Portões de Hogwarts

O portão do castelo parecia ainda mais sombrio na manhã seguinte ao que aconteceu. Eu e Regan estávamos parados ali, esperando nosso pai. O vento frio de Hogwarts me envolvia, mas a sensação gelada vinha de dentro de mim. Beatriz... minha querida irmã Beatriz. A imagem da noite passada estava gravada em minha mente, como uma maldição que jamais me deixaria. Eu olhava para Regan, que estava ao meu lado. Seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar, mas ela permanecia forte. Sempre foi a mais forte entre nós. Eu queria poder ser como ela. Em vez disso, me sentia um covarde, fraco e culpado. A culpa me corroía por dentro. Como poderia ter feito aquilo? Eu sabia a resposta, mas não a aceitava. A Maldição Imperius tinha me dominado, mas isso não aliviava o peso no meu coração. Eu fui a mão que segurou a varinha, eu fui o instrumento da morte de Beatriz. Regan me olhou, seus olhos cheios de tristeza, mas sem um pingo de acusação. Viktor, você não teve escolha, ela disse, foi a maldição, não você. Ela disse, quase em um sussurro. Balancei a cabeça, incapaz de aceitar suas palavras por mais certas que elas fossem, eu ainda acreditava que deveria ter tido forças para lutar contra a maldiçao Mas fui eu, Regan. Eu deveria ter lutado. Deveria ter resistido. Antes que ela pudesse responder, nosso pai apareceu à distância. Ele caminhava com passos pesados, seu rosto uma máscara de dor contida. Eu sabia que ele tinha ido falar com o diretor sobre o que aconteceu. A tragédia. O que eu tinha feito... Quando ele se aproximou, vi a tristeza em seus olhos, mas também uma frieza que eu conhecia bem. Vamos para casa, Ele disse, sua voz firme, mas sem emoção. Ele olhou para mim e seu rosto suavizou um pouco enquanto sua mao ia ao meu ombro.

Viktor, meu filho, sei que foi horrível. Mas não foi culpa sua. Você é forte. Vamos superar isso. Aquelas palavras, destinadas a me consolar, só aumentaram a minha culpa. Olhei para Regan, esperando que ele dissesse algo para ela também, mas ele a ignorou completamente. Meu coração se apertou ao ver a expressão de dor dela se intensificar com o desprezo de nosso pai. Regan sempre foi subestimada por ele, e naquele momento, eu queria defendê-la. Mas me senti paralisado pela minha própria dor e culpa. Nos dirigimos ao carruagem que nos levaria para casa. O caminho de volta parecia interminável. O silêncio era opressor. Regan segurava minha mão, sua presença ao meu lado era a única coisa que me impedia de desmoronar completamente. Nosso pai, sentado à nossa frente, olhava pela janela, perdido em seus próprios pensamentos. Eu queria dizer algo para Regan, pedir desculpas por não conseguir defendê-la, por ser tão fraco. Mas as palavras não vinham. Meu coração estava pesado demais. Ela parecia entender, apertando minha mão mais forte, como se quisesse transmitir sua força para mim.

When you are young,

They assume you know nothing

Caroline Lewis

Caroline ficara com Lea a noite toda mal amanhadas naquela cama de casal minúscula. Lea parecia querer combater o sono, pois, devia temer os pesadelos que a assolariam. A loira poderia ter tido uma vida mais fácil mas era tão obstinada e corajosa que poderia ter sido ela a sobreviver nas ruas. No entanto, Caroline não desejava o destino que tivera a ninguém. Carinhosamente, fazia-lhe festas no cabelo e cantava-lhe baixinho as poucas músicas de embalar que conhecia. No final, também ela acabara por adormecer abraçada á irmã.

O dia nascera e os raios solares penetraram pela janela do quarto. Caroline acordou, espreguicou-se e sentiu uma pontada de dores nas costas. Mas não se queixou, estava habituada a dores muito piores. Enquanto a irmã dormia, ela vestiu-se e esgueirou-se até á ala hospitalar para ir buscar um enfermeiro e uma poção que a pudesse colocar mais confortável.

O enfermeiro entregou-lhe uma poção wingendweld e garantiu que a miúda só precisava de repouso para o corpo se curar. A ruiva ajudou a  Lea a arrumar a sua mala para as férias, pois, já tinha tratado de arrumar a sua. A preocupação estava estampada no seu rosto enquanto observava a irmã. - Promete-me que não te metes em mais aventuras perigosas. - Pediu-lhe enquanto observava os olhos azuis cristalinos da irmã enquanto colocava ambas as suas mãos nos seus ombros. - Vou tentar. - A loira respondeu enquanto agarrava uma das mãos da ruiva. - Além disso, vamos ver-nos... Pelo menos no dia das análises. - Lea observou enquanto Caroline acenava afirmativamente com a cabeça.

Caroline vio-a a sair, a sua silhueta a diminuir conforme a menina se afastava com a sua mala pronta para as férias. Esperava sinceramente que fossem tranquilas, pois, o enfermeiro recomendara que ela tivesse o máximo de repouso possível.

A menina aguardou e Edward, o seu tutor, finalmente chegara aos portões para a vir buscar. Contara-lhe todas as novidades acerca do caso e a ruiva admitiu que já havia contado a Eleanor que ela era sua irmã.

Assim, os dois abandonaram Hogwarts, com o cenário de destruição em pano de fundo.



Pensamentos
Caroline
Eleanor

O ar estava fresco quando chegamos aos portões de Hogwarts, e o brilho do castelo à distância me trouxe uma sensação agridoce de alívio e tensão. Olhei para Regan ao meu lado, sua expressão uma mistura de ansiedade e esperança. Continuávamos a conversa que havíamos começado no trem, algo que eu sabia ser necessário para preparar minha irmã para o que estava por vir. Eu... eu realmente não sei como reverter isso.  O diretor  disse que ela não poderia mais frequentar Hogwarts. Regan olhou para mim, seus olhos grandes refletindo uma tristeza profunda.  Mas sendo assim eu nao deveria estar aqui tambem Vik! Quem garante que nosso pai ja nao me desmatriculou? Parei por um momento, respirando fundo. Precisava ser forte por ela, precisava transmitir a segurança que ela tanto necessitava. Regan, nenhum pai pode tirar o aluno de Hogwarts sem uma razão justa. É nosso direito estar aqui. Brunna foi um caso extremo, e mesmo assim foi expulsa pelo diretor, não por nosso pai. Ela assentiu, mas podia ver que o medo ainda persistia em seus olhos. Sabia que ela tinha razão em estar assustada mas ao mesmo tempo achava improvável permitirei que nosso pai a arrancasse assim facilmente. Por isso que digo, a situação da Brunna é mais... Delicada. O diretor a expulsou, convencer ele a voltar atras... Será difícil. Querendo ou nao, Brunna matou dois alunos... Eu disse conformado. Continuamos a caminhar, meus pensamentos ainda girando em torno de Brunna. A expulsão dela foi um golpe duro.

A casa de Laura foi o melhor refúgio que pudemos encontrar, e agradecia a Laura por sua hospitalidade, mas sabia que isso não podia durar para sempre. Precisava encontrar uma maneira de trazer Brunna de volta. Minha determinação crescia a cada passo que dávamos em direção ao castelo. Precisava superar a dor que sentia, precisava ser mais forte do que jamais fui. As palavras duras de meu pai ecoavam em minha mente, e queria provar a ele que estava errado sobre mim. Não era o fracasso que ele pintava. Eu era capaz de proteger minha família, meus amigos, de corrigir os erros, de ser alguém digno. Enquanto esses pensamentos me consumiam, avistamos Lillian se aproximando. Sua presença e positividade sempre é um farol de luz em tempos sombrios. Lillian, como foram suas férias? cumprimentei-a, tentando colocar um tom de normalidade na minha voz.  Ela sorriu de volta, embora seus olhos mostrassem sinais de cansaço. Foram... complicadas. E as suas? Suspirei sentindo por ela, havia perdido tanto quanto eu. Soltei um pequeno sorriso sabendo que a resposta honesta seria muito longa e dolorosa. Foram intensas. Mas agora que estamos de volta, acho que podemos respirar um pouco melhor. Comentei tentando nao deixar ela mais triste, tentando lhe animar para voltar ao castelo, tanto ela como eu precisávamos disso. Lillian assentiu, e seu olhar se suavizou com um sorriso cansado. Sua pergunta atingiu um ponto sensível por mais que eu tentasse nao demonstrar. Como foram minhas férias? Não sabia ao certo. A traição à Eleanor e Ksenia, a briga com meu pai, o resgate de Brunna... tudo parecia um turbilhão sem fim. Mas estava determinado a encontrar um caminho para resolver e me recuperar de tudo.

Lights, Camera, Bitch, Smile

Even when you wanna die

Caroline Lewis

Caroline tentara de tudo para trazer a irmã que conhecera de volta. A grifina corajosa teimosa e irreverente, mas Lea estava para lá de qualquer recuperação. Ela afundara-se na solidão e na tristeza e parecia não querer nadar contra a corrente, estava a deixar-se engolir no mar revolto. A ruiva garantiu-lhe que a manteria protegida e segura. Caroline segurou-lhe na mão para lhe transmitir segurança e carinho. - Ninguém te vai fazer mal e, se tentarem, eu estou aqui para te proteger. - Garantiu com uma segurança incontestável como se ninguém a pudesse destruir.

- Não vais precisar de me proteger, Care... Eu não vou fazer nada idiota, desta vez... Eles conseguiram matar essa Lea. - Eleanor disse e a ruiva sentiu uma ponta de tristeza a afundar-se dentro dela. Como é que eles iriam conseguir trazer Eleanor de volta ao seu antigo eu? A grifina parecia determinada a continuar naquele ciclo de depressão sem querer sair de lá. A ruiva ergueu uma sobrancelha e apertou-lhe mais a mão boa. - Tu vais ressuscita-la, Lea. Vais voltar mais forte que antes. - A ruiva transmitiu a sua esperança numa voz confiante enquanto as duas caminhavam para dentro do castelo.

Pensamentos
Caroline
Eleanor
Regan
Viktor
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