Banheiros

Eu a segui durante todo o trajeto, mantendo uma distância segura, como se fosse parte do cenário daquela tarde que começava a se tingir com as cores do pôr do sol. Me movia com cautela, cuidando para que ela não percebesse minha presença. Não era a primeira vez que eu a observava sem ser notado, mas hoje, havia uma urgência. Amelie e aquele homem... Algo sobre aquilo não parecia certo, e se Regan sabia de algo, eu precisava descobrir. Revirei os olhos quando a vi entrar no banheiro. Sério? Um banheiro? Claro, o pior lugar para uma conversa, mas era o que me restava. Tive que pensar rápido. Entrar sem levantar suspeitas. Fingi normalidade, caminhando até a pia. Não podia parecer que a tinha seguido, então lavei as mãos... ou pelo menos fiz o gesto. O som da água corrente preenchia o silêncio do banheiro. Minhas mãos passaram debaixo da torneira como se realmente precisassem ser lavadas, mas minha atenção estava completamente na porta da cabine fechada à minha esquerda.

Foi então que a porta rangeu suavemente e Regan apareceu. Seus olhos se arregalaram ao me ver, e eu soube que a surpresa era genuína. Um sorriso se formou no meu rosto quase que por reflexo. Não era o momento, mas eu adorava vê-la assim, pega desprevenida. Ela não esperava me ver ali, isso era óbvio. Oi, Regan Eu disse, direto, sem rodeios. Sabia que ela odiava enrolação, pude ver o medo passar brevemente por seus olhos. Você estava fugindo daquele homem com quem Amelie estava conversando? Nao é?  A expressão dela mudou instantaneamente. Seus ombros, que já estavam tensos, ficaram ainda mais rígidos. Ela estava nervosa. Não respondeu de imediato, o que só aumentou minha certeza de que eu estava no caminho certo. Girei o corpo um pouco em sua direção, mantendo um sorriso malicioso nos lábios. O nervosismo dela só me incentivava mais.

O que foi?  Você teve um caso com ele, não foi? E agora tem medo de que a escola inteira descubra? Começando por Amelie... Insisti, me aproximando devagar. O olhar que ela me lançou foi de pura frieza. Por um momento, achei que tinha ido longe demais. Antes que eu pudesse reagir, Regan me puxou pela gravata com uma força surpreendente e me arrastou para dentro da cabine, fechando a porta atrás de nós com um estalo seco. O espaço era apertado, o vaso ocupava boa parte do chão, e eu me vi encurralado, com nossos corpos quase colados. Não era exatamente como eu tinha imaginado, mas o prazer que sua beleza causava tao de perto, era inegavel. Regan estava perto demais, e embora eu fosse bom em controlar minhas expressões, não consegui evitar sentir um leve nervosismo. Ela me encarou com aqueles olhos azuis afiados, sua voz carregada de uma mistura de raiva e curiosidade. O que você quer com essas perguntas, Derek? Engoli em seco, mas mantive o sorriso. Não podia mostrar fraqueza. Eu era o mestre das palavras, sempre sabia como virar uma situação a meu favor.

Eu quero te ajudar, Regan. Não gosto de ver Amelie conversando com um adulto daquele jeito. E talvez eu possa te ajudar a separar os dois.— Aproximei mais o rosto do dela, mantendo o tom baixo, íntimo enquanto eu mentia descaradamente. Ela não piscava, os olhos fixos nos meus, avaliando cada palavra. O ar entre nós parecia mais denso, e eu percebia a tensão que crescia no pequeno espaço da cabine. Continuei. Se você gosta dele.... Eu posso te ajudar. Podemos impedir que a coisa saia de controle. Disse, colocando ênfase nas palavras  Fiz uma pausa, permitindo que minhas palavras flutuassem no ar por um momento antes de prosseguir. Prometo que  fica só entre nós dois. Não vou te julgar por gostar de caras mais velhos. Ela ficou em silêncio por um instante, e a sensação de que eu estava pisando em terreno perigoso se intensificou. Regan não era do tipo que recuava facilmente. Eu sabia que estava cutucando algo delicado, mas não podia parar agora.

Senti meu coração disparar enquanto Regan estava tão perto, sua presença era ao mesmo tempo inebriante e perturbadora. Uma parte de mim queria seguir em frente, explorar esse momento e o desejo que ardia dentro de mim. Mas outra parte, mais racional e consciente, estava presa a memórias que eu não conseguia ignorar. Kiara. O nome dela ecoava na minha mente, quase como um mantra. Imagens dela vinham à tona, momentos que pareciam agora tão distantes, mas que ainda doíam. Os beijos que trocamos, os sorrisos compartilhados, os segredos sussurrados sob a luz da lua. Era uma dor confusa, porque, ao mesmo tempo que eu estava ali, prestes a me perder em Regan, eu sabia que isso poderia me machucar ainda mais. Eu pensava em como seria traiçoeiro fazer isso com ela, enquanto a imagem de Kiara se desenhava na minha mente.

E, como se a vida quisesse me atormentar, lembrei-me de Kiara beijando Nicholas, depois Theodore, e, em seguida, Sebastian e Daniel. Agora, aparentemente, ela estava interessada em Jordan. A ideia de que ela poderia estar se divertindo enquanto eu aqui me debatia entre o desejo e a culpa era insuportável. O ódio e o desejo se entrelaçavam em mim, criando um turbilhão de emoções. Mas eu não podia deixar Regan ir. Não agora. Queria mostrar que não me importava com as escolhas de Kiara, que eu era imune às suas ações. E, nesse pensamento, um sorriso provocante se formou nos meus lábios enquanto olhava nos olhos de Regan. Você realmente acha que eu seria louco de negar isso? Afirmei, deixando que a confiança irrompesse em minha voz, enquanto a intensidade do momento crescia entre nós. O desejo crescia, pulsante, e eu não podia mais hesitar.

Com um movimento rápido, me inclinei para ela e a beijei. Era um beijo carregado de uma mistura de emoções: desejo, frustração, uma vontade de me vingar de Kiara por todo o meu sofrimento. O toque dos meus lábios nos dela foi explosivo. Eu a puxei para perto, sentindo o calor do corpo dela colar ao meu, as curvas dela se encaixando perfeitamente em mim. Enquanto a beijava, minhas mãos exploraram seu corpo com uma audácia que eu não sabia que possuía. Não havia pudor, apenas a necessidade de sentir cada centímetro dela. O beijo era doce, maravilhoso, e, à medida que nos perdíamos um no outro, eu me surpreendi com a leveza do toque dela. Era como se o mundo ao nosso redor desaparecesse e só existisse eu e Regan.

Afastei-me levemente, ofegante, buscando ar, enquanto os olhos dela brilhavam com um sorriso que deixava meu coração acelerar ainda mais. Ela se aproximou, beijando meu pescoço com uma suavidade que me fez arrepiar inteiro. Era um toque tão íntimo e tão inesperado, como se cada beijo fosse uma promessa silenciosa. Fechei os olhos, permitindo que a sensação me envolvesse e, por um momento, tentasse esquecer Kiara. Mas a verdade era que, por mais que eu quisesse me perder naquele momento, a sombra de Kiara ainda pairava sobre mim. A dúvida e a confusão se entrelaçavam com o desejo, e eu lutava contra a vontade de pensar na garota que eu amava. Será que isso era certo? Será que eu poderia seguir em frente com Regan, mesmo que Kiara ainda ocupasse uma parte tão significativa da minha vida?

Regan, percebendo minha hesitação, afastou-se um pouco, olhando nos meus olhos com uma intensidade que me fez sentir exposto. O sorriso dela estava lá, mas havia algo mais, como se ela pudesse sentir a batalha interna que estava se desenrolando dentro de mim. Decidi que era melhor não fraquejar. Ao invés disso, me inclinei novamente, pressionando meus lábios nos dela, querendo me perder em sua doçura mais uma vez. O beijo que trocamos estava mais carregado agora, como se toda a confusão que eu sentia pudesse ser dissolvida naquele toque. Eu queria deixar de lado o peso de Kiara e tudo o que ela significava. Em vez disso, concentrei-me em Regan, em como ela se movia sob minhas mãos, como seus lábios se moldavam aos meus.

Regan puxou-se para trás novamente, e eu a observei com uma mistura de desejo e confusão. Ela era maravilhosa, atraente e me fazia sentir coisas que eu não havia sentido em muito tempo. O sorriso dela iluminava o espaço apertado da cabine do banheiro e, naquele momento, percebi que, mesmo que eu não pudesse esquecer Kiara, talvez eu pudesse me permitir experimentar algo novo. O que você quer de mim, Regan? Perguntei, minha voz um pouco mais rouca do que eu esperava. Ela olhou para mim, e por um momento, o sorriso dela aumentou. Ela se inclinou mais uma vez, seus lábios toparam com os meus em um beijo cheio de intensidade.