Banheiro dos Monitores

O corredor estava frio e silencioso, estava escorado na parede, braços cruzados, deixava a cabeça descansar contra a pedra, não conseguia parar de pensar em Laura, de modo que meu rosto quase se inclinava para um sorriso, algo que eu evitava devido à seriedade da situação, claro, ainda tinha Anastasia e Eleanor, o que realmente tornava tudo mais sério, Kiara estava ao meu lado, nervosa, mas seu humor era uma mistura de apatia e exaustão, estava inquieta, enquanto eu permanecia perdido em pensamentos, então a voz dela me puxou de volta à realidade quando senti um tapa na minha cabeça.

Soltei um riso seco. Isso é o melhor que me aconteceu o mês inteiro... Falei, sem me importar com o que vinha a seguir, claro, não era verdade, mas ainda estava longe de tudo ser perfeito, mas o principal era que não acreditava que ela iria me machucar na verdade. Se uma possível morte me encontrar hoje ótimo. O segundo tapa veio mais forte e me fez encará-la de verdade, podia ver que ela estava se segurando para não me dar mais uns socos. Antes que eu pudesse responder, a diretora apareceu, interrompendo nossa discussão, Alexis nos cumprimentou com aquele jeito rígido dela e acenou para que entrássemos no banheiro dos monitores, ao entrar o lugar estava completamente diferente do que eu lembrava. A banheira tinha sido substituída por uma enorme piscina de água cristalina, naquele momento algo no fundo do meu estômago se revirou, mesmo sabendo o motivo de estar ali ainda assim dava certo grupo na barriga.

Fiquei parado, observando enquanto Kiara hesitava, a diretora não disse uma palavra, apenas a encarava, como se estivesse esperando algo, me aproximei dela. Acho que ela quer que você entre na água... Kiara engoliu em seco e, então, para minha surpresa, pulou direto na piscina com a roupa e tudo, a transformação foi instantânea, algo surpreendente de se ver, o corpo dela mudou, ficando com uma tonalidade lavanda, os olhos ganharam um tom de roxo profundo, e o ar ao redor ficou tenso, mas o que mais me incomodava era o silêncio, aquele olhar predador que ela começou a lançar, estava ainda mais desconfortável, tentei não mostrar, mas o medo crescia conforme via o rosto dela se transformar em algo... Diferente.

Antes que eu pudesse entender a gravidade da situação, a diretora me empurrou para a piscina, o choque gelado tomou conta de mim, fazendo meus músculos se contraírem e meu coração acelerar, tentei me concentrar, mas o pânico começou a se instalar quando percebi que Kiara já se aproximava de mim com uma velocidade sobrenatural, olhei em seus olhos e o que vi não era mais a amiga que conhecia, mas uma criatura distorcida e faminta, perdida em um abismo de desejos obscuros. Não tinha tempo para raciocinar, Kiara se atirou sobre mim como um predador, suas garras rasgaram minha pele, causando uma dor agonizante, o grito que queria soltar se transformou em um turbilhão de bolhas na água, a realidade se distorcia em torno de mim enquanto as ondas de desespero me puxavam para baixo, meus pulmões se encheram de água e o frio invadiu meu corpo, misturando-se ao calor do sangue que escorria.

A mordida veio como uma explosão de dor, penetrando minha carne, a sensação de seus dentes cravando-se em meu pescoço era uma mistura de fogo e gelo, um grito silencioso que ecoava em minha mente, tentei lutar, mas era como tentar mover-se em um pesadelo, cada movimento se tornava mais difícil, mais pesado, enquanto as garras dela se aprofundavam em minha pele, arrastando-me para as profundezas. O pânico tomava conta de mim, o que eu considerava ser a força de Kiara agora se mostrava como um monstro que não conhecia limites, o gosto de sangue invadiu minha boca, a água ao nosso redor se tingiu de vermelho, como se estivesse respondendo ao meu desespero, queria gritar, mas a água engolia meu som e cada vez que tentava respirar, mais líquido preenchia meus pulmões, o que restava de minha resistência se dissolvia e a escuridão começou a envolver minha visão.

O horror da situação se intensificava com a certeza de que não conseguiria escapar, ela não ia parar, senti o desespero crescer, uma onda avassaladora me arrastando para baixo, enquanto meus pensamentos giravam em torno da ideia de que, naquele momento, a única coisa que eu queria era a liberdade. Uma parte de mim ainda queria acreditar que ela era a Kiara que conhecia, mas a verdade me atingiu como um golpe, ela estava decidida a me devorar, o ar estava desaparecendo e, com ele, qualquer esperança, em um último ato de desespero, tentei alcançar a superfície, meus braços se movendo de maneira frenética, mas a força de Kiara era esmagadora, o calor da vida estava se esvaindo e cada segundo que passava me afastava do mundo que conhecia, naquele momento somente uma coisa passava pela minha cabeça, não queria morrer assim, afogado nas garras de alguém que deveria ser um amigo.

Então, tudo aconteceu rápido demais, Dorian pulou na água, o grito de Alexis ecoou pelo espaço e, de repente, eu estava sendo erguido, tirado da piscina, com os olhos marejados de água e dor. Dorian me envolveu e, quando ele me puxou para fora, tudo ficou embaçado, ouvi Alexis falar algo sobre levarem-me para a enfermaria, mas eu não conseguia focar em nada além do que tinha acabado de acontecer, com uma última visão do mundo acima, envolto em sombras, meu corpo cedeu. A consciência começou a me abandonar, e antes que tudo ficasse completamente escuro, um pensamento solitário me atingiu... Eu tinha falhado... Falhei em me salvar, falhei em ajudar Kiara, falhei na minha promessa de proteger Laura e, então, como um eco distante, tudo se apagou.