Sala Secreta

Quando mencionei meus pais biológicos vi o choque se espalhar pelo seu rosto, seus olhos se enchendo de lágrimas silenciosas, mesmo assim, ela me ouviu, sem interromper, apenas absorvendo o peso de cada palavra, meu peito apertou ainda mais ao ver suas lágrimas caírem, uma parte de mim queria alcançá-la naquele momento, mas eu continuei, ela precisava saber, precisava entender por que eu havia me afastado, não como uma desculpa, mas como uma verdade que eu tinha guardado por tempo demais. Quando ouvi o suspiro de Eleanor, soube que ela estava certa, ela sempre soube como me ver pelo que sou, pelas minhas falhas, pelas minhas tentativas desesperadas de me esconder atrás de muros que eu mesmo construí e ver o sofrimento em seus olhos, o impacto das minhas palavras, me fez sentir um nó no estômago, ela tinha razão em me atacar, em ficar chateada, a deixei de fora, sem explicações, presa na incerteza enquanto eu me perdia no caos das minhas próprias emoções.

Quando finalmente terminei de falar Eleanor deu um passo à frente e me envolveu em um abraço apertado, seus braços ao redor de mim, como se estivesse tentando me manter ancorado ao chão, foi um gesto inesperado e, por um momento, hesitei, mas então senti o calor do seu toque e todo o peso acumulado no meu peito começou a diminuir lentamente, retribuí o abraço apertando-a contra mim, sentindo o conforto que ela sempre soube oferecer tão bem. Ela falou de maneira tão calma e compreensiva, suas mãos acariciando meu rosto, que senti uma onda de emoção tomar conta de mim, ela queria ter estado ao meu lado, queria ter me ajudado a enfrentar tudo isso e uma parte de mim lamentava profundamente não tê-la deixado entrar antes, quando ela pegou minha mão e falou sobre a minha história, sobre eu decidir quem eu queria ser daqui para frente, algo dentro de mim começou a se desmanchar.

Estava tão acostumado a carregar o fardo da raiva, da culpa e da incerteza que ouvir aquelas palavras foi estranho e libertador, ver a sinceridade e a força em seus olhos, quando ela me lembrou da promessa de sempre sermos verdadeiros um com o outro, me fez perceber o quanto eu estava me escondendo, ela não queria perfeição, ela queria a verdade, por mais dura que fosse e eu queria dar isso a ela, ela merecia isso. Mas quando ela disse que era minha um turbilhão de emoções se chocou dentro de mim, uma parte de mim sentia medo de feri-la novamente, mas outra parte... Outra parte apenas queria se render, queria parar de pensar, parar de analisar cada detalhe e simplesmente me deixar levar.

Sem mais delongas, fechei a distância entre nós, segurando seu rosto com firmeza, e então a beijei, havia um momento de hesitação ali, um receio de como ela poderia reagir, mas assim que senti sua boca responder à minha, tudo desapareceu, o beijo era urgente, intenso, como se cada parte de mim estivesse tentando compensar todo o tempo que passamos separados, ela respondeu com a mesma intensidade e isso apenas alimentou a chama que crescia dentro de mim, quando nos separamos nossos rostos ainda próximos, nossos olhos se encontraram e, naquele olhar, percebi que talvez, apenas talvez, houvesse uma chance para nós, uma chance de construir algo novo. Soltei um suspiro, sentindo o peso de tudo que estava em cima de mim começar a se dissipar. Então somos apenas nós... Disse com um sorriso, me afastei dela e peguei a caixa com o que restava da minha antiga vida, o símbolo dos fantasmas que eu carregava, olhei para Eleanor e, sem dizer mais nada, deixei a sala, puxando-a junto comigo, podia não ter ideia do que viria a seguir mas, naquele momento, estava disposto a descobrir e, desta vez, ao lado de Eleanor.