Sala do Vice-Diretor

They say that misery loves company

Eu estava sentada em minha sala, as paredes repletas de livros antigos e quadros que contavam histórias de tempos passados. Mas, naquele momento, nada disso importava. Minhas mãos tremiam enquanto seguravam o pequeno pergaminho, ainda úmido, que acabara de sair da minha boca após beber a poção. O resultado estava ali, gravado em letras inconfundíveis: positivo. Meu coração parecia martelar em meus ouvidos, e senti como se o chão estivesse prestes a desabar sob meus pés. Eu estava grávida. A palavra ecoava em minha mente, trazendo consigo uma onda de emoções conflitantes. Como isso podia ter acontecido? E, mais importante, quem era o pai? Meu pensamento imediatamente voltou àquela noite fatídica, em que eu havia sido afetada por uma poção estranha, uma mistura que não deveria ter sido consumida. Tudo estava nebuloso na minha mente, flashes de memórias turvas que não faziam sentido. E se o pai não fosse Robert? Aquele pensamento era como um veneno correndo pelas minhas veias. Eu sabia que algo havia acontecido, Adrien que estava comigo naquela noite mas Robert tambem esteve comigo na mesma noite.

Eu estava à beira do desespero, tentando juntar os pedaços daquela noite, quando um som abrupto me trouxe de volta à realidade. Alguém estava batendo na porta, com pressa, quase com desespero. Imediatamente, escondi o pergaminho em uma das gavetas da minha escrivaninha e tentei controlar minha respiração. Quem quer que fosse, não podia saber sobre minha situação. Entre  Disse, tentando soar firme. A porta se abriu rapidamente, e Regan entrou apressada, seus olhos amplos e cheios de pânico. Ela mal esperou que eu dissesse algo antes de começar a falar, as palavras saindo de sua boca em uma torrente de desespero.  Vice-diretora Emily, algo terrível está acontecendo! Alguns alunos… eles descobriram… eles estão nas masmorras, no jardim… o Jardim de Salazar! A última frase saiu em um sussurro desesperado, como se até mesmo mencionar aquele lugar fosse um tabu.

Meu coração, que já estava em tumulto, pulou outra batida. O Jardim de Salazar? Como eles poderiam ter descoberto? Aquilo era um segredo que eu pensava estar enterrado no passado, um lugar perigoso, repleto de armadilhas e segredos que ninguém deveria acessar. Lembrei-me de quando Robert o usou, logo após a guerra, para esconder Circe. Eu só soubera de sua existência porque Robert, em um momento de confiança, havia me revelado parte dos seus segredos obscuros. Como eles descobriram esse lugar? Perguntei, surpresa, mas tentando manter a calma. Eu precisava entender a gravidade da situação antes de agir. Regan continuava nervosa, sua respiração ofegante enquanto ela tentava me explicar.

Eu… não sei ao certo… ouvi de outros alunos, um rumor se espalhou… mas o que importa é que eles estão lá! Estão tentando entrar no Scriptorium de Salazar. — Ela fez uma pausa, como se o próprio nome fosse algo proibido. O Scriptorium de Salazar. Aquela sala em particular era um dos lugares mais perigosos de toda a escola, cheia de armadilhas mortais e feitiços antigos, que poderiam destruir qualquer um que tentasse entrar sem o devido conhecimento. Saber que alunos estavam tentando acessar aquele lugar era um pensamento aterrorizante. Eu sabia que precisava impedi-los, mas o que me deixou ainda mais nervosa foi o nome que Regan mencionou em meio à sua explicação: Aaron esta lá!

Minhas mãos apertaram o braço da cadeira, ao ouvir o nome de Aaron sair dos lábios de Regan. Aaron... meu filho. Ele também esta lá? Quem mais está com Aaron? Ela começou a citar alguns nomes, mas era como se o mundo ao meu redor tivesse ficado mudo depois de ouvir o nome de Aaron. Era como se tudo se apagasse, exceto pela certeza de que meu filho estava caminhando para um perigo indescritível. O Scriptorium era perigoso, uma armadilha que poderia devorar qualquer um que ousasse se aventurar lá. Eu sabia disso, talvez mais do que qualquer outro. Levantei-me rapidamente, minha mente já trabalhando a mil. Precisava impedir que eles acessassem aquela sala. Acontecesse o que acontecesse, não deixaria Aaron ou qualquer outro aluno cair nas garras de quem estava tentando entrar.

Regan, vá até a diretora. Conte a ela o que me disse. Não perca tempo. Minha voz soava fria e determinada, mas dentro de mim, o pânico estava crescendo. Eu irei impedir que eles entrem. Ela hesitou por um momento, sem entender completamente o que eu estava prestes a fazer, mas assentiu e saiu correndo, deixando-me sozinha na sala novamente. Mas não por muito tempo. Eu sabia o que tinha que fazer. Havia um caminho. Um caminho que eu tinha descoberto anos atrás, um segredo que minha mãe havia me revelado. Um acesso pela Floresta Proibida que levava diretamente ao Scriptorium. Era um atalho que eu nunca imaginei que teria que usar, mas agora, parecia a única chance de chegar lá antes deles.

They say that misery loves company

O som irritante das minhas unhas raspando na madeira da escrivaninha ecoava pela sala, mas mal percebia. Meu olhar estava fixo nas páginas do Profeta Diário, os olhos queimando com a raiva que se acumulava desde que vi a manchete. "Emily Rob Watsgrint, esposa do Ministro da Magia, é exposta como responsável pelo assassinato brutal de Jack Watsgrint, desafiando a moralidade e a integridade do Ministério da Magia." Li a frase várias vezes, mas isso não diminuía a fúria. Pelo contrário, a cada repetição parecia me corroer mais profundamente.

Rangia os dentes, a mandíbula apertada a ponto de doer. Aqueles malditos jornalistas. Malditos! Ah, se eu pudesse… Se eu pudesse, desceria ao inferno, arrancaria Jack de onde quer que ele estivesse – seja no abismo que merece ou nas chamas eternas – só para matá-lo de novo. Com prazer. Com um sorriso no rosto. Mas a imprensa não precisava saber disso. Não importava quantas vezes eu tentasse manter tudo sob controle, essas histórias continuavam a me cercar, a envolver minha vida como uma teia venenosa. Primeiro era sobre mmeu filho, depois sobre meus pais e sobre mim, e agora isso. A sensação de sufocamento era quase insuportável. A ira era uma constante companhia, mas naquele momento, se intensificava, queimando mais ferozmente dentro de mim.

Um barulho. O som da porta se abrindo bruscamente me tirou dos meus pensamentos, e nem precisei olhar para saber quem era. Somente uma pessoa se atrevia a entrar sem bater. Adrien, quantas vezes eu já disse para bater antes de entrar? Murmurei com desdém, sem levantar os olhos do jornal. Ele entrou, como sempre, sem se importar com a minha reclamação. Adrien sempre teve esse jeito despretensioso e irritante. Como se tudo fosse uma grande piada, como se as minhas regras não importassem para ele. O que achou da decisão da Diretora? Perguntou ele, ignorando meu humor sombrio. Eu podia ouvir o tom despreocupado em sua voz, o que só me irritou ainda mais. Claro que ele estava tranquilo. Adrien sempre estava tranquilo, enquanto minha vida desmoronava aos poucos sob o peso de cada nova notícia e acusação.

Larguei o jornal na mesa com um gesto brusco e finalmente o encarei. O que voce acho que eu achei? Respondi com sarcasmo, minhas sobrancelhas arqueadas. Era óbvio o que eu pensava. Como se eu fosse aceitar qualquer decisão que não envolvesse expulsão. Qualquer coisa menos que isso era uma ofensa pessoal. Ela deveria ter expulso aqueles alunos. O que fizeram com o meu filho é inadmissível. Minha voz era fria, carregada de veneno.  Adrien sorriu. Aquele sorriso casual que ele sempre me lançava quando tentava manipular as coisas. Como se meu desespero e raiva fossem um pequeno inconveniente a ser ignorado ou suavizado com uma provocação. O desvio dos meus olhos foi quase automático, não suportando o jeito como ele tentava sempre manter tudo leve, mesmo quando o caos estava à beira de me consumir.

Nosso filho e... Não sei o que você esperava daquela diretora, Ele comentou casualmente, encolhendo os ombros enquanto se aproximava da minha mesa Desviei o olhar para a janela por um momento, minha mente girando com a avalanche de pensamentos. Eu esperava o certo vindo de alguem que veio para te substituir. Se dependesse de mim, eles nunca mais pisariam nesta escola. Expulsão é o mínimo. Eu disse como um rosnado mas Adrien nao parecia indiferente a minhas indiretas.  O que eles fizeram ao meu filho… Nunca seria perdoado. Nunca. O olhar sofrido de Aaron no hospital, as marcas, as feridas… Eu teria ido além da expulsão se pudesse. Mas, enquanto minha raiva se misturava à indignação, senti outra emoção se arrastar para dentro de mim. Uma que eu não queria admitir. Uma que estava crescendo a cada dia e que eu não sabia como lidar. Meu olhar se desviou para Adrien novamente, desta vez com uma hesitação que eu não costumava sentir.

Por um segundo, me perguntei se deveria contar a ele. Contar que estava grávida. Não era algo que se encaixava nesse momento e eu não queria que ele fosse o pai. Não podia querer, mas a pressão de guardar esse segredo começava a pesar. Adrien chamou minha atenção novamente, me puxando de volta para a realidade.