando olhares preocupados para ela de vez em quando. "Tem certeza? Se precisar de algo, estou aqui para ajudar." Ksenia apenas assentiu, focando seu olhar em um ponto distante na parede. Não queria prolongar a interação mais do que o necessário. Para ela, confiar nos outros era um luxo que não podia se permitir. Quando o enfermeiro finalmente começou a retirada de sangue, Ksenia manteve-se impassível, como se aquilo não a afetasse de forma alguma. O enfermeiro, no entanto, não pôde deixar de notar sua frieza.

"Se começar a se sentir mal, por favor, avise-me," ele insistiu. E repetiu Ksenia, desta vez com um tom mais firme, deixando claro que a preocupação dele não era bem-vinda. "Estou bem," Ela queria que tudo aquilo acabasse logo, para poder sair dali e voltar para seu mundo seguro de desconfiança e solidão. O processo de retirada do sangue parecia demorar uma eternidade, mas Ksenia permaneceu estoica, recusando-se a mostrar qualquer sinal de desconforto. Quando finalmente terminou, o enfermeiro retirou a agulha com cuidado, aplicando um pequeno curativo no local.  Ksenia apenas assentiu, sem muita expressão. "Obrigada," Respondeu ela, sua voz monótona. Levantou-se da maca com cuidado, sentindo-se um pouco tonta, mas determinada a não mostrar nenhuma fraqueza. Ela agradeceu ao enfermeiro com um leve aceno de cabeça antes de se dirigir para a saída da tenda, onde esperaria por Freya.

Na saída da tenda, Ksenia observava os alunos ao redor, sua mente vagando enquanto tentava lidar com seus próprios pensamentos. Ela não confiava em ninguém, exceto talvez em Freya, mas mesmo com a irmã havia uma barreira invisível. A perda dos pais as havia afetado profundamente, cada uma lidando com a tragédia de maneiras diferentes. Freya, com seu coração aberto e generoso, sempre pronta para ajudar os outros. Ksenia, por outro lado, havia construído muros altos ao seu redor, tentando proteger-se de mais dor e sofrimento. Esperar por Freya parecia demorar uma eternidade. Ksenia estava impaciente, mas sabia que não podia apressar o processo. Quando finalmente viu a irmã se aproximando, um leve sorriso apareceu em seu rosto, um raro vislumbre de emoção.

"Você está bem?" Perguntou Freya, a preocupação evidente em sua voz. "Estou," respondeu Ksenia, sua expressão voltando a ser séria. "Vamos sair daqui." Freya assentiu, e juntas, saíram da tenda, deixando para trás o ambiente tenso e a experiência desconfortável da doação de sangue. Ksenia sabia que a vida continuaria a apresentar desafios, mas pelo menos tinha a certeza de que, apesar de tudo, ainda tinha Freya ao seu lado. E isso, de certa forma, era o suficiente para continuar em frente, mesmo em um mundo onde confiar nos outros era uma raridade.