A jovem lia trazia nas mãos uma carta de seus pais. O conteúdo não era o mais agradável; Skadi anunciava que ela e Nijörd teriam que passar muitos meses na reserva mágica australiana e seria muito possível que eles só se conseguissem ver no final das suas férias de verão. Ainda faltava bastante tempo para que as férias chegassem, porém eles pareciam ter tanta certeza na carta que Athenaïs sabia que não veria os pais tão cedo. Sabia e entendia que era filha de dois espíritos livres, mas adoraria poder passar mais algum tempo com eles. Especialmente porque sentia saudades do ambiente pacífico e confortável que viveu durante toda a infância. Como se soubesse que a dona estava triste, Bats planou e pousou em seu ombro, esfregando a cabeça contra a bochecha de Athenaïs, que apenas riu baixinho.

— Oi, oi. – disse, passando o seu dedo indicador pela cabeça do animal. – Tem razão. Passar tempo na casa dos primos não vai ser tão mau.

Estava caminhando perto do Lago Negro, como sempre fazia quando precisava de um pouco de tempo para si. Guardou a carta no bolso interior das suas vestes e focou toda a sua atenção em Bats. O corvo levantou voo, circulando a dona a metros de distância, aproveitando para esticar as asas após um longo dia dentro da sua jaula. O som do vento e dos pássaros cantando naquele final de tarde foi rapidamente substituído por um pedido de ajuda. Athenaïs congelou no lugar, temendo o que poderia ter acontecido para que alguém gritasse por ajuda naquele momento. Logo forçou-se a correr na direção do Lago Negro. Foi surpreendida por uma garota de vestes vermelhas, presa pela mochila num galho perto da água. A loira suspirou, aliviada. Afinal ninguém estava morrendo.
Se aproximou da jovem, soltando a sua mochila do galho com cuidado. Quando viu que a moça estava livre, Athena sorriu e se afastou um pouco. Não se lembrava de a ter visto. Mas isso era comum para a loira que quase sempre andava com os olhos presos no chão ou num livro.

— Acho que resolvi o seu problema. – disse, após soltar um riso tímido. – Você está bem?

Observou a garota à sua frente, incapaz de não dar uma risada quando a mesma mencionou Godrick Gryffindor. Era sabido que a casa deste fundador era conhecida pela sua coragem então faria sentido que a desconhecida temesse a fúria do já há muito falecido Gryffindor. Tal como Athena temia Rowena aparecendo em seu quarto as três da manhã, ordenando saber porque as suas notas eram tão ruins em História da Magia.

— Ah! – a loira exclamou, surpresa pela rápida mudança de assunto, mas logo sorriu para a morena. – Athenaïs, pode me chamar de Athena. Também sou primeiranista.

Os seus olhos divergiram da face de Maya, indo diretamente para os alunos que observavam a situação ao longe. Variados pontinhos coloridos se espalhavam, atraídos – tal como ela própria fora – pelos gritos da grifina. Athena apenas assentiu, também se afastando do lago para não molhar os seus sapatos. Não tinha muita intenção de falar com quem apenas ouviu um grito e veio ver, não ajudar mas se certificaria de passar a palavra.

— Pode contar comigo! – disse com um sorriso sincero em seus lábios. – Para todos os efeitos, acabamos de lutar contra um basilisco.

Bats rapidamente se juntou as garotas, descendo dos céus até pousar no ombro de Athenaïs, como a dona tinha instruído. O corvo curvou a cabeça para o lado, olhando certamente curioso para Maya; animais inteligentes que corvos eram. Era impossível que Athenaïs não fizesse um carinho nas penas negras de Bats.

— Este é o meu corvo Bats. Bats, essa é a Maya.

Ficou surpresa pela pergunta da menina. Olhou para Bats, que analisava Maya com os seus olhos negros, claramente cintilando em curiosidade pela nova amiga da dona. A mente da Odinson foi até quando o viu pela primeira vez na loja de animais no beco diagonal. Apenas um filhote, sem saber nada do mundo, tal como ela.

— Eu comprei ele numa loja do beco diagonal. – disse, esfregando a bochecha nas asas do bicho. Mas antes de continuar a história de como conheceu o seu corvo, rapidamente se apercebeu das restantes palavras da grifina. – Espera. Pavões? Eu amo pavões! A direção devia ter deixado você trazer um pavão!

Inflou uma das bochechas, irritada. Realmente não fazia muito sentido como ratos, sapos, corvos e furões eram aceites na escola mas um pavão não seria. O quão incrível deveria ser viver com um pavão e as suas penas maravilhosas? O que Athena não daria para voltar a ver um pavão naquele momento.

— Eu lembro quando vi um pavão pela primeira vez. Eu era bem pequena e na reserva em que os meus pais trabalhavam também tinha alguns animais trouxas e eles pegaram um pavão e trouxeram pra lá. – era possível ver no rosto distraído de Athenaïs que, enquanto falava, ela revisitava as memórias. – Ele não era muito simpático. Talvez porque eu só falava inglês e ele não me entendia. Hindu era muito difícil pra mim na época.