Os últimos dias tinham sido um verdadeiro inferno, a descoberta da traição de Emily era uma dor que perfurava minha alma a cada pensamento, não conseguia acreditar que ela tinha feito aquilo, que tinha se envolvido com Adrien, aquele maldito, desde o dia em que descobri a traição e enfrentei Adrien tudo parecia um pesadelo sem fim e, para piorar, minha doença parecia progredir sem qualquer controle ou resposta ao que quer que fazia e ninguém tinha qualquer informação a respeito, já havia enviado cartas para todos que conhecia em busca de respostas mas nada. Encarei a pilha de pergaminhos em minha mesa, embora sentisse o peso do mundo sobre meus ombros, o peso da responsabilidade, sabia que minha cabeça não estava boa para nada, para nenhum daqueles documentos, não naquele momento, respirei fundo massageando o cenho, o desejo de vingança contra Adrien me consumia e estava disposto a ir até qualquer limite para fazê-lo pagar.

Olhei ao redor da sala, tentando encontrar alguma forma de distração mas meus olhos se fixaram em uma foto na minha mesa, era uma foto minha com Emily, sorrindo, em tempos mais felizes, tempos melhores, a visão dela me encheu de um ódio tão intenso que, sem pensar, abaixei e peguei a foto e, com um grito de frustração, arremessei-a com violência contra a parede, o vidro estilhaçou-se, espalhando cacos pelo chão, soltei um suspiro pesado, sentindo o gosto amargo da derrota na boca, então abri a gaveta da mesa, retirando um copo e uma garrafa de whisky, servi-me uma dose generosa, observando o líquido âmbar com olhar vazio antes de beber, o álcool desceu queimando, mas era uma dor bem-vinda, uma que eu podia controlar, servi outro copo, tentando silenciar os pensamentos que martelavam em minha mente. Ela nunca mereceu minha lealdade... Murmurei para mim mesmo, a voz ecoando na sala vazia. Adrien pagará caro por isso.

Bebi mais um gole, sentindo o álcool começar a fazer efeito, mas a raiva e a tristeza ainda estavam lá, latentes, olhei para os cacos de vidro no chão. Preciso me recompor... Murmurei novamente, mas o ódio ainda ardia, o ódio e a decepção, levantei-me da cadeira, indo até a janela, a vista do Ministério parecia distante, quase irreal, na verdade era quase engraçado, o mundo seguia seu curso, indiferente à minha dor, respirei fundo, deixando o ar frio acalmar meus pensamentos por um momento, depois voltei à mesa, vi a pilha de cartas que eu havia enviado nos últimos dias, não havia respostas ainda mas não podia parar por aí, precisava de mais informações, mais aliados, Adrien não sabia o que o esperava, acabaria com ele, reuniria todas as forças que pudesse, exploraria cada pista, cada maldição.

Peguei uma nova folha de pergaminho e comecei a escrever outra carta, desta vez para um velho conhecido, de anos atrás, talvez ele pudesse oferecer alguma ajuda, alguma pista sobre a maldição que me afligia, após um tempo, quando terminei a carta, chamei um corvo e enviei-a com urgência, o corvo voou para fora da janela, levando consigo minha esperança de respostas, respirei fundo e servi-me mais um copo de whisky. Adrien... Você não sabe o que está por vir.Me levantaria mais forte e mais perigoso do que antes e não descansaria até ver ele pagar.

...

Abri os olhos e ergui a cabeça, pelo visto tinha dormido, de novo, na mesa do Ministério, olhei para o lado da mesa e vi várias garrafas de whisky ali, não me lembrava da última vez que estive em casa, simplesmente não queria voltar para lá, soltei um suspiro pesado e levei a mão à gaveta, procurando outra garrafa, mas não havia mais nenhuma, suspirei e me levantei com dificuldade, cambaleando até o pequeno armário no escritório, peguei uma garrafa nova e voltei para a mesa, abri a garrafa e servi um copo, antes de beber forcei os olhos com as pontas dos dedos, tentando afastar a névoa da fadiga e do álcool e, finalmente, virei o conteúdo do copo, sentindo o líquido descer queimando.

Encarei a pilha de documentos sobre a mesa, algo que havia deixado de lado nos últimos dias, mesmo praticamente vivendo no escritório, respirei fundo e puxei um dos documentos, preparando-me para iniciar o processo de análise, o papel estava cheio de informações sobre incidentes recentes envolvendo magia das trevas, mas era impossível ler com clareza, as letras dançavam um pouco na minha visão, mesmo forçando-me a concentrar, continuei lendo, me forçando a ler pelo menos, obviamente entre um gole e outro de whisky, precisava me focar, mas sempre que meus olhos se fechavam apenas a imagem de Emily vinha até ela e sempre a raiva e a dor acompanhavam sua imagem. Emily... Fechei a cara, ela não merecia mais nenhum pensamento meu, ela tinha feito sua escolha.

Encostei-me na cadeira, exausto, fechei os olhos por um momento, permitindo-me um breve descanso antes de continuar, quando meus olhos se abriram uma luz já havia alcançado a mesa, respirei fundo e passei a mão no rosto, depois me servi novamente e peguei a pena, para tentar continuar a preencher os documentos que necessitavam de minha assinatura, neste momento escutei uma batida na porta e ergui os olhos, vendo Marie entrar na sala antes mesmo que eu pudesse dizer qualquer coisa, soltei a pena que estava em minha mão. O que houve? Perguntei, Marie parecia afoita e séria, ela comentou sobre ter ouvido um boato e disse para que eu não escondesse nada dela com um tom firme, concordei com a cabeça e indiquei a cadeira à minha frente.

Ela se sentou, e quando começou a disparar uma série de perguntas, encarei-a sem demonstrar nenhuma reação às palavras que ela acabara de dizer, fechei brevemente os olhos e suspirei, largando-me sobre o apoio da cadeira, Marie era uma amiga antiga, uma das mais antigas na verdade, havíamos passado por muitas situações difíceis juntos, então não fazia sentido esconder o motivo de meu ataque a Adrien dela. Vou te contar tudo... Comecei. Tudo começou quando Laura e Aaron quase morreram por causa de um Obscuro em Hogwarts... Depois veio a notícia de que Laura estava envolvida em algo que poderia trazer alguém de volta à vida... Foi então que tive o primeiro duelo com Adrien. Marie me interrompeu, questionando se não tinha pensado em informar aquilo ao Ministério, soltei um suspiro pesado. Não havia confirmação daquilo Marie... Não havia provas concretas, qualquer sinal de confronto com uma criatura desapareceu e era difícil provar que alguém vivo havia morrido uma vez se essa pessoa ainda estava viva.Marie assentiu, mas pude ver que ainda tinha dúvidas.

Por fim soltei outro suspiro e continuei, deste vez contando sobre Emily, sobre o berrador que recebi informando que ela havia me traído, sobre ela tentar inventar uma desculpa, dizendo que foi uma armadilha preparada por um aluno, sobre Adrien se vangloriar de ter estado com ela e, por fim, sobre como perdi a cabeça. Duelamos e o resto você já sabe. Marie ficou chocada, parei por um segundo, pensando nas coisas que acabara de falar e então dei de ombros. Eu sei que não era o ideal, mas agora são coisas do passado. Marie respirou fundo, então me encarou séria, contando sobre um ataque de Comensais da Morte em Hogwarts ontem, um dia antes do início das férias, senti minha cabeça girar, havia muito tempo que não ocorria um ataque de Comensais e com a prisão de Lilith e Eliot imaginei que todos os Comensais haviam sido retirados de ação.

Levantei-me imediatamente, dizendo que iria com Marie para Hogwarts, mas minha cabeça girou violentamente, forçando-me a apoiar as duas mãos na mesa, ainda assim firmei-me na ideia de ir mas Marie balançou a cabeça em negativa dizendo que não podia ir, que estava envolvido demais e sem qualquer condição de fazer qualquer coisa, mandando-me ir para casa, fechei a cara, pensar em Emily trazia muitas memórias dolorosas de volta, então apenas encarei Marie. Eu vou! Marie foi incisiva e sempre que eu resmungava algo, ela me impedia, por fim sentei-me, desistindo, no fim das contas não conseguiria fazer muito na condição em que estava, o simples esforço de me colocar de pé era muito para alguém que passara os últimos dias apenas bebendo whisky. Está bem... Disse balançando a cabeça afirmativamente. Mas me mantenha informado sobre tudo. Marie assentiu e deixou a sala.

Fiquei ali, sozinho novamente, encarando a pilha de documentos e o copo vazio à minha frente, sabia que as coisas estavam longe de melhorar, fechei os olhos por um momento, tentando ordenar meus pensamentos, a imagem de Emily e Adrien dançando em minha mente, seus sorrisos de escárnio, sua traição ardendo como brasas em meu peito, abri os olhos e peguei a garrafa e enchi meu copo novamente, tomando um gole, depois outro, em questão de segundos, três ou quatro copos haviam sido cheios e esvaziados, ergui os olhos e vi Victória entrar na sala, ela me encarou por um tempo antes de perguntar o que havia acontecido comigo, levei o copo até a boca, ignorando a presença dela.

Ela resmungou sobre eu precisar de um banho a medida que se aproximava, dei de ombros sem me importar, Victória olhou para a bagunça à minha volta e perguntou como eu consegui conversar com Marie naquele estado, a verdade é que eu não me importava muito com aquilo também, pelo menos até Victória tomar o copo da minha mão, levantei o olhar para ela.Ainda vou beber mais... Resmungo quase inaudível, ela ignorou completamente meu protesto e começou a falar sobre eu ir para casa, enquanto me colocava de pé, ou melhor, me forçava a ficar de pé. Não quero ir pra casa... Não quero ver Emily... Resmunguei, mas a última parte, ou a frase inteira, saiu mais embolada do que deveria, mais uma vez, fui ignorado por Victória que me forçou a caminhar apoiado nela até a lareira e, em questão de segundos, senti a familiar sensação de ser transportado pelo pó de Flu.

Cheguei ao Ministério aborrecido, minha frustração crescendo a cada passo, Emily, obviamente, não me atendera e isso me irritava de uma maneira sem precedentes, não só porque ainda estava descontente com os eventos da noite anterior, mas pelo contexto geral, ela me havia traído primeiro e, em nenhum momento, procurou-me para uma conversa, na verdade fez o oposto, deixando-me totalmente no escuro, sem saber o que acontecia, quando o mínimo que se esparia dela era se afastar de Hogwarts uma vez que ela alegava tão veementemente que havia caído em uma armadilha e que havia sido tudo sob efeito de uma poção, na verdade sequer uma denúncia formal sobre aquilo, mesmo depois que seu caso se tornara de meu conhecimento ela realizou, se antes o medo era eu decobrir algo, qual a justificativa para ela não ter denunciado Adrien depois? Tudo aquilo apenas mostrava que não havia uma "armadilha" alguma, ela quisera aquilo e inventou algo ao ser pega.

Entrei na minha sala alinhado pela primeira vez em dias, como um ministro deveria ser, minha cabeça estava um caos, mas minha apaência impecável, encarei o ambiente e vi que estava uma zona, fruto da falta de cuidado dos últimos dias, respirei fundo, decidido a limpar aquela bagunça, então comecei recolhendo as garrafas vazias, uma a uma, jogando-as fora, o som dos vidros batendo na lixeira ecoava pelo escritório, misturando-se com meus pensamentos, em seguida organizei os papéis espalhados pela mesa, recolhi os cacos de vidro de um porta-retrato que arremessei na parede em um momento de fúria e, ao pegar o porta-retrato, encarei a foto, Emily e eu, felizes, soltei um pesado suspiro e coloquei o retrato dentro de uma gaveta, longe da vista, não era o momento para me afogar em lembranças dolorosas, após mais algum tempo, com o escritório finalmente limpo e organizado, sentei-me à mesa, o trabalho me esperava e era um alívio ter algo concreto em que me concentrar.

Comecei revisando os relatórios acumulados, assinando documentos pendentes e respondendo correspondências urgentes, cada tarefa concluída parecia aliviar um pouco mais da tensão que carregava, enquanto trabalhava, minha mente não parava de revisitar os eventos recentes, sabia que precisava falar com Emily, resolver as coisas, assim como sabia que Victória merecia uma conversa honesta, então o som da porta se abrindo interrompeu meus pensamentos, levantei o olhar e vi meu assistente entrar, carregando uma pilha de documentos, ele me lançou um olhar curioso, provavelmente surpreso por me ver tão cedo e tão arrumado. Bom dia Ministro. Ele disse se apressando e colocando os documentos na mesa. Estes são os arquivos de hoje... Há algo mais que eu possa fazer por você?
Assenti, grato pela distração. Sim, por favor, organize as agendas de hoje e veja se podemos adiar algumas reuniões menos urgentes... Preciso de um pouco de tempo para resolver algumas questões pessoais. Ele acenou, saindo rapidamente da sala, voltei minha atenção aos documentos à minha frente, determinado a colocar minha vida e meu trabalho nos eixos novamente.

Decidi então me focar em um projeto antigo, a atualização das leis do Ministério, dirigi-me ao arquivo e peguei um resumo das leis antigas, já tinha revisado aquilo antes, então sabia quais leis seriam analisadas e os pontos principais que precisavam de atenção. Primeiro revisitei a Lei do Estatuto Internacional de Sigilo em Magia, ponderei sobre as mudanças tecnológicas no mundo trouxa e a dificuldade crescente em manter o sigilo, as possíveis emendas incluíam novos encantamentos de proteção e diretrizes para lidar com gravações por dispositivos trouxas, era essencial adaptar nossas práticas às novas tecnologias para garantir que a magia continuasse oculta, em seguida passei para a Lei de Restrição da Prática da Magia por Menores, considerei relaxar as restrições para permitir treinamento defensivo supervisionado para jovens bruxos, especialmente em tempos de crescente insegurança, com o ataque em Hogwarts, aquilo poderia significar o retorno dos Comensais e implicar em jovens bruxos sendo mortos por inexperiência em combate, bem como serem levados a julgamentos por se defenderem de ataques, algo que eu não desejava que acontecesse.

Depois revisei a Lei de Registro de Nascidos-Trouxas, refleti sobre as injustiças do passado e considerei a remoção completa de qualquer discriminação, assegurando direitos iguais para todos os bruxos, independentemente de sua origem, era uma mudança necessária para construir uma sociedade mais justa e inclusiva, principalmente tendo em vista o que ocorrera a um ano com Daniel Walker, agora Daniel Zarek, onde o Ministério levou mais tempo do que deveria para descobrir sobre a situação do rapaz, o que levou ele a ficar um ano sob tortura pelos próprios pais, por fim examinei as leis ambientais, considerando novas regulamentações para assegurar práticas mágicas sustentáveis e a proteção de ecossistemas mágicos, claro, aquela lei era interessante para mim, afinal, com a aprovação da lei alguns lugares teriam que ser revisitados e catálogados e, caso ratos de um basilisco gigante fosse encontrado, seria informado imediatamente, o que me seria profundamente útil.

Então diquei tempo para redigir um relatório detalhado das melhorias propostas para as leis revisadas, o relatório incluía justificativas para cada mudança, destacando a necessidade de atualização para refletir as circunstâncias modernas, com tudo pront, sabia que era necessária uma reunião para aprovação daquelas leis, então pedi que minha secretária convocasse uma reunião com o Conselho do Ministério, não apenas para discutir aquilo, mas também para discutir outros pontos que, agora, precisavam urgentemente de atenção, por fim passei o resto da manhã apenas revisando documentos atrasados, colocando tudo em ordem, deixando minha sala no ínicio da tarde.

Havia acabado de retornar à minha sala após a intensa reunião, os eventos ainda fervilhavam em minha mente enquanto me sentava na cadeira de couro, observando os documentos espalhados na mesa, sabia que preparar o projeto para a implementação das novas leis mágicas exigiria atenção meticulosa aos detalhes, comecei a revisar e ajustar cada proposta, garantindo que todas as alterações fossem claras e precisas, as próximas semanas seriam cruciais para assegurar que as mudanças fossem executadas com eficiência, a preparação para a implementação das novas leis mágicas não poderia ser adiada, cada detalhe precisava ser revisado e ajustado e estava determinado a garantir que nada fosse negligenciado.

Algumas horas se passaram enquanto eu estava imerso nas propostas e regulamentos, após um tempo o relatório final estava pronto, sorri e encarei aquilo com certo orgulho, então encaminhei o relatório para o setor responsável e puxei a pilha de relatórios atrasados para eprto de mim, enquanto verificava os relatórios atrasados, a chegada de Marie foi anunciada pela minha secretária, permitio sua entrada, observando-a cuidadosamente enquanto ela se aproximava, indiquei a cadeira à minha frente, enquanto ela se sentava me perdi no pensamento sobre a diferença de nossas interações, especialmente considerando que as duas tinham ocorrido em apenas um dia de diferença e, claramente, estava hoje longe do que quer que ela tenha encontrado ontem nesta sala. Marie... A que devo a honra? Se for falar sobre ontem já adianto meu pedido de desculpas pelo meu estado lastimável, garanto que não se reperitá. Disse a encarando, apesar de ser, em tese, superior à Marie em termos de cargo, tinha uma consideração profunda por ela, além de que, agora, poderia dizer que tínhamos uma mizade boa o suficiente para saber que ela não faria rodeios para me encher o saco caso me comportasse de uma maneira que não agradasse ela, na verdade ela até me lembrava Julie neste quesito.

Marie se acomodou, não perdendo tempo antes de mencionar a solicitação que fiz sobre o relatório do ataque, soltei um sorriso. Estranho seria se ficasse totalmente no escuro sobre o assunto do ataque. Mantive o tom firme Assim como ficar no escuro sobre a proposta de um alto inquisidor em Hogwarts. Marie me encarou, peguei um documento, assinei rapidamente e passei para ela. Estou passando, temporariamente, a autoridade sobre este assunto exclusivamente para você. Ela me encarou arqueando uma sobrancelha, soltei uma bufada. O que você decidir sobre Hogwarts será respeitado por mim, já que meu julgamento sobre o assunto pode ser influenciado pelo ódio que tenho por Adrien... No entanto, tendo em vista os acontecimentos recentes, se você não fizer nada, serei obrigado a tomar a dianteira sobre o assunto e, obviamente, devo ser mantido informado. Olhei para Marie, esperando que ela respondesse.

Sentei-me à beira da cama no hotel, o peso da confusão e da culpa me esmagando como uma rocha, desde a noite com Victoria e o bilhete misterioso que encontrei em minha mesa no Ministério, minha mente parecia estar em um frenético turbilhão, a sensação de estar perdido e à deriva era esmagadora, respirei fundo e massageei meu cenho, tentando aliviar a tensão que se acumulava, mas o peso dos acontecimentos não dava trégua. Haviam se passado dias desde aquele evento tumultuado e o silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor, nem Emily nem Victoria haviam cruzado meu caminho, para evitar encontrar com as duas busquei refúgio em um hotel, um isolamento voluntário para processar o que estava acontecendo em minha vida pessoal, para pensar e me alinhar.

A incerteza sobre o futuro de meu relacionamento com Emily e a tumultuada tempestade de emoções em relação a Victoria estavam consumindo cada momento do meu dia, a noite com Victoria havia sido um momento de desejo incontrolável, um impasse infernal que agora me consumia, a culpa de ter traído Emily pesava sobre mim como um fardo mas, ao mesmo tempo, a satisfação pela noite maravilhosa com Victoria me provocava uma sensação contraditória, sabia que o que fizera estava longe de ser correto e qualquer tentativa de abordar Emily sobre isso seria como um golpe final no que restava de nosso casamento. Mas o bilhete que encontrei no Ministério na manhã seguinte trouxe uma nova camada de inquietação, alguém havia conseguido entrar no Ministério, solicitando diversos documentos em minha exata aparência e deixado um bilhete em minha mesa e o bilhete informava que, se eu quisesse saber a verdade sobre Emily, deveria comparecer ao salão principal no primeiro dia de aula, no jantar de abertura, jantar que ocorreria nesta noite.

Considerei por um momento que poderia ser Adrien, mas logo descartei a ideia, Adrien não tinha a habilidade necessária, tampouco a inteligêngia para invadir o Ministério, mas a ideia de alguém com tal capacidade apenas intensificava minha preocupação, claro, para proteger minha segurança no futuro criei uma palavra de segurança com minha secretaria, garantindo que qualquer situação semelhante fosse detectada, no entanto o problema da documentação roubada ainda persistia, documentos que continham informações sensíveis sobre minha família e sobre mim mesmo, o fato de estarem em mãos desconhecidas apenas aumentava minha ansiedade. Respirei fundo tentando organizar meus pensamentos e encontrar uma solução, mas tudo se imsturava, a culpa pela traição, a incerteza sobre o futuro, a ameaça representada pelos documentos, o bilhete, tudo formava um turbilhão de problemas que parecia impossível de resolver.

Levantei-me da cama, decidido a enfrentar a situação com clareza e estratégia, pensar e analisar cuidadosamente, mas, naquele momento, preciava ir trabalhar, etão tomei um banho e me arrumei, aparatando para o Ministério da Magia. Cheguei ao Ministério ao amanhecer, meu rosto ainda carregando os sinais inconfundíveis de cansaço e preocupação, minha mente em um estado de caos, sabia que precisava focar no trabalho para não ser consumido pelas minhas ansiedades, parei noàtrio e olhei ao redor, a imponência do edifício parecia, de algum modo, uma análoga para a tensão que eu sentia e enquanto atravessava o saguão principal, meus colegas me cumprimentavam com acenos breves e sussurros, que eu respondia com um leve movimento da cabeça, minhas preocupações, no entanto, estavam longe de ser deixadas para trás.

Dirigi-me diretamente ao meu escritório, uma espécie de refúgio, embora o caos interno não se limitasse a mim, após trocar um rápido cumprimento com minha secretária, dizendo a palavra chave, a porta se abriu com um estalo familiar e o espaço imediatamente me envolveu com seu aroma de papel envelhecido e madeira polida, o escritório estava uma bagunça, papéis e pastas empilhados, uma representação física do tumulto interno que enfrentava, soltei um suspiro e decidi mergulhar no trabalho, buscando um refúgio na rotina e nos detalhes minuciosos dos relatórios e arquivos que precisava analisar, cada documento, cada relatório, era uma pequena âncora em meio à tempestade. Enquanto passava os olhos pelos documentos minha mente continuava a vagar sobre quem poderia ter roubado os documentos, a facilidade com que o invasor havia agido e a exata replicação de minha aparência indicavam um conhecimento detalhado sobre minhas atividades e segurança, me perguntei se havia algum funcionário ou associado dentro do Ministério que pudesse ter uma razão para realizar tal ato, o pensamento era inquietante, uma sombra persistente que pairava sobre cada relatório que analisava.

Em meio a isso a situação com Emily também não saía da minha mente, a traição de minha parte e o que havia acontecido entre mim e Victoria tornavam a situação ainda mais complicada, sabia que precisava enfrentar a verdade e discutir o futuro de meu casamento, mas não fazia ideia de como iniciar essa conversa difícil, o conflito entre o desejo de resolver a situação e o medo do que isso poderia desencadear era palpável. À medida que o dia avançava me concentrava cada vez mais em meus relatórios, a análise detalhada ajudava a ocupar minha mente e a manter o foco nas tarefas imediatas, evitando que eu me perdesse em especulações e preocupações, procurava por qualquer irregularidade ou possível brecha de segurança que pudesse explicar o roubo dos documentos e garantir que medidas fossem tomadas para evitar novos incidentes, cada dado analisado era um passo para restaurar um pouco de ordem em meio ao caos.

No final do expediente, o peso das decisões que precisava tomar começou a se tornar ainda mais perceptível, sabia que tinha que decidir se iria ou não a Hogwarts naquela noite, o bilhete prometia revelações importantes sobre Emily e não ir poderia significar perder uma oportunidade crucial para entender a situação, no entanto minha presença em Hogwarts também poderia acarretar no contrário e piorar ainda mais a já delicada situação. Enquanto revisava meu último relatório fiz uma pausa e olhei para o relógio, o dia estava chegando ao fim e sabia que precisava tomar uma decisão, com um suspiro profundo levantei-me, estava decidido, iria a Hogwarts, peguei meu paletó e o coloquei, me preparando para aparatar, mas antes de fazê-lo ouvi minha secretária informando que Edward Summiregis estava ali, respirei fundo e permiti sua entrada. Ed... Tem um tempo... Do que precisa? Disse terminando de vestir o terno, esperando encerrar aquela visita rapidamente para então ir para Hogwarts.

Estava sentado na sala fria e austera do Ministério da Magia, o peso do dia parecia se acumular em meus ombros, me pressionando contra a cadeira, minhas mãos subiram automaticamente até minha cabeça e comecei a massagear o cenho com força, como se o simples ato de pressionar os dedos contra as têmporas pudesse aliviar o caos em minha mente. Desde a invasão ao Ministério já sabia que informações importantes haviam sido comprometidas, segredos vazados, documentos roubados, mas jamais imaginei que aqueles que roubaram esses segredos tinham como objetivo o "Profeta Diário" e que essas informações confidenciais, a maioria sobre mim, fossem publicadas uma após a outra, como se fosse uma sequência cuidadosamente calculada para destruir tudo o que eu construí e cada manchete era uma nova facada.

Já havia tentado de tudo, solicitei que o profeta se retratasse, que revelasse suas fontes, que retirasse as notícias, mas nada adiantava, e o pior era que tudo o que publicaram era verdade, não havia nada de fabricado ou manipulado, eram documentos reais, com assinaturas genuínas, de maneira que se eu tentasse agir com força agora, apenas agravaria a situação, no fim era uma guerra perdida e quanto mais eu lutasse contra isso, mais afundaria. Passei os dedos pelos olhos, exausto, já estava claro para mim que a situação só iria piorar e no pior momento possível, havia acabado de conversar com Emily, deixando claro que partiria em busca de uma cura para o que estava acontecendo comigo, meu corpo, minha magia... Estavam falhando e eu sabia que não tinha muito tempo.

Já vinha organizando tudo, documentos, reuniões, alinhando cada detalhe para que pudesse me afastar do Ministério sem causar um colapso na estrutura, só que agora, com esses vazamentos, minha saída parecia uma fuga desesperada, como se eu estivesse correndo para me esconder e não em busca da sobrevivência, minha mente questionava se era o certo a fazer, mas havia uma verdade imutável, simplesmente não tinha forças para continuar, cada dia, cada hora a mais que eu gastava lidando com essas crises internas e externas era um passo mais perto da morte. Respirei fundo, ainda pressionando a cabeça com as mãos, sabia que tinha que manter o plano.

Dissera a Emily que partiria e não havia volta, o que a opinião pública pensasse a meu respeito pouco importava, minha prioridade era viver, sobreviver, encontrar uma cura, voltar para ela e então, sim, consertar o que restasse, isso se quando eu retornasse, houvesse algo a consertar, se tivesse uma reputação, um casamento ou até mesmo tempo. Com um suspiro pesado, larguei o jornal de lado, empurrando-o para longe de mim, a manchete estampada com meu nome parecia zombar do meu esforço, mas simplesmente ignorei-a, não adiantava lutar contra isso agora, meu foco tinha que estar em continuar fazendo o melhor trabalho possível enquanto estivesse aqui, preparar o Ministério para minha ausência, garantir que, quando eu partisse, o mundo bruxo não entrasse em caos, esse era o único caminho que restava.

Com isso em mente avaliei cada relatório na mesa, cada questão pendente, como se cada uma fosse a última coisa que faria por este lugar, no final do dia soltei um suspiro exausto, sentindo o peso do dever cumprido, mas também da despedida iminente, havia organizado tudo, estava tudo no lugar e agora restava a parte mais difícil. Peguei uma pena e escrevi uma carta para Marie, contei-lhe tudo sobre minha doença, meu casamento arruinado, a crise no Ministério e então pedi que ela cuidasse de tudo até que eu voltasse, se voltasse, claro, pedi que mantivesse minha doença em segredo, se precisassem de um bode expiatório para culpar pelas crises ou pelos vazamentos, que fosse eu, era melhor assim, poderia carregar essa culpa desde que a imagem do Ministério ficasse limpa, depois de selar a carta, sentei por mais um momento, deixando que a tensão escapasse lentamente e, então, com um último suspiro, levantei-me da cadeira, olhei pela última vez para o escritório e deixei o Ministério, não sabia se voltaria, mas tinha que tentar.