Clareira da Floresta Proibida

Eu havia arrumado minhas coisas logo após as aulas, numa pequena mala eu jogo um conjunto extra de roupa quando me lembro das instruções de meu pai e de como ele sempre dissera que estaria ali para mim quando me transformasse. - grande idiota - digo saindo de meu quarto e com mais cuidado da comunal.

O caminho até a cabana do guarda caças foram tensa e cheia de adrenalina afinal eu corria o risco de ser pego e com ordens de retornar a comunal, o que era perigoso de mais.

Kiara estava atrasada, há quase uma hora. E aquilo começou a me preocupar ao ponto de ja não conseguir me manter parado. Caminhava de um lado ao outro incessantemente até que dou um pulo ao ouvir sua voz. Me viro para ela e paro o meu caminhar. Feliz por vê-la bem e inteira e com um novo visual - Uau, você esta deslumbrante Kie - mal termino de elogia-la e sinto uma fiscada forte em minhas costelas, solto um grito de dor e sinto minha vista embaçar por alguns segundos. - Vamos mais para dentro da floresta, logo as coisas vão ficar mais... visiveis. - ela diz gesticulando para meu rosto.

Assinto com a cabeça. Aceito sua ajuda para me levantar e então adentramos a escuridão da floresta. Eu não sabia que riscos que corriamos ali, não era um local nada seguro para humanos e nós dois sendo de outra espécie eu acreditava ser ainda mais. - Ele disse que a primeira transformação é a pior, a mais longa e mais dolorosa, não vou me lembrar de nada que fizer e que pouco antes de voltar ao estado humano meu cerebro meio que vai desligar e quando eu acordar também não vou estar vestido... - desvio meu olhar do seu ao dar aquela informação. E a escuto rir. Tavez de minha vergonha ao dizer aquilo para ela.

- não se preocupe Bash, vou estar aqui pra não deixar que ninguém te veja sem roupa- ela diz colocando em minha mão a poção que tanto falavamos - anda, beba logo para fazer efeito. - eu abro o fraco jogando todo o liquido para dentro da boca e engolindo-o rapidamente. Começo a tossir quase que imediatamente, sinto toda minha garganta como se estivesse em chamas. - O que... o que era isso? - pergunto apoiando meus joelhos no chão tossindo alto e sentindo que podia vomitar a qualquer momento. - a poção que falamos, de aconito Bash, o que esta sentindo? - ela pergunta se ajoelhando em minha frente e segurando meus rosto em suas mãos.

Posso ver meu reflexo em seus olhos, minhas pupilas amarelas indicavam que estava começando. "A primeira coisa a mudar são os olhos.. sempre são os olhos" um flash de uma das conversas com Cadmus, meu pai, me vem a mente. - você precisa ficar longe agora Kie, não quero machucar você - eu digo tentando me afastar dela, mas suas mãos continuam firmes em meu rosto observando bem cada detalhe dele. - Eu vou ficar bem aqui Bash - ela se aproxima encostando nossas testas e fechando os olhos.

Kiara não sabia o poder que tinha sobre mim, eu poderia até mesmo dizer que estava apaixonado por ela, mesmo sabendo que ela não sentia o mesmo por mim, eu me contentava com o pouquissimo que tinha vindo dela. Sem abrir os olhos ela conecta nossos labios em um selinho rapido um gesto tão simples, mas que fez meu coração bater mais rápido em meu peito. Era como se, por um breve momento, toda a dor e a escuridão ao meu redor desaparecessem, deixando apenas nós dois em um mundo só nosso. - Feliz aniversário Bash. - ela disse com um sorriso gentil antes de se afastar, deixando-me sozinho na clareira. Eu a observava partir, sentindo uma mistura de gratidão e tristeza por tudo o que ela significava para mim.

À medida que a lua cheia brilhava intensamente sobre a clareira, eu sentia meu corpo começar a se contorcer com uma dor crescente. Cada músculo, cada osso parecia estar sendo torcido e rearranjado, enquanto a transformação se aproximava inexoravelmente. Minhas unhas se alongavam em garras afiadas, e uma sensação de fúria primal começava a borbulhar dentro de mim.

Com um suspiro pesado, eu me preparei para o inevitável. A transformação estava chegando, e não havia como escapar dela. Eu sabia que teria que enfrentar meus demônios internos mais uma vez, lutando contra a besta que ameaçava consumir minha humanidade.

Enquanto a lua cheia alcançava seu ponto mais alto no céu, eu me entreguei à escuridão, deixando-me ser consumido pela fera dentro de mim. A dor era excruciante, mas eu sabia que precisava resistir, lutando contra as correntes da maldição que me aprisionavam.

E assim, sob o olhar silencioso da lua, eu me tornei aquilo que mais temia: um lobisomem. Minha mente se obscureceu, minhas lembranças se dissiparam, e eu me entreguei à selvageria da transformação, esperando que um dia pudesse encontrar uma maneira de me libertar deste destino sombrio.