Casa dos Gritos

Finalmente, o tão esperado fim de semana de saídas havia chegado. Eu mal conseguia conter minha empolgação. Era tarde, e o céu de Hogwarts estava com aquele tom cinzento que anunciava a chegada iminente do outono. A brisa gelada acariciava minha pele enquanto eu caminhava pelas ruas de Hogsmeade, lembrando-me de que, em poucas semanas, a neve de outubro cobririam tudo com seu manto branco. Eu adorava essa época do ano. A mudança nas estações trazia algo de nostálgico, como se o vento carregasse com ele antigas memórias e promessas de renovação. Os cheiros familiares de Hogsmeade me envolveram. O aroma doce de tortinhas de abóbora e o cheiro quente de cidra de maçã vinham das janelas do Três Vassouras. Sorri, tentando aproveitar aquele momento tão simples, mas, no fundo, uma tensão incomodava meu peito. Eu não estava ali apenas para aproveitar o passeio; havia algo mais. Algo que eu precisava fazer. O objeto de Rosalie.

Suspirei, sentindo a realidade pesar sobre mim. Aaron.... Eu sabia que teria que encontrá-lo, mas depois da nossa última conversa, eu não tinha certeza de como seria vê-lo novamente. As palavras que ele me dissera ainda ecoavam na minha cabeça, e por mais que eu quisesse agir como se tudo estivesse bem, a verdade era que eu não sabia o que sentir. Passei pelos estudantes que se espalhavam pelas ruas, rindo e conversando, todos empolgados por finalmente estarem fora dos muros de Hogwarts. Mas meus olhos estavam à procura de uma figura específica, o garoto moreno que, era uma das pessoas mais importantes da minha vida.  Continuei caminhando, os passos mais lentos agora. Sabia onde Aaron estaria. Ele sempre gostou de lugares mais afastados, onde pudesse ficar em paz com seus pensamentos. E eu sabia exatamente o lugar onde ele iria se esconder hoje.

A Casa dos Gritos. Aquela construção velha e afastada, sempre envolta em mistérios e histórias, parecia ser um refúgio para ele. Quando finalmente avistei a cerca que cercava a velha casa, lá estava ele. Aaron. Parado, observando a construção com um olhar perdido, como se estivesse à procura de algo... ou alguém. Meu coração apertou. Uma mistura de sentimentos me atingiu: pena, raiva e... amor. Sim, ainda havia amor ali, mas estava tão emaranhado com as outras emoções que eu mal conseguia distinguir onde começava um e terminava o outro. Respirei fundo, sentindo o frio do ar invadir meus pulmões enquanto me aproximava dele. Quando cheguei perto o suficiente, tentei falar antes que o peso do silêncio se tornasse insuportável. — O fantasma de Rosalie não vai estar aí, se é isso que você está pensando — Minha voz saiu firme, mesmo que dentro de mim eu estivesse desmoronando. Aaron se virou lentamente, como se tivesse sido pego de surpresa.

Seus olhos encontraram os meus, e por um breve segundo eu vi o choque em seu rosto. Mas ele rapidamente desviou o olhar, tentando disfarçar o que quer que estivesse sentindo. — Eu não estava pensando nisso... — Ele murmurou, a voz baixa, quase como se estivesse falando consigo mesmo. Era uma tentativa de se esquivar, de desviar da verdade. Eu sabia que ele estava mentindo, ou talvez simplesmente tentando evitar o confronto. Mas eu não estava disposta a deixá-lo fugir tão facilmente dessa vez. — Aaron... — Comecei, mas ele já estava começando a se afastar, como se quisesse ir embora. Senti o desespero crescendo dentro de mim. Eu não podia deixá-lo ir assim. Não agora. Antes que ele pudesse dar mais um passo, segurei seu pulso. Senti o toque frio do bracelete que ele sempre usava, aquele que eu mesma havia dado a ele tempos atrás. O metal gelado fez meus dedos tremerem, mas eu não soltei.

— Espera, por favor — Minha voz vacilou um pouco, mas continuei, mesmo com o nó se formando na minha garganta. — Eu sei que... que você pode não querer mais me amar. Eu entendo, e vou respeitar isso. — Minha garganta estava apertada, as palavras saíam entrecortadas pela dor que eu sentia, mas elas precisavam ser ditas. Eu precisava que ele soubesse. Aaron parou, mas não olhou para mim de imediato. Ele manteve os olhos fixos no chão, como se estivesse lutando contra algo dentro de si. Quando finalmente levantou a cabeça, vi o reflexo da mesma dor nos olhos dele. Aquilo me fez sentir como se uma faca estivesse atravessando meu peito.

— Adora... — Ele começou, mas eu o interrompi antes que ele pudesse terminar. Enquanto eu falava, segurava o pulso de Aaron, sentindo a frieza do bracelete em minha mão — Eu só quero... que você permita que a gente seja amigos. Eu te amo, Aaron, e não é só... não é só o amor romântico. Eu amo a nossa amizade. Sempre amei. E eu... eu não quero perder isso também. — Enquanto eu continuava a falar, tentando não chamar atenção para o que minhas mãos estavam fazendo, comecei a mexer sutilmente no fecho. Meu coração disparou. O bracelete, embora sempre parecesse firmemente preso, estava um pouco frouxo naquele dia, talvez um sinal de que ele nem sempre o apertava como antes. Lentamente, com a maior delicadeza possível, consegui destravar o fecho, puxando-o para fora do pulso dele. Aaron não pareceu notar. Seus olhos ainda estavam voltados para o chão, a respiração pesada, como se estivesse processando tudo o que havíamos dito.