Cemitério de Godric's Hollow

Rasgou o céu da noite em um zunido baixo, o sorriso espalhado pelos lábios com muito mais selvageria do que diversão. Erik e Fenrir estavam em uma coisa só. Não eram apenas os divisores do corpo e da alma, não eram hóspede e hospedeiro mais. Se fundiam em uma mesma consciência feral, os mesmos instintos entre o homem e o lobo. Abriu ambos os braços, mantendo-se na vassoura apenas pelo equilíbrio. Sentia o vento gelado contra o corpo. Era bom. A adrenalina suave havia domado seu organismo, de modo que suara bastante no percurso entre Azkaban e Godric's Hollow, tornando o refresco mais do que bem-vindo.

Atravessou a praça e as ruas em um borrão. Desceu em um rasante rápido para o cemitério. De um cemitério ao outro, com objetivos completamente diferentes... Era quase engraçado. Os olhos faiscaram em orgulho: duas vitórias em uma mesma noite. Desmontou da vassoura, aproveitando que vestia-se completamente de preto, em especial tão tarde de uma noite sem luar, e correu até os dois túmulos já conhecidos. Às lápides de Bjorn e Freya permaneciam intocadas. Olhou para o céu, fazendo uma prece rápida e silenciosa aos deuses. Não durou mais do que cinco minutos para deixar-se cair de joelhos no chão. Apesar do acesso à magia, por respeito ao processo Erik cavou mesmo com as mãos.

Enfiava as unhas na terra, fincava os dedos. Demorou muito mais que esperava. Quando liberou o primeiro caixão, usou de alguns chutes para quebrar a parte de cima antes de destrinchar a madeira até ser possível retirar os ossos. Colocou-os do lado do túmulo aberto. Tinha libertado primeiro a mãe. Em seguida, passou para a cova do pai, repetindo o mesmo processo. Levou mais de uma hora no total para conseguir recuperar os dois esqueletos. Quando terminou, as unhas estavam quase desgrudadas dos dedos, ensanguentadas, ardendo e com muita terra. Relevou, claro. Seus objetivos eram muito maiores do que qualquer dor. Suava o bastante para encharcar as próprias roupas.

Então retirou a camisa e rasgou na lateral da costura, abrindo de modo a conseguir apenas um grande pano de chão. Juntou os ossos no centrou e moldou trouxa amarrada com nós grosseiros. Era a maneira mais prática de levar os pais com o que tinha, sem o uso de magia. Ainda estavam muito sujos, com vermes, minhocas e um cheiro péssimo... Mas não se importou. Montou novamente na vassoura, alçando aos céus em um voo rápido. E, assim, tão rápido quanto chegara, o Brandt partiu. Deixou as covas bem abertas, não se importando que alguém pudesse ver o que tinha feito. Em verdade, queria que soubessem. Queria que o Ministério ligasse os pontos e percebesse o erro que cometeu cinco anos atrás.