Vestiários

Quando Caroline suspirou e me olhou com aqueles olhos cheios de amor e admiração, meu coração quase parou. Eu podia sentir cada palavra dela, mesmo antes que fossem ditas. Aquela promessa que ela queria selar, o pedido que estava prestes a fazer... eu sabia o que estava por vir, mas não queria ouvir. Não podia ouvir. Ela estendeu o dedo mindinho, e eu, sem saber o que fazer, segurei o dedo dela com o meu, sentindo a tensão no ar. Mas quando as palavras saíram da boca dela, foi como se o chão tivesse desaparecido sob meus pés. Meu coração acelerou, e o desespero que ela viu em meus olhos foi impossível de esconder. Eu a amava, mesmo que às vezes não conseguisse expressar isso em palavras, e a ideia de perdê-la... não, eu simplesmente não podia conceber. Ela tocou meu rosto com ternura, e por um instante, senti como se estivesse em uma realidade paralela, onde ela estivesse se despedindo de mim. Mas isso não podia estar acontecendo. Vais encontrar a felicidade com outra pessoa... As palavras saíram dos lábios dela, e eu quase perdi o ar. Como ela podia pensar assim? Como podia acreditar, nem por um segundo, que eu seria capaz de seguir em frente? Meu corpo ficou rígido, minha mente girando, tentando encontrar uma forma de negar aquilo. Mas ela continuou. Por favor, promete. Eu vi que os olhos dela estavam cheios de dor, mas era uma dor que eu não estava preparado para aceitar. O medo nos meus olhos aumentou, e eu lutei para manter o controle sobre minhas emoções. Ela declarou seu amor por mim, e antes que eu pudesse reagir, senti seus lábios nos meus, suaves, delicados, cheios de amor. Foi um beijo breve, mas carregado de uma promessa que me rasgava por dentro. Ela me amava, mas estava se preparando para me deixar.

Caroline permaneceu ali, acariciando meu rosto e minha mão, esperando que eu respondesse. Mas como eu poderia? Não, Eu... eu não vou aceitar isso, Caroline. Você não pode me pedir isso. Soltei de repente, minha voz trêmula, quase falhando. Afastei seu toque por um momento, pressionando minhas mãos contra meu rosto, tentando conter o turbilhão de emoções que se formava dentro de mim. Você está falando como se... como se já tivesse desistido. Como se estivesse pronta para me deixar, e eu... eu não posso ouvir isso. Não posso aceitar isso. Meus olhos estavam ardendo, e eu sabia que as lágrimas estavam à beira de cair, mas eu as forcei de volta. Eu precisava ser forte por ela, mesmo que sentisse meu coração sendo esmagado pela ideia de perdê-la. Eu não vou deixar nada acontecer com você, Caroline. Minha voz era quase um sussurro, mas cheia de uma determinação feroz. Eu vou encontrar uma cura, eu juro. Nem que eu tenha que morrer para isso. Eu não vou perder você, não vou deixar que esse maldito artefato ou Enric te levem de mim. Ela tentou dizer algo, mas eu a interrompi, sentindo a urgência de falar, de deixar claro o quanto ela significava para mim. Você fala como se pudesse morrer, como se isso fosse uma possibilidade real, e eu... eu não posso nem pensar nisso. Eu me aproximei mais dela, pegando seu rosto entre minhas mãos com cuidado, mas com firmeza, forçando-a a me olhar nos olhos. Eu também te amo. E enquanto essas palavras saíam dos meus lábios, percebi o quanto elas me pareciam verdadeiras, o quanto meu coração já parecia estar ligado ao dela. E eu vou fazer qualquer coisa para te salvar. Eu não estou dizendo isso da boca para fora. Eu vou lutar, eu vou procurar até nos cantos mais sombrios do mundo mágico para encontrar uma cura, não só para você, mas para todos que foram afetados. Não importa o quanto isso custe. Eu não vou descansar até que você esteja bem.

Ela piscou, surpresa com a intensidade das minhas palavras, e eu sabia que parte de mim ainda estava aterrorizada. O medo de perdê-la era real, mas a esperança... essa esperança insana, quase ingênua, de que eu poderia encontrar uma solução, me mantinha em pé. Eu a puxei para perto de mim, minhas mãos segurando seu rosto com delicadeza, mas com a intensidade de quem sabe que o tempo pode estar se esgotando. Capturei seus lábios nos meus. Mas desta vez, o beijo não foi casto ou cheio de hesitação. Foi desesperado, como se fosse a última vez que eu a beijaria, como se, de alguma forma, esse momento pudesse nos salvar. Nossas respirações se misturaram, e cada segundo parecia carregar o peso de uma eternidade. Eu sabia que, por mais que quisesse acreditar que tudo ficaria bem, a realidade era que estávamos lutando contra algo muito maior do que nós. Mas, naquele momento, tudo o que eu queria era ela. Eu não podia aceitar perdê-la, não agora, não nunca. E, enquanto o beijo durava, a única coisa que ecoava em minha mente era a promessa de que eu faria qualquer coisa para mantê-la ao meu lado. Afastando-me lentamente, ainda com as mãos em seu rosto, olhei fundo em seus olhos, tentando transmitir todo o meu amor e a minha determinação. Nós vamos vencer isso, Caroline. Eu prometo.

And I might be okay

But I'm not fine at all

Caroline Lewis

Os meus encheram-se de água e e não conseguiu deixar escapar o soluço que lhe irrompeu da garganta por ver a dor e o desespero na cara dele. Queria ser forte o suficiente, queria não quebrar na frente dele mas Viktor estava a tornar tudo difícil e doloroso enquanto prometia que iria encontrar uma cura e impedir aquela maldita doença de avançar. As lágrimas caiam da minha cara numa torrente enorme que eu não conseguia trancar. Assenti com a cabeça perante aquela possibilidade terrível de morrer mas eu era realista. Como poderia não ser? Cada respiração já parecia que me tomava um esforço enorme. Os músculos pareciam arder a cada movimento. Não tivesse sido a minha determinação férrea e a tolerância á dor, não teria aguentado aquele jogo. Ouvi-lo dizer que me amava fez-me levitar, mas ao mesmo tempo indignava-me por ele o dizer agora quando o fim parecia inevitável para nós. Sentia o seu toque macio e ternurento na minha cara enquanto ele me obrigava a fita-lo com gentiliza e dedicação. Deixei-me derreter contra ele enquanto a sua declaração, a sua obstinação para encontrar uma cura me surpreenderam para além dos limites.

Viktor puxou-me para ele e beijou-me com um desespero, uma fome que não lhe conhecia! Parecia que o Mundo iria acabar naquele momento e só existiamos nós e o nosso amor. As minhas mãos mergulharam na sua cintura, apertando-o contra mim. Eu não queria que ele parasse, no entanto, eu sabia que ali não era hora nem o local. Quando ele se afastou a minha respiração estava ofegante, os meus olhos vermelhos e algumas lágrimas ainda caiam do meu rosto. Eu assenti afirmativamente com a cabeça. - Viktor, eu não desisti... - Comecei, mordi o lábio inferior sem querer preocupa-lo mas sem saber como o fazer ver a minha verdade. Eu não podia por este fardo em cima dele. - Mas se isto for obra desse objecto... Então... É quase inevitável esse desfecho. Só a família deles é que deve ter conhecimento como parar isto de progredir.... - Observei, fechei os olhos e encostei a minha testa á dele. - Eu não quero que carregues esse peso ás costas e, muito menos, quero ser a causa de que aquela escuridão se volte a apoderar de ti... - Admiti com um suspiro e depois abri os olhos e observei-o enquanto mexia no seu cabelo sedoso. Deixei-me invadir pelo seu perfume inebriante e sorri. - O que estás disposto a fazer para me salvar foi a coisa mais bonita que me disseram até hoje... - Abri um sorriso sincero enquanto tentava limpar as restantes lágrimas que pareciam secar no meu rosto. - Mas a tua vida é algo demasiado valioso. Eu não quero que te sacrifiques por mim. - Disse com seriedade enquanto o puxava para um abraço apertado. - Eu prometo deixar-vos tomarem conta de mim. - Prometi com um suspiro resignado. - Pelo menos, promete-me que te vais manter longe de confusões e aventuras perigosas... Não quero que se magoeem. - Admiti com um suspiro enquanto voltava a beija-lo apaixonadamente.

Eu sabia que ele não era de muitas palavras mas ainda saboreava o "Eu te amo" que ele deixara finalmente escapar. Podia estar doente, podia ter sido o desespero mas não trocava nada só por ele o ter dito. - Tu és a luz na minha escuridão mesmo nos momentos mais sombrios. És a melhor coisa que me aconteceu, Viktor. - Confessei do fundo coração. Eu sabia que soava também a despedida mas a forma como me sentia era que a qualquer momento o vazio me poderia engolir. Voltei a beija-lo enrolando os meus braços no seu pescoço e depois afastei-me. - Talvez, devêssemos ir embora... Eu tenho de ir tomar banho, estou a tresandar a suor. - Admiti, e talvez, também estivesse um pouco febril. Aguardei que ele me respondesse e me ajudasse a sair dali. As minhas mãos achavam a sua cara enquanto a minha testa estava encostada á dele.


Pensamentos
Caroline
Eleanor
Regan
Viktor
Enric