O enfermeiro continuou me encarando por alguns segundos, eu mantive meu olhar firme, o cara era estranho em um nível alarmante, após alguns segundos ele soltou um grunhido e saiu de perto, o acompanhei com o olhar enquanto ele se afastava antes de voltar a me virar para Adora. O que está acontecendo aqui, Adora? Quem fez isso com você e Regan? E que diabos é esse tesão do enfermeiro em você? Perguntei a encarando sério, se tinha uma coisa que eu consegui observar em meu período no castelo era que aquele lugar era um puteiro, onde as merdas brotavam de todo canto e o fato de Adora e Regan serem atacadas daquela maneira apenas comprovava meu raciocínio.

Adora comentou sobre me explicar o que era toda aquela merda depois, soltei uma bufada, não estava muito confortável com esse “explicar depois”, queria agir naquele momento, vinga-las, mas o olhar de Adora, agora na maca da bonequinha de porcelana, deixava claro que ela não me contaria nada naquele momento, respirei fundo, talvez devesse tentar conversar com Regan novamente, aposto que ela me diria o nome de quem fez aquilo e eu poderia espalhar os pedaços dele pelos terrenos de Hogwarts, mas também não queria forçar aquilo, soltei um longo suspiro, pelo visto teria que esperar alguma das duas abrir o bico, ou tentar descobrir por outros meios. Certo... Encarei Adora. Mas vou cobrar isso ruivinha. Soltei um sorriso, mas assim que descobrisse quem fizera aquilo a conversa seria diferente com essa pessoa, muito mais violenta.

Soltei uma leve bufada e desviei meu olhar para a maca onde a bonequinha de porcelana estava também, então aproveitei que estava ali e que não teria a informação que desejava para aliviar minha raiva provocando um pouco aquele idiota, então, ciente que ele estava encarando Adora e eu, levei minha mão até o braço de Adora, fazendo um carinho suave ali. Então quer dizer que agora você é meu namorado e? Eu não precisava aceitar isso primeiro não? Desviei meus olhos para Adora, que tinha um sorriso brincalhão no rosto, abri a boca para fazer uma piadinha, mas antes que qualquer frase se formasse a cortina que isolava a maca foi aberta, desviei meu olhar na direção de quem abriu a cortina, primeiro lançando um olhar frio, uma vez que imaginei ser o enfermeiro novamente, mas quando meus olhos caíram em Astrid senti como se o mundo inteiro congelasse.

Não tínhamos nos falado desde o incidente no pátio pavimentado, depois daquele dia eu simplesmente a ignorara, ainda estava puto por vê-la beijando Derek, mesmo que no fundo eu soubesse que era uma raiva irracional, não tínhamos nada e eu estava longe de ser alguém que tinha qualquer direito em abrir a boca para falar sobre alguém beijando outro alguém, mas ainda assim aquilo me incomodara de maneira irracional, algo que eu ainda não compreendia bem o motivo, Astrid não era alguém que deveria me afetar daquela maneira, ainda assim ela afetava. Mas, o principal motivo, foi que eu senti um desespero tão grande vendo ela daquela maneira que eu quase enlouqueci, a sensação, a lembrança, de que eu poderia ter perdido ela me doía de uma maneira incompreensível e, coincidência ou não, as duas vezes que aquilo aconteceu eu estava com ela.

Poderia ser só coincidência, mas e se não fosse? Por aquele motivo eu decidi simplesmente me afastar dela, não que fossemos exatamente amigos antes, mas ela me atraía como um imã, de alguma forma eu sempre me via ao seu redor, sempre perto, sempre esbarrando com ela, claro, todas as vezes eu aproveitava para implicar com ela, provoca-la, era divertido, mas eu gostava de sempre sentir que ela estava por perto, de vê-la mesmo que de longe, embora nunca admiti ou compreendi o por que disso, mas o simples pensamento de que eu poderia estar causando aqueles surtos me deixava em pânico, de maneira que eu preferia ficar longe e ter certeza de que ela estava bem do que perto e correr o risco de que algo ruim lhe acontecesse.

Mas agora ela estava ali, na minha frente, simplesmente linda, fazendo meu coração acelerar na mesma medida que eu sentia um nó na garganta, desviei meu olhar para Regan, que agora estava acordada com Brunna ao seu lado. Regan pareceu compreender o desespero em meu olhar, mesmo sem trocar uma palavra eu sentia como se nos comunicássemos perfeitamente, de maneira que assim como sabia que ela reconheceria em meu olhar que o que eu falei sobre namorar Adora era uma mentira para afastar o enfermeiro estranho eu reconhecia no seu olhar o que ela me dizia, que Astrid escutara aquilo e que ela não compreendeu que era uma mentira.

Desviei meu olhar para Astrid novamente, durante toda a curta troca de palavras entre ela e Adora seu olhar não desviou para mim em nenhum momento, eu permaneci em silêncio ali, pela primeira vez, desde que me lembrava, eu não tinha palavras para dizer, nem uma piadinha, nem uma provocação, apenas a observava e, quando ela deu as costas para sair eu continuei parado apenas levando minha mão nas costas de Adora para apoiá-la quando ela se sentou na cama, um movimento natural, automático. Astrid espera! Eu fiz alguma coisa? Você parece... Chateada. Astrid parou.

Naquele momento abri a boca, prestes a falar que o que dissera sobre namorar Adora era mentira, mas o estrume do enfermeiro voltou, seu olhar caiu em Adora de uma maneira estranha, por alguma razão senti que não deveria deixar Adora sozinha com aquele cara e se voltasse atrás no que havia dito certamente não conseguiria impedir aquilo. Respirei fundo, eu precisava reagir, precisava fazer alguma coisa, falar alguma coisa, se por um lado não queria deixar Adora desprotegida com o cara com olhar de exótico, por outro sentia uma necessidade de me explicar para Astrid que era insuportável.