Corredores das Masmorras

Caminhava pelos corredores das masmorras, as paredes de pedra imponentes ao meu redor parecendo ressoar a cada passo que eu dava. O eco de meus próprios passos era um lembrete constante da solidão que eu tentava ignorar, como se fosse parte da rotina diária que eu havia aprendido a suportar. Com a cabeça erguida e a postura firme, eu vestia minha máscara de confiança inabalável, aquela que tanto me esforcei para construir. A cada olhar que cruzava o meu, eu respondia com o mínimo de reação possível, uma muralha que ninguém, nem mesmo eu, ousava atravessar.

E então, eu a vi. Amélie. O mundo ao meu redor pareceu se condensar em um único ponto. O rosto dela me trouxe de volta as palavras de Vincenzo, afiadas como uma faca que cortava através de minha mente. Meu estômago apertou como se uma pedra estivesse assentada ali, pesada e incômoda. A raiva brotou em mim com uma força avassaladora, uma fúria confusa que não parecia fazer sentido. Não era sobre as escolhas dela... Não, eu não deveria me importar. Mas a conexão de Amélie com Vincenzo era um veneno, e eu sentia cada gota correndo por minhas veias. Aquilo corroía minha pele, minha alma, de uma maneira que eu mal conseguia suportar. Era como se a vergonha estivesse alojada em meu peito, pronta para explodir a qualquer momento. O que ele tinha dito, o que Ethan havia feito, tudo isso girava em minha mente, mas o pior era o fato de que agora, ali, depois de tudo, eu só conseguia pensar em Amélie.

Eu precisava sair dali. Não queria vê-la, não podia encará-la naquele momento. Virei as costas, pronta para me afastar, mas antes que pudesse dar outro passo, senti suas mãos segurarem meu braço. Amélie me forçou a parar, e de repente, eu estava presa, pressionada contra a parede. Seu olhar preocupado, penetrante, estava fixo em mim, buscando algo, esperando uma resposta que eu não sabia se estava disposta a dar. Ela perguntou o que estava acontecendo, o tom dela era firme, mas gentil, como se tentasse alcançar alguma parte de mim que estava sufocada sob camadas de raiva e dor.

Não é da sua conta! Murmurei com os dentes cerrados, tentando afastar a culpa e o turbilhão de emoções que começavam a me engolir. Amélie franziu o cenho, insistindo com o olhar, perguntando, preocupada comigo, e foi nesse momento que senti as defesas que havia construído começarem a desmoronar. Estava cansada, tão exausta. Minha alma estava sobrecarregada de uma maneira que eu mal conseguia descrever. Então, sem aviso, tudo o que eu segurava com tanta força transbordou. O grito saiu da minha garganta antes que eu pudesse detê-lo. Você dormiu com ele! Com Vincenzo! De todos, logo com ele!

As palavras ecoaram pelas masmorras como um trovão, o som delas me atingindo com mais força do que qualquer outro. A dor estava cravada em cada sílaba, uma dor que eu não conseguia mais esconder. As lágrimas brotaram, quentes, escorrendo pelo meu rosto, enquanto eu me despedaçava ali, diante dela. Você não tinha esse direito! Minhas palavras vinham agora como um jorro contínuo de desespero. Não tinha o direito de ficar com ele, não com ele, Amélie! A acusação saiu de meus lábios como veneno, e com cada frase, a raiva que eu sentia se transformava em uma tristeza profunda, um desespero que parecia não ter fim. Eu sabia que isso não tinha a ver só com Vincenzo, não era apenas sobre ele.

A dor mais profunda estava nas palavras que vinham a seguir, que mal consegui pronunciar. Não com quem matou a minha mãe! Minha voz se quebrou em um sussurro, quase inaudível, mas o peso dessas palavras me atingiu com toda a força possível. O mundo ao meu redor parecia desmoronar, e com ele, qualquer vestígio de controle que eu ainda pudesse ter. Senti minhas pernas fraquejarem, e, incapaz de sustentar o peso de minha própria dor, me ajoelhei no chão frio. O choque da pedra contra minha pele era um contraste com o calor que ainda ardia em meu peito, mas aquilo pouco importava agora.

As lágrimas caíam livremente, e eu sabia que não havia mais como esconder o que eu estava sentindo. A máscara que eu usara por tanto tempo havia se quebrado completamente. Ali, no chão das masmorras, eu me sentia exposta, frágil, como nunca havia me sentido antes. O peso da dor que eu carregava era maior do que eu podia suportar. Eu não era mais a Isabella que tanto me esforcei pra ser. Era apenas uma garota perdida, afogada em sua própria dor, encarando uma realidade que parecia impossível de suportar.

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As palavras de Amélie ressoavam no meu peito, mas, em vez de trazer algum consolo, pareciam intensificar a dor que eu sentia. Seu arrependimento, suas explicações, nada disso parecia capaz de acalmar a tempestade que se formava dentro de mim. Eu estava tão profundamente ferida que as palavras dela se misturavam em um mar de confusão e tristeza. O sentimento de traição era avassalador, uma dor tão intensa que eu não sabia como lidar.

Lágrimas continuavam a escorrer pelo meu rosto, e eu não conseguia parar de chorar. O choro era quase catártico, mas também um grito silencioso de dor e frustração. Cada lágrima que caía parecia carregar um peso imenso, como se eu estivesse descarregando um oceano de emoções reprimidas que finalmente haviam transbordado. A sensação de traição era como um veneno que se espalhava por cada parte do meu ser, corroendo tudo por dentro.

Após um tempo, a tempestade começou a se acalmar um pouco. Respirei profundamente, tentando recobrar um pouco do controle que havia perdido. Levantei meus olhos, encontrando os de Amélie com um olhar intenso e fixo. A dor ainda estava lá, mas agora havia um fio de determinação. Eu precisava de uma resposta, precisava entender algo que não fazia sentido para mim. Mudaria algo se você soubesse? Ou você ainda se entregaria a Vincenzo? Amélie parecia surpresa, seu olhar vacilou por um momento. Ela hesitou, como se a pergunta a tivesse pegado de surpresa, e eu a observei com um olhar penetrante, procurando qualquer sinal de sinceridade ou dúvida.

Quando ela não respondeu imediatamente, dei um sorriso seco, um sorriso que era mais uma máscara de dor do que um sinal de verdadeira alegria. Com dificuldade, me levantei, afastando as mãos de Amélie de mim. A sensação de rejeição que eu sentia parecia se solidificar, e eu sabia que aquilo respondia a tudo. Era um desfecho inevitável. Isso responde a tudo. Eu me virei para sair, mas a voz de Amélie cortou o ar, sua pergunta soando como um grito desesperado. O que você quer que eu faça?

Eu a encarei, meu olhar fixo nos dela. Meu coração ainda estava em pedaços, e eu sabia que as palavras que eu estava prestes a dizer eram as mais duras e verdadeiras. Se o que ela sentia era real, se havia realmente arrependimento em suas palavras, então ela precisava ouvir o que eu tinha a dizer. Se o que você sente é real... Eu comecei, minha voz firme apesar da dor. Então nunca mais se aproxime do monstro que Vincenzo é. Eu gostava de Amélie, a imagem dos dois juntos parecia viva demais em minha mente, mesmo que eu não tivesse visto nada.

O que eu sabia era que eu não podia suportar a ideia de ver alguém que eu ainda considerava próximo se envolvendo com alguém como Vincenzo. Olhei para ela, meu tom era mais firme agora, quase desafiante. Você é capaz de fazer isso? Perguntei, a intensidade do meu olhar revelando a profundidade da minha dor e a seriedade do meu pedido. O silêncio que se seguiu foi pesado, carregado de uma tensão que parecia palpável. A resposta que eu esperava não viria facilmente, mas eu precisava saber se ela era realmente capaz de se afastar de tudo que havia causado tanta dor.

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