Campo de Treinamento

Campo de Treinamento

O que pode dar errado?

Apesar de eu sempre ter gostado de quadribol - não me lembrava exatamente de como ou quando esse amor tinha começado -, eu nunca ficara tão empolgada com o jogo quanto ao passar nas seletivas para um time profissional. Desde meu último ano em Hogwarts tinha olheiros em cima de mim, eu tinha completa ciência, mas ainda assim foi um alívio ouvir meu nome sendo chamado para continuar em campo ao final daquela exaustiva seleção.

Isso já fazia quase dois anos e até agora ainda não tinha me acostumado com a sensação de fazer parte de um time profissional. Era incrível, em meio à maratonas de jogos, acordar no meio da noite e perceber que fazia mesmo parte do time que eu torcia e acompanhava desde novinha. O pior momento para mim foi quando precisei passar 1 ano e 1 dia em estudo contínuo sem contato com o mundo externo acampada numa mata sem direito à comunicação com qualquer coisa que estivesse fora dos limites do lugar. Observando pelas minhas memórias, parecia pior do que realmente era, afinal eu tinha apenas 8 anos e era obcecada pelo esporte - a ponto de ler o Profeta Diário todo dia para saber o que acontecia com os times, principalmente os Canhões de Chudley. Apesar de tudo, eu não tinha sido obrigada a participar do ato religioso, escolhendo passar deliberadamente por aquilo com autorização de minha mãe (que também era e é minha mentora até hoje).

Hoje o time teria um treinamento mais intenso, segundo o capitão. Fazia décadas que não vencíamos nada e queríamos mudar isso. Como apanhadora, eu tinha que focar na diminuta bolinha dourada voadora. Ela era encantada para não receber outros feitiços o que me obrigava a voar atrás dela mesmo que os demais colegas tivessem findado seus treinamentos. Entrei no vestiário com um óculos de sol enorme sobre meus olhos e uma roupa leve sobre minha pele. Apontando para o uniforme em meu nicho, do outro lado do banco, lancei um feitiço para chamá-lo para mim. Era uma perfeita maravilha poder conjurar feitiços sem varinha, mas de nada adiantava para o pomo de ouro, entretanto eu podia me aproveitar nas pequenas coisas.

Vesti o uniforme padrão de apanhador, envergando o colete de número sete, e chamei a vassoura que estava sobre o banco à minha frente. Eu não me importava em usar uma roupa substituta, mas definitivamente minha vassoura ia comigo à todos os lugares. Segurei-a firme enquanto caminhava para fora do vestiário. Eu tinha chegado em cima da hora e não tinha muito tempo para me preparar. Dei alguns poucos pulos fora da vassoura e logo a montei, voando para o centro do campo. O treinador gritava as ordens do dia: artilheiros treinar arremessos aos aros, goleiro praticar a defesa, batedores atrapalhar os 4 anteriores e eu ir atrás do pomo. Definitivamente meu treino seria exaustivo. O treinador fez sua vassoura descer até seu pé alcançar a caixa que armazenava os balaços e o pomo. No gramado, três goles repousavam. Um chute na caixa e as bolas enfeitiçadas saíram voando.

Meus olhos estavam focados na bolinha dourada, mas num piscar de olhos a perdi. O treinador alçou voo e soou o apito ao mesmo tempo, começando o treino. Aumentei mais minha altitude para encontrar o pomo em algum canto, mas não conseguia encontrá-lo. Voei despretensiosamente em busca de qualquer vislumbre e quando estava prestes a perder as esperanças, vi um brilho do lado direito do campo e embiquei a vassoura para aquela direção. Pouco antes de me aproximar, alguém bateu braço a braço comigo. Virei meu rosto rapidamente e vi o treinador do meu lado, fazendo o papel de meu adversário. Bufei como faria se fosse outro apanhador ali comigo e praticamente deitei sobre o cabo da vassoura, diminuindo assim o espaço para bolsões de ar e ganhando velocidade na disputa. O pomo estava ali e eu me aproximava tão rápido que não tinha como ele fugir de mim. Me estiquei toda, estendendo a mão direita para alcançar a bolinha voadora. Senti suas asas rasparem em meus dedos, arranhando-os levemente. Estiquei mais um pouco o corpo, praticamente saindo de cima da vassoura, e fechei a mão envolta do que achei que era o pomo e caí rolando no chão, minha vassoura se espatifando contra o chão mais a frente, se quebrando.

Abri dois dedos, depois de algum tempo, e lá estava o pomo de ouro, capturado. Ainda caída no chão, levantei o máximo que pude do braço para mostrar que estava com o pomo e logo o deixei cair ao meu lado. Pisquei os olhos e o treinador estava ao meu lado, com sua varinha em mãos fazendo movimentos que logo percebi que eram feitiços de cura. Provavelmente eu tinha desmaiado pela queda em alta velocidade. Me sentei, não sentindo dor alguma. O treinador, vendo-me um pouco mais recuperada, começou a ralhar comigo sobre minha atitude idiota e eu não podia falar nada, já que ele estava certo. Fomos todos dispensados, depois daquilo. Me levantei com um pouco de dificuldade e enquanto voltava ao vestiário, chamei os restos de minha vassoura com o 'Accio' mentalmente e uma das mãos apontada para onde os restos jaziam. Ainda teria que comprar outra vassoura em menos de dois meses. Troquei de roupa sem muito interesse em conversar com os colegas de time e saí dali o mais rápido que pude, com a vassoura quebrada dentro de uma sacola de pano e com o pior humor em semanas.

Mais um treino

Eu finalmente tinha sido integrada aos treinos em campo. Tudo bem que minhas atitudes não foram das melhores. Eu tentei fazer algumas manobras extremamente arriscadas e em praticamente todas elas acabei sendo tratada pelos medibruxos de plantão. Mas eu estava recuperada e, depois de conversar com minha mãe, talvez um pouco menos decidida ao sacrifício pelo pomo.

Cheguei um pouco mais cedo aquele dia. Sem minhas irmãs em casa, não fazia tanto sentido eu demorar. Troquei logo o uniforme e segui para o campo a espera do início do treino, com a vassoura em mãos. Pouco antes de começar, o capitão se aproximou de mim para chamar minha atenção mais uma vez.

O treino foi mais complexo. Não tinha só que voar atrás do pomo, tinha que desviar dos balaços que o treinador fazia vir atrás de mim. Consegui desviar duas vezes, mas na terceira a bola preta acertou em cheio minhas costas, me fazendo deitar sobre o cabo da vassoura para recuperar o fôlego. Tive alguma dificuldade e até abandonei a busca, voltando para perto do chão com medo de cair a qualquer momento. Respirar era difícil, as costas ardiam feito brasa. Falar era impossível.

Deveria ter cuidado? Deveria. Mas isso não aconteceria se o treinador não fosse babaca de aumentar a dificuldade do meu treino enquanto o resto do time trocava balaços e gols. Não demorou muito para um medibruxo vir me atender, me fazendo descer da vassoura e sentar na grama. Todos os cuidados foram tomados, mas eu precisaria visitar o Saint Mungus para garantir que não seria nada pior.

Um joguinho contra as Harpias

Minha vida era o quadribol. De tudo o que eu poderia aproveitar em Hogwarts, o esporte tinha sido a minha maior paixão. Não que eu não gostasse do mesmo desde antes. Ainda criança, com a vassoura de brinquedo que não voava muito alto, eu já demonstrava meu amor por aquele que se tornou meu trabalho. Desde que aprendi a ler, pegava todas as edições do Profeta Diário para saber o que estava acontecendo no mundo quadribolesco. E ninguém sabe de onde essa minha paixão toda veio, já que eu nunca conheci meu pai e minha mãe nunca se interessou por ele antes de eu virar fã de carteirinha.

Cheguei ao estádio naquele dia com essa boa lembrança na cabeça. Era dia de jogo e toda calma era preciso. Era um jogo contra as Harpias de Holyhead pela sexta rodada da liga. Sem enrolar muito, fui para o vestiário trocar de roupa. Em todos os momentos que não em treinos, era preciso vestir-se adequadamente. Portanto o que eu tinha usado era uma calça jeans e uma camiseta do time, no lugar do moletom largo e da camisa comprida que costumava usar. Troquei para o uniforme de apanhadora e tomei minha vassoura rapidamente para me juntar ao time no momento das últimas palavras do treinador.

Montamos na vassoura e voamos para o campo. A torcida gritava animada pelos dois times. Um sorriso não saia de meu rosto, eu adorava aquela empolgação toda. O pomo e os balaços foram soltos, a goles lançada no ar e o apito do início da partida soado. Com alguns segundos, meus olhos já haviam perdido a bolinha dourada, mas felizmente a apanhadora do time adversário também. Aumentei mais minha altitude para procurar pelo pomo sem que um balaço desgovernado chegasse a mim. Não que eles não fossem ser direcionados à mim, vez ou outra eram sim.

A busca pelo pomo ia implacável. A bolinha dourada fugia sempre que eu conseguia me aproximar o suficiente para capturá-la. Já deviam ter se passado algumas horas de jogo. Meu corpo se mantinha rígido enquanto procurava mais uma vez a pequena voadora. A outra apanhadora fazia o mesmo do outro lado do campo. Avistei um brilho perto da grama. Não sabia o que era, mas me aproximei da mesma forma. Uma descida em vertical que meu treinador não iria gostar nada. Vi minha adversária me seguindo e uma bola de ferro passar a centímetros do cabo da minha vassoura. Quanto mais me aproximava, mais nítida ficava a bolinha ali no gramado.

Faltavam pouco menos de cinco metros do chão quando puxei a ponta da vassoura para diminuir a velocidade e voar rente ao chão, dessa vez sem me machucar ou destruir a vassoura. Estiquei a mão direita e... capturei o pomo! Eu tinha conseguido! A partida tinha terminado!

Aterrissei devagar com a mão do pomo levantada, o estádio inteiro gritando de empolgação... Levou quase uma hora entre eu ter capturado o pomo e enfim irmos para o vestiário.

-Você teve sorte hoje, Peregrine. Já lhe disse que não é para fazer essa manobra. - reclamou o treinador antes de liberar a todos.

Let it Rain over me

Legendas:

Jake / Maeve / Malia / Eliot / Outros