Dormitório Feminino

A chegada em Hogwarts havia sido turbulenta por causa do novato gringo mas quando cheguei em minha comunal foi como se eu tivesse voltado para casa. Respirei fundo o delicioso aroma fresco da comunal e com minha mala me guiei ate os dormitórios pegando o mesmo quarto do ano passado. Entrei puxando minha pesada mala que por incrível que pareça Malia que havia montado. Sabe-se lá o que haveria ali dentro, espero eu que somente roupas. Joguei minha mala no chão ao lado da cama que escolhi, a mais próxima da janela, pois gostava de acordar com o calor do sol, principalmente na época de inverno no castelo. Com um aceno de minha varinha a mala se abriu e minhas coisas levitaram ate o armário ao lado da cama se guardando por conta própria.

Respirei fundo e coloquei meus braços atrás da cabeça depois que terminei e fechei os olhos relaxando quem sabe eu não aproveitaria e tirava um cochilo antes do jantar e cerimonia. Abri meus olhos pouco tempo depois ao ouvir a porta do dormitório abrir, finalmente uma colega de quarto havia chegado. Me sentei na cama e vi a morena a minha frente, seu sorriso tímido e olhos azuis vivos como os meus. A menina se apresentou como Beatriz, um lindo nome português, sorri e me aproximei mais da beirada de minha cama. Bem-vinda, Beatriz. Meu nome é Adora. Sou sua colega de quarto. Falei para a mesma que agradeceu  e afirmou ser um prazer me conhecer. Eu havia reprovado de ano, apesar de estar na mesma sala que ela, estava a um ano em Hogwarts, diferente dela que era nova ate mesmo pelos arredores.

Se quiser posso lhe apresentar o castelo, vou te mostrar os lugares mais interessantes! A cozinha é um deles. Falei com um sorriso, para os espertos a cozinha era uma inesgotável fonte de comida e guloseimas. A menina me respondeu enquanto abria sua mala e eu como um espirito curioso deixei meus olhos caírem sobre seus pertences, notando um tom azul celeste muito característico de outra escola bruxa. Você veio de Beauxbatons? Perguntei pegando a menina de surpresa, depois reparei que eu podia estar sendo talvez um pouco indelicada em estar me metendo em sua vida privada. Desculpa, é que estou vendo daqui seu antigo uniforme na mala. Fiquei curiosa em saber o que te fez querer vir para cá. Lá é ruim? Perguntei de forma inocente para a menina enquanto me mantinha sentada sobre a beira de minha cama e esperava sua resposta.  

Post Atemporal: Primeiro dia ON em Hogs.

Eu estava enrolando para fazer aquela atrocidade mas enrolar aquilo significava enrolar meu futuro encontro com Lillian, o que eu almejava demais. Como acordado entre nos dois, eu invadiria a privacidade de Adora somente para confirmar que ela possuía mesmo esse colar que Derek descrevia. Entrei na comunal e para meu azar acabei dando de cara com minha irmã na entrada. O que esta fazendo aqui, esta cedo demais para ir dormir nao? Estou indo lanchar se nao estiver fazendo nada pode me acompanhar. Disse ela com um sorriso parando a minha frente, ela sabia que eu gostava de dormir cedo mas cinco horas da tarde era cedo demais ate para mim. Eu senti meu coração apertar pois detestava mentir em geral, principalmente para minha família e aqueles que amo. Vim pegar minhas bexigas, Kieran me convenceu a mais uma partida contra ele. Quem sabe outra hora irmãzinha. Falei com um sorriso falso, segui os conselhos de Kieran em pensar mais em mim de vez em quando, por mais que fosse desconfortável. Ok! Mas nao aposta seus galeões todos desse mês, nao vou emprestar o pouco que mamãe nos oferece. Falou e eu sorri assentindo com a cabeça e dei um beijinho em seu rosto passando para ir ate as escadas que davam aos dormitórios masculinos e femininos. Fique tranquila que se eu falir, nao irei pedir emprestado. Falei e dei as costas a ela que ia saindo da comunal e subi as escadas virando para a esquerda que dava para a ala feminina.  Invadir o quarto nao me deixava nervoso, eu sabia brevemente da rotina da ruiva, sabia que ela passava o inicio as tardes lendo na biblioteca quando os alunos preferia passar o tempo no jardim vendo o pôr do dia. Entrei rapidamente para que nenhuma outra garota me visse e olhei o quarto que ela dividia com minha irmã.

Do lado esquerdo, as coisas de Beatriz, sua excelente organização ensinada por nossa mãe desde nossa infância se mostrava presente. Olhei para a direita e me aproximei as pressas do lado de Adora, primeiro dei uma olhada geral tentando imaginar onde ela poderia guardar um colar de perolas. Em segundo levei em consideração a historia de Derek, imaginando onde ela esconderia se fosse esse o caso. Primeiro olhei debaixo da cama, depois abri as gavetas das duas mesinhas ao lado da cama. Com delicadeza olhei em baixo do travesseiro e colchão sem deixar nada desarrumado. Fui a frente da cama e tirei a varinha do bolso. Alohomorra. Falei abrindo o pequeno baú trancado que tinha, mexi em alguns cartas pessoais, fotos de seus pais e sua casa bem camponesa bruxa e a culpa em meu peito crescia cada vez mais. Fechei o baú e o retranquei para nao deixar meus rastros e caminhei ate o armário de suas roupas. O abri com sentimento de culpa e mexi em suas roupas com delicadeza e no fundo do armário eu vi uma pequena caixa de joias também com um cadeado. Se esta mesmo com ela, só resta este lugar. Alohomorra. Eu conjurei ignorando as duas primeiras gavetas do armário de roupas intimas que eu faria questão de nao olhar. Abri a pequena caixa de joias e vi dois pares  de brincos dourados e o suposto colar de perolas, envolto em um delicado tecido branco que o protegia de bater nas outras bijuterias. Segurei o colar em mãos por alguns segundos pensando na historia de Derek que parecia ter sim seu fundo de verdade. Viktor? Perguntou uma voz que me fez gelar ate a espinha, com o susto eu ergui meu corpo que estava curvado e bati a cabeça na parte de cima do armário e sai me virando e infelizmente mostrando o colar em minhas mãos. Adora eu... Posso explicar tudo, eu garanto que o quer que esteja pensando, nao é isso! Falei colocando seu colar sobre o armário que estava aberto e erguendo minhas mãos na direçao da ruiva eu me olhava  friamente e cruzava seus bracos a minha frente antes de voltar a falar sem me dar chance de explicar.
  

Depois da minha conversa com Kieran eu fiquei o resto da semana inteira atenta aos movimentos de Viktor, só esperando o momento que ele fosse tentar por a surpresa de Derek em meu quarto. Eu sai cinco minutos mais cedo da aula de ingredientes mágicos para poder ir a comunal pegar um novo livro. Aproveitei e passei pela porta da aula de Alquimia onde Viktor deveria sair mas ele nao estava. Acelerei meus passos e fui ate nossa comunal, na saída encontrei Beatrice, sua irmã. Oi Bia, viu seu irmão por ai? Perguntei e ela me respondeu que ele tinha acabado de entrar para pegar suas bexigas para apostar com Kieran. Na hora eu soube que era uma mentira pois o grifino estava batendo papo com Laura no corredor do terceiro andar. Entrei em nossa comunal e fui as pressas ate meu dormitório e foi exatamente onde eu o encontrei, agachado mexendo nas gavetas do meu guarda-roupa.

Viktor? Perguntei como se esperasse que ele se virasse e quando virou sua cara era de grande espantou, começou a gaguejar e eu precisei segurar meu sorriso. Pois quero uma explicação mesmo! Fiquei sabendo que você e Derek estão planejando deixar uma surpresa para mim? Voce realmente aceitou ele com isso? Perguntei esperando o pior de Derek que queria me ver derrotada para pegar o colar mas nao esperava que o moreno a minha frente fosse ser capaz de aceitar ajudar o outra. Escutei ele explicar que nao iria por surpresa ou pegadinha alguma em meu quarto, que estava ali para averiguar se eu estava mesmo com um colar do loiro. Foi isso que ele te contou? Tentou usar de seu poder de monitor, mas que desgraçado... Perguntei para ele e o resto da frase falei mais baixo para mim mas ele ouviu.

Derek esta acusando meu pai de ter roubado esse colar da família dele mas isso é impossível, meu pai nao seria  capaz de fazer algo assim. Expliquei a verdade para o moreno arqueou a sobrancelha surpreso mas confuso. Ele me  questionou  como eu sabia que nao era verdade e eu no fundo nao sabia mas sentia que meu pai nao faria isso. Eu nao sei de onde ele tirou essa historia, mas esse colar esta em minha família  ha anos. Nessas férias eu vou viajar a Itália para saber de onde ele esta tirando essas suposições dele. Falei para o moreno que estava incrédulo, talvez por eu falar como se fosse uma adulta completamente independente que estava comprando minhas próprias passagens para a Itália. Passei por Viktor e guardei o colar na sua caixinha novamente e olhei para o moreno. É a única coisa que me restou dos meus pais. Ele nao vai por as mãos, pode avisar isso a ele. Falei fechando a gaveta e me virei para Viktor novamente que voltou a falar.

Já era uma vergonha o papel que eu estava prestando em invadir o espaço de outra pessoa, pior ainda estava sendo ser descoberto por ela. Eu senti meu coração acelerar, eu estava infringindo mais de uma regra da escola, invasão da privacidade  de outra aluna e o dormitório feminino, se ela quisesse podia tirar de mim meu cargo de monitor. Escutei ela afirmar que sabia que eu e Derek planejávamos uma surpresa e olhei confuso percebendo que já existia um telefone sem fio pelos corredores e ele estava todo errado.  Eu nao ia por surpresa nenhuma, eu juro! Ele só me pediu que eu confirmasse que você possuía um colar de perolas, ele disse que você roubou dele. Como monitor eu... Eu precisei averiguar mas eu devia ter ido ate você e... Falei mas me calei quando a ouvi estupefaça afirmar que eu estava sendo usado por causa de meu cargo mas eu no fundo sabia que nao era por isso, eu nao estava sendo totalmente sincero, havia por mim mesmo aceitado em troca de favores pessoais. Ela começou a explicar sua versão dos fatos, na verdade ela nao possuía prova alguma de que Derek estava mentindo, assim como ele nao possuía provas de que falava a verdade. Não seria capaz ou é o que você acha que ele nao seria capaz? Eu perguntei e na mesma hora Adora me encarou com uma expressão mais fria como se eu tivesse insultado seu pai, me prontifiquei em me explicar. Nao estou acusando seu pai nem nada, mas eu achava meu pai um exemplo e fui crescendo e entendendo as coisas como realmente eram... Só estou tentando dizer que as vezes imaginamos uma pessoa de um jeito, quando na verdade ela não são. Falei e a vi amenizar sua expressão brava e a vi refletir sobre minhas palavras. Meu pai passava uma linda imagem de bom moço mas quando fui ficando mais velho fui descobrindo seus demônios, sua forma mais violenta e agressiva com minha mãe quando fora dos olhares de outros.... 

Só acho que Derek nao tiraria essa historia do nada e nem vejo motivo para mentir sobre isso. Não é como se sua bijuteria valesse muito... Ou vale? Perguntei no final ate mesmo curioso, podia estar mexendo com um colar que estava no olhar de diversos bruxos e nao sabia. A escutei reafirmar que tinha certeza da honra de seu pai e ignorou minha ultima pergunta levando a conversa para seus futuros feitos. Arregalei os olhos quando ouvi ela falar que viajaria ate a Italia para descobrir coisas de Derek. Calma Adora, ir ate a Itália? Nao esta exagerando nao? Você esta falando como se viajar para outro pais fosse super tranquilo. Eu falei enquanto ela passava ao meu lado e guardava o colar polemico de volta de onde eu havia pego.  A escutei falar que aquele colar era a única coisa que restava de seus pais e eu liguei pontos importante de sua trajetória nesses dois anos seguidos no quarto.  Ela havia passado por uns problemas pessoais no ultimo ano, me lembro de oferecer meus livros para que ela pudesse tentar acompanhar o que estava perdendo quando fora do castelo. Eu nao sabia muito mas boatos rolavam sobre seus pais estarem doentes. Eu darei seu recado a ele, fique tranquila. Falei escolhendo nao perguntar sobre o destino de seus pais, sua frase era suficiente para eu saber o básico. Sua historia de ir a Itália agora me preocupava mais que antes, se seus pais nao estavam mais aqui ela nao estava pensando em ir sozinha ne? Mas Adora, essa viajem ate a Italia, você nao pensa em fazer ela sozinha, é loucura! Falei para ela que deu de ombros fechando seu armário como se sua ideia nao fosse nada demais. A escutei dizer que iria com um casal de mulheres que conheceu a alguns meses. Senti meu olho esquerdo piscar quase tendo um derrame ouvindo a historia mais sem nexo e perigosa que a ruiva estava contando.

Um casal de mulheres? Adora isso é insano, elas pelo menos vão ficar com você lá? Perguntei e ela negou com a cabeça cotando que uma das mulheres nao podia se envolver em qualquer problema por seu passado tortuoso. Eu olhei ela em silencio por alguns segundos tentando acreditar que essa ideia maluca estava vindo de uma das alunas que mais estudava de nossa casa. É isso, nao vou deixar você ir sozinha nessa ideia louca, ainda mais com uma ex comensal??. Nao vou deixar que você morra comigo sabendo que eu podia ter evitado isso. Eu quero ir junto. Falei de impulso, talvez por eu ter desenvolvido um trauma depois que descobrir que minha mãe apanhava. Por algum motivo eu nao conseguia ver pessoas em perigo ou se colocando em perigo sem me oferecer para as salva-las ou ajuda-las.  

A verdade era que naquele retorno para a comunal, depois de ver Aaron com Adora confortáveis um no braço do outro, eu estava despedaçada. Era como se mais uma vez eu tivesse sido abandonada por todos.

Aparte dos meus amigos, Aaron era a pessoa que eu tinha criado um afeto enorme. Não podia dizer que o amava,mas talvez sim. Havia me entregue a ele de todas as formas que eu podia, fisicamente, mentalmente até mesmo de uma forma astral mas ele não. Eu sabia que de alguma forma ele sempre pertencera a Adora e não a mim e a parte que mais doía era que mesmo sabendo disso eu aceitei me apaixonar por aquele filho da puta e a pior parte era ele ter mentido não só a mim mas a ele mesmo e se permitido enganar outro que realmente queria estar com ele e assumi-lo.

Deito em minha cama com todas aquelas lágrimas de tristeza rolando por meu rosto, com o punho fechado contra o peito tentando conter a dor física que a decepção estava meu causando. E quando a exaustão bate adormeço.

Rosalie

As mãos tremem ligeiramente enquanto preparo a infusão, meu coração pulsando com uma determinação sombria. Minha mente está repleta de pensamentos de vingança, uma necessidade ardente de fazer Aaron e Adora pagarem com dor e sofrimento.

Ignorando os sinais de advertência do meu instinto, tomo um gole do líquido amargo com uma mistura de raiva e ansiedade. Instantaneamente, sinto um aperto no estômago, uma onda de náusea que se revira em meu interior como uma tempestade furiosa.

Meus lábios tremem e minha visão turva enquanto o gosto amargo parece se espalhar por todo o meu ser. Cada gole é uma punhalada de dor e arrependimento, uma lembrança cruel da verdadeira natureza da minha busca.

Enquanto luto contra as ondas de náusea que ameaçam me derrubar, percebo a ironia amarga da situação. Aqui estou eu, buscando vingança cegamente, sem considerar as consequências dos meus atos. E agora, é meu próprio corpo que paga o preço pelo meu desejo insensato de retaliação. Escondo as coisas dentro de meu baú indo pata minha cama.

Com um gemido abafado, coloco a xícara de lado, sentindo-me fraca e vulnerável diante da minha própria imprudência. Deito-me em minha cama com os joelhos próximos ao peito quando escuto alguém entrar por ali. Aquele era o momento. Solto alguns gemidos de dor, que era reais mas o motivo se perguntado não seria.

Rosalie Sienna