Não havia como negar o nervosismo de Dagny: enroscava os dedos de uma das mãos na outra, e assim fazia repetidas vezes, tudo porque estava ansiosa. Foi repreendida por sua mãe assim que o movimento passou a se tornar cada vez mais constante, tão natural como respirar. Mas como não poderia ficar nervosa no dia que iria comprar a sua varinha? Muitas coisas passavam pela sua cabeça, e a grande maioria delas não eram nada positivas. A possibilidade de coisas ruins que poderiam acontecer, como nenhuma varinha escolhê-la, ou todas as que ela testasse fazerem a maior bagunça ao serem usadas, causando complicações para os funcionários e para os seus pais...

Já andavam pelo beco um tanto estreito há alguns minutos, desviando de bruxos apressados, atrasados para seus devidos trabalhos, ou para pagar contas, e até mesmo alguns bruxinhos de sua idade estavam ali também, em busca dos materiais necessários para os estudos. Percebeu o letreiro grande ao longe: Varinhas Olivaras. Era uma das lojas mais antigas do Beco Diagonal, ela sabia; era belíssima, de arquitetura diferenciada, notoriamente não construída naquela época. Dagny nutria grande fascínio por lugares antigos, ela continuava observando a fachada até respirar fundo e seguir os tutores para dentro. A sineta acima da porta balançou, anunciando sua chegada. Outros jovens presentes encararam a recém-chegada garota de cabelos claros, e Dagny não pôde evitar esconder-se um pouco atrás do pai. Os cochichos a respeito de serem os imponentes Sennett Odinson começaram e ela sabia. Nove anos convivendo com aquilo tudo, mas ainda assim não estava acostumada... Um tanto apreensiva, esperava por sua vez a ser atendida enquanto evitava cruzar olhares com alguém, preferindo analisar o ambiente e as pilhas de caixas espalhadas pelas estantes, além dos efeitos provocados pelas primeiras demonstrações de magia com varinha. Teve de desviar de algumas faíscas desgovernadas de alguém durante o processo.

Quando sua vez finalmente chegou, ela foi encorajada pelos pais a resolver sozinha a compra, enquanto eles estariam mais ao fundo conversando com parceiros. Dagny assentiu; pelo menos eles não iriam presenciar qualquer fracasso que ela pudesse cometer. Ao vislumbrar o velho fazedor de varinhas aproximar-se, conseguiu fazer um esforço para que a voz infantil solicitasse:

— Estou procurando por uma varinha...

— Então uma varinha te encontrará. — O senhor Olivaras complementou com uma piscadela, dando as costas para ir ao fundo da loja. — Oh, sim, a fita é meio mal-educada, mas não lhe fará mal, isso eu garanto! — Não entendeu, até sobressaltar quando uma fita métrica passou a dar voltas ao redor da circunferência de seu braço, pulso, altura em geral... Dagny acuou-se um pouco, mas felizmente o processo fora rápido.

O ancião começou a esquadrinhar as tantas estantes e puxar caixas e mais caixas. Elas, por sua vez, foram sendo abertas em fileira no balcão.

— Pois bem, senhorita Odinson, aqui estão algumas que acredito que lhe trarão satisfação. Vá em frente, pode testá-las sem medo.

Sem medo? Era fácil falar! Cada varinha que ela experimentava parecia ter algo que a mantinha ainda mais longe de seu objetivo ali. Uma era muito grande, a outra era feia; aquela parecia ser para destros, uma lhe fazia cócegas. Outra soltou explosões quando a estendeu. Já estava começando a ficar preocupada em relação aos próprios dotes mágicos, quando, finalmente, de dentro de uma caixa adornada em pedras azuis, fisgou uma varinha longa e escura. Ajustou-se perfeitamente à sua empunhadura, parecia até mesmo macia, de certo modo.

— É essa aqui, monsieur. — Confirmou e fez mais alguns movimentos, aproveitando a sensação em suas mãos.

— Boa escolha. Sua madeira é tida como sagrada pelos bruxos e  pagãos, pois todas as suas partes são úteis na prática da magia... O salgueiro. Os Druidas o usavam a madeira do salgueiro como amuletos protetores. Sem mais delongas, seu núcleo foi difícil de se conseguir, é pelagem de uma quimera bastante arredia... Você provavelmente será uma boa duelista, senhorita Odinson. Tenha bastante atenção e não terá arrependimentos.

Antes mesmo que pudesse dizer algo ou agradecer pelas explicações satisfatórias, sua mãe fez o pagamento e o casal Odinson conduziu-a para fora do estabelecimento. Ainda tinham muito a resolver no dia exaustivo da compra de materiais escolares do primeiro ano, ainda mais com a rua principal cada vez mais cheia de pessoas com o mesmo objetivo.