Grande Saguão

Eu estava sentada em um dos bancos de pedra do grande saguão de Hogwarts, meus olhos fixos nas páginas de um livro que eu mal conseguia focar. Os últimos dias, ou semanas, para ser mais exata, tinham sido uma repetição monótona de aulas, leituras na comunal, tudo para me manter ocupada, longe de certas pessoas. Eu sabia muito bem que estava apenas me escondendo, evitando encontros inevitáveis com Amélie e, claro, com Vincenzo. A sorte até estava ao meu lado, já que não o tinha visto desde aquela confusão.

Amélie também parecia ter desaparecido, o que era ao mesmo tempo um alívio e uma fonte de desconforto constante. Desde as masmorras, nós não trocamos mais nenhuma palavra, e o silêncio entre nós era uma sombra persistente. Vergonhoso admitir, especialmente para mim, uma Valak, mas a verdade nua e crua era que eu estava fugindo. Fugindo dos sentimentos, das conversas, das situações que não queria enfrentar. Isso me fazia sentir fraca, algo que eu odiava profundamente.

Suspirei, soltando o livro no colo. Não importava o quanto eu tentasse, não conseguia me concentrar. A dor ainda estava ali, latejando de forma discreta, mas eu sabia que, aos poucos, eu já não associava mais Amélie a Vincenzo. Depois de todos os boatos ridículos que corriam pela escola, envolvendo o nome dela com mais meia dúzia de pessoas, era difícil sentir o mesmo tipo de raiva. Vincenzo já não era o centro da questão. Embora ainda desejasse vê-lo morto.

Ainda assim, eu não sabia o que diria quando a encontrasse de novo. O que me irritava profundamente. Era como se as palavras ficassem presas na minha garganta, sem direção ou propósito, e isso fazia minha mente borbulhar em frustração. Bufei de leve, tentando voltar à leitura. Mas o esforço era inútil, pois minha mente simplesmente vagava, perdida em um emaranhado de pensamentos dispersos. Foi então que percebi uma sombra se aproximando. O leve movimento ao meu lado me fez erguer o olhar, alertando-me da presença de alguém antes mesmo que essa pessoa dissesse qualquer coisa. Fosse quem fosse, estava prestes a interromper minha solidão planejada. O que, talvez, fosse uma coisa boa.

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Enquanto observava o garoto se aproximar, uma sensação de estranhamento me invadiu. Seu rosto não me era completamente desconhecido, mas eu não conseguia lembrar exatamente de onde o conhecia. Talvez eu o tivesse visto de relance em meio ao turbilhão de rostos conhecidos e desconhecidos de Hogwarts. A falta de uma conexão clara entre aquele rosto e uma memória me incomodava, mas não era uma má sensação. No fundo, havia algo intrigante no desconhecido, uma centelha de curiosidade que me fazia querer me abrir um pouco, apenas um pouco.

Quando ele se apresentou como Skylar, um leve sorriso surgiu nos meus lábios. Era uma cortesia que eu não podia ignorar, mesmo que o nome dele não estivesse nos arquivos dos Valak. Se ele era novo em Hogwarts ou apenas irrelevante, isso ainda estava em aberto. Mas recusar-me a cometer o erro de ignorar quem quer que fosse parecia uma decisão sensata. Ele poderia se tornar uma força inesperada contra meu primo, e isso me impulsionava a ser o mais amável possível. Afinal, o mundo da magia estava repleto de surpresas, e talvez aquele garoto se tornasse uma delas.

Obrigada, Skylar. Respondi, pegando o pergaminho que ele havia me entregue. Eu nem havia notado que havia perdido. Minha voz soou leve, quase como um convite à conversa. O observei rapidamente. Ele era bonito, o que tornava a interação ainda mais fácil. Ser amigável com ele não era uma tarefa complicada, mas a falta de conhecimento sobre quem ele realmente era me deixava irritada, como se estivesse presa em uma situação que não pedi para estar. Porém um impulso de curiosidade crescia dentro de mim. Conversas não planejadas poderiam ser um bom remédio para o caos que minha vida se tornara.

Arredando um pouco para o lado, fiz um gesto sutil, como quem convida o garoto a se sentar ao meu lado. Para minha surpresa, desejei aquele momento de normalidade, longe da dor e da confusão que me cercavam. Você é novo em Hogwarts? Perguntei, mantendo o sorriso, esperando que a conversa fluísse naturalmente. Assim que as palavras saíram, uma parte de mim se sentiu ansiosa pela resposta. A expectativa me lembrava que, mesmo em meio à tempestade emocional, havia espaço para novas conexões.

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