Sala dos Promotores

Oxlade Foucault

Os olhos rígidos do homem encaravam o conteúdo nos papéis através das lentes finas e elegantes dos óculos de armação grossa, à medida que se reconfortava no assento macio da poltrona de couro negro. Porém, apesar de estar visivelmente ocupado com inúmeras papeladas da promotoria, organizadas sobre a superfície de sua mesa; sua mente se encontrava absorta em pensamentos conflitantes. Imaginando o que havia acontecido com Marine para ter o afastado tanto nos últimos dias, praticamente evitando a sua presença em todos os pontos que se faziam possíveis dentro em casa. — Será que fiz algo? — Questionou-se, suspirando profundamente e pousando os papéis que analisava sobre a mesa, não conseguia identificar o motivo que levara sua esposa a evita-lo. Por outro lado,  também tinha outros pensamentos que vinham ameaçando dominar a sua mente, os quais se mostravam ainda mais problemáticos é que certamente o levariam a um péssimo estado de espírito se começasse a pensar agora.

“Droga! Preciso focar no trabalho.” Fechou os olhos e retirou os seus óculos, erguendo-se da poltrona e caminhando até a mesa de bebidas, localizada no canto da sala. Buscou para si uma xícara de café, entretanto para a sua infelicidade a cafeteira estava vazia. — Merda! — Suspirou novamente, num gesto que demonstrava todo seu descontentamento com a situação. Todavia, não tinha tempo para ficar perdendo com seus problemas pessoais, pelo menos não enquanto estivesse naquela sala. — Senhorita Scott! — Caminhou até a porta, chamando a estagiária a serviço da promotoria, esperando que a mesma pudesse lhe fazer o favor de conseguir uma xícara de café, por mais injusto que pudesse ser usar a jovem para trivialidades como aquela. Esperou que essa adentrasse a sala.

Pouco tempo depois, a jovem de madeixas loiras, pele pálida e olhar curioso se prostrava a sua frente na sala, parecendo bem disposta para o trabalho. — Sei que não é uma tarefa sua, mas poderia ser uma boa garota e me conseguir uma xícara de café, sim? — Questionou, esboçando a sombra do que parecia ser um sorriso, antes de indicar as papeladas que repousavam sobre a mesa. — Depois precisarei da sua ajuda com isso. — Acrescentou, esperando pacientemente que ela atendesse seu pedido, se bem que tinha certeza que o atenderia, afinal, fora bastante sortudo por ter a prestativa e competente jovem Scott como estagiária na promotoria. Já mais tarde é com o café em mãos, voltou a trabalhar o mais rápido possível com a papelada. Terminando com eles, antes de deixar o local. Faria uma visita a sua esposa, ela tinha que responder algumas de suas perguntas, principalmente sobre a forma como vinha nos últimos dias. Ajustou seu paletó e deixou o local.

Off.

Na imponente, ampla e confortável sala da promotoria se encontrava, Dracco Foucault — atual promotor da casa —, um brilhante e promissor jovem ministerial, que havia assumido há poucos anos a posição de promotor. Desempenhando as suas funções com demasiada competência, se não, maestria. Conhecido pelos seus colegas ministeriais, como Dracco “O Inflexível”, tinha se tornado uma lenda pelos corredores do Ministério por sua conduta rígida e impecável, diante das adversidades que enfrentava em seu dia a dia na promotoria e em julgamentos. Calando as más línguas que diziam que um jovem inexperiente como ele na época, recém-chegado a posição por influência familiar — seu primo é um juiz com muitos anos de Ministério, possui uma certo renome e influência política na sociedade mágica britânica —, não teria os culhões necessários para suportar a pressão que o cargo possuía, assim como enfrentar os inúmeros problemas existentes na própria casa julgadora.

Devido as muitas opiniões contrárias entre os demais ministeriais que a compunha, no entanto, com a sua postura inflexível e mente astuta, Dracco vinha conseguindo dobra-los um a um, levando-os sempre a seguir uma pauta consensual de opiniões nos julgamentos que levava para as mãos da suprema corte. Comportamento que muitos consideravam arrogante, mas necessário para as questões que o Foucault enfrentava sem eufemismos e demagogia. Os fins sempre justificam os meios, sempre pensou nisso, assim como boa parte de seus familiares. Embora seguissem propósitos honrados. Se não levasse essa filosofia em conta, jamais teria chegado tão jovem a sua posição, mesmo sendo um indivíduo profissionalmente promissor. O Foucault ajustou os seus óculos sobre a face, além de afrouxar o nó metódico de sua gravata vermelha de seda, encarando seriamente as folhas de papéis sob as suas mãos. Documentos e requerimentos para julgamentos atrasados no supremo, quais deveriam ser colocados em pauta na próxima reunião com os juízes da casa, também provavelmente remarcados para os próximos meses.

Porém, o que chamou a atenção do promotor, foi a mensagem que chegou a sua mesa. Trazida por uma coruja a serviço do departamento de Execução de Leis da Magia, que retratava sob planilhas um ínfimo crescimento na criminalidade existente na comunidade bruxa britânica, muitos crimes de ódio cometidos contra trouxas, torturas e assassinatos. Um suspiro pesaroso escapou por entre os lábios róseos do Foucault, à medida que os seus orbes azulados vistoriavam os dados com muita seriedade e certa frustração. Visto que como ferramenta usada a serviço da lei, não podia reconhecer e tolerar uma crescente onda de criminalidade.

Penas mais duras para esses criminosos, seriam defendidas por ele nas próximas reuniões entre os membros do judiciário, se é que eles marcariam alguma reunião para discutir esse assunto. Já que muito provavelmente somente o departamento de Execução das Leis da Magia ficaria responsável por resolver a situação, como atribuição principal de sua alçada, responsáveis pela segurança e ordem no mundo bruxo. Dracco, entretanto, poderia conversar sem muita burocracia, com importantes figuras do Ministério em sua própria casa. Afinal, como mencionado antes, era primo de Cygnus, um juiz e também de Livius, um Auror. Dracco jogou os papéis sobre a superfície da mesa e descansou as costas sobre o encosto macio da poltrona, cerrando os olhos por alguns instantes. Imaginando o quão difícil, mas satisfatório era trabalhar no Ministério, numa posição influente e de destaque, embora, sob muitas responsabilidades. O Foucault logo voltou a abrir os seus olhos e encarar o seu elegante relógio de pulso, notando estar na hora de ir buscar sua esposa. Marine, no Três Vassouras. Diante disso, ergueu-se de sua poltrona e ajustou a sua grava e paletó, deixando a sala em seguida e posteriormente o Ministério.

Off.

∆ LYL - FG