A viajem ate o castelo foi tranquilo, Aaron havia mantido em segredo o fato de meus pais terem morrido, o que eu estava agradecida. Era meu segundo ano em Hogwarts, porem estava refazendo o mesmo ano, meus colegas de turma estavam agora no quinto e eu iria recepcionar os novatos que vinham das outras turmas para a minha. Como de costume quando saímos do trem os monitores de cada casa organizaram seus alunos em fila e os guiaram ate o barco. Cada barco foi separado pelas turmas, me colocando junto com Aaron, Daniel e os demais outros alunos que antes estavam no terceiro ano.

De vista eu conhecia quase todos mas um novato me chamou a atenção, seus olhos claros e cabelo loiro comum NÃO era o que atraia os olhares dos outros e sim seu sotaque quando falava com alguém. Italiano. Fiquei olhando o menino por alguns minutos enquanto o barco navegava pela agua do lago negro, seu sotaque me fazia lembrar do resto da minha família da Itália que eu não tinha contato. Me desviei do pensamento, não havia por que pensar em uma família que não me queria por perto quando meus pais eram vivos, quem dirá agora.

Olhei o castelo que estava inteiro iluminado, ele é lindo eu nunca iria deixar de amar ver suas luzes brilhando a noite. O resto da trajetória eu foquei em conversar com meus dois amigos que reprovaram junto comigo, pelo menos  saber que nisso eu não estaria sozinha me acalentava um pouco.

Joguei um pouco de conversa fora com Aaron e Daniel mas ao mesmo tempo uma parte de minha mente me consumia a olhar mais uma vez para o loiro e olhar de novo foi a pior ideia que tive. Nossos olhares já haviam se cruzado pouco tempo antes e sua expressão nao era das mais simpáticas e sua provocação logo em seguida menos ainda. O barco inteiro começou a ficar em silencio depois que ele soltou uma gracinha na minha direçao, pelo seu sotaque eu havia acertado sua nacionalidade mas pela sua arrogância e falta de educação podia se concluir que se tratava de um animal selvagem e nao um aluno estrangeiro. Não sei onde você vê superioridade em um padrão que mais parece uma espiga de milho do que um alecrim dourado. Respondi com o mesmo tom que uso para pedir licença a qualquer um na rua. Os alunos ao nosso redor, alguns cochichavam entre si, outros provocavam com barulhos sonoros e os mais decentes assistiam em silencio e receosos.

E quem decide o que meus olhos veem sou eu, se eu quero arriscar queimar eles ao olhar para você, é problema meu. Disse entrando no mesmo nível de provocação, vendo ele ficar vermelho de raiva enquanto alguns alunos riam baixinho e foi quando ele se levantou no barco quase caindo no lado de tão imprudente e com a voz mais elevada apontou o dedo para mim e disse algo.

A briga se elevou num nível que eu não estava esperando o que antes era apenas um novato tentando aparecer, agora era uma discussão generalizada. Eu tinha uma resposta na ponta da língua para o italiano mas Aaron se levantar ao meu lado tirou totalmente minha concentração. Arregalei meus olhos quando vi o sonserino quase cair na agua e segurei sua capa sem pensar duas vezes o segurando no lugar para sua sorte. O escuto tentar impor algum respeito do loiro e eu levo minha mão na testa escondendo a vergonha alheia que meu amigo esta passando em tentar me defender. Escutei o italiano responder  Aaron me intitulando como sua namora e eu reviro os olhos fingindo não dar muita importância para aquele comentário.  Para minha sorte Laura que estava guiando nosso barco interviu, olhei para ela quando mandou as duas criaturas se sentarem e sorri dando a ela uma piscada. Nós duas sabíamos que se deixássemos os dois brigando eles virariam comida da Lula do lago negro.

Você se levantar foi muita burrice, se eu não te segurasse a diretora ia ficar de luto. e a Lula de barriga cheia.  Falo em um tom mais baixo para Aaron depois que ele se sentou após a ordem da sua meia-irmã, ao nosso lado Daniel sorria louco para provocar o amigo. O escutei se explicar que estava tentando me defender e eu sabia que estava, o agradecia pelo gesto mas numa situação daquelas, eu me sairia muito melhor sozinha. Eu tinha uma resposta na ponta da língua para ele mas  você me desconcentrou toda quando quase se jogou do barco. Falei em um tom amigável, não estou brigando com o moreno mas estava deixando claro que se eu não tivesse focado em segurar ele pela capa, o loiro já estaria chorando humilhado em seu banquinho.

O resto da viagem foi agradável, o novato ficou quieto em seu canto e eu continuei a conversar com meus amigos. Na saída do barco, fomos um dos primeiros a sair, ate por que eu queria agradecer minha amiga por ter interferido naquele circo. Quando nos aproximamos Laura pergunta o que aconteceu mas antes como eu explica o básico de sobrevivência para Aaron que ficou em modo replay falando que sabia que havia errado. Também não entendi, eu olhei ele por dois segundos se tiver sido e a mona ficou toda bravinha, quase como se olhar para ele fosse um insulto. Disse para a amiga que pareceu mais incomodada do que antes, ela desviou o olhar para o loiro que não parecia ter pressa em sair do barco. Deve esta buscando atenção, como é novato deve estar se sentido deslocado. Eu estava falando, tentando pensar em seu lado, quando ele passou ao meu lado mas bateu com o ombro somente em Aaron.

Fecho minha expressão na mesma hora, eu não tinha problema em ter uma má relação com ele, mas não iria permitir que ele importunasse Aaron como forma de me provocar, uma coisa é mexer comigo outra coisa é mexer com quem eu me importo. Eu me preparo para iniciar uma nova discussão desta vez em defesa do moreno mas sua irmã Laura é mais ágil e já chama o menino que volta a nós olhar com o mesmo sorriso debochado. Eu decido deixar que eles discutam, ate por que só um louco como ele decide brigar com a Winchester mas popular de Hogwarts. Ele não tem noção de com quem ele esta escolhendo criar rivalidade. Fico ao lado de Aaron e observo toda a briga dos dois, aproveito esse pouco tempo em que sua defesa esta armada para outra pessoa e olho com mais detalhes o estrangeiro.

Se eu não tivesse total convicção de que sou filha única, o acharia meu irmão perdido. Apesar das cores de cabelo bem distintas, seu olhar me remetia aos de meu pai e meu avô paterno, que vi uma vez em foto quando tive a coragem de questionar  sobre o resto de nossa família.  A discussão parece chegar ao fim, mas pela presença da diretora na entrada da casa dos barcos do que pior vontade própria dos envolvidos. Sorrio para o menino quando começo a caminhar com meu braço cruzado com o de Laura e Aaron. Ele não sabe com quem ele se meteu... Coitado, já vai ter um primeiro ano infernal. Comentou para a morena ao meu lado com um sorriso enquanto a vejo  sorrir e comentar como o jovem era audacioso em responde-la com tanta petulância. Juntos começamos a ir para dentro do castelo onde iriamos nos separar para guardar as malas mas voltaríamos a nos juntar na hora da ceia de jantar.