O fato de Malia duvidar ou  não temer o que Eliot poderia fazer com ela era o que mais me irritava na situação toda. Ela usou uma metafora muito parecida com a  que Nathalie um dia usou em uma conversa comigo, de que Eliot não faria nada sem que eu dissesse a ele se podia ou não, podia ser assim há alguns meses, mas agora eu tinha certeza que as coisas estavam bem diferentes. Com a missão de Nathalie, com a minha recusa a matar a loira muito coisa entre Eliot e eu havia mudado. Muitas coisas mesmo. — Malia, não esta entendendo, ele quer te matar de verdade, eu tentei mudar sua ideia mas ele esta certo do que quer... – tendo por algum, mesmo que um pouco, de juízo em sua cabeça, mas pela cara que a loira fez era obvio que aquilo que acabara de falar pouco importava a ela.  

Sua voz passava determinação. E eu estava tendendo a acreditar que ela realmente não sentia medo de Eliot. Ela mais uma vez, confirmou que não iria me ajudar a salvar Eliot e logo, não me deixaria protege-la daquele que era o homem que eu amava, apesar dos fatos mais recentes.

Eu me levanto de seu sofá, aquela busca havia sido inútil. Eu iria ter que pensar em alguma outra forma de enganar Nathalie para que nenhum dos dois acabasse morto. E pelo primeira vez passa pela minha cabeça um possível fracasso. — Eu não preciso de proteção mas acredito que você esteja precisando... Por isso, vou deixar que fique aqui em casa por um tempo Lilith, só ate Nathalie esquecer dessa sua besteira e quem sabe você ter um insight e perceber que ser comensal não é uma boa ideia...  – as palavras que saíram de sua boca me pegaram de surpresa. Pedir para ficar em sua casa, era algo que eu pensei em pedir, mas não o fim. Já era demais o fato de que eu a havia colocado em perigo. Mais uma vez. Eu estava pronta para recusar, mas parei para pensar. Eu não tinha para onde ir, e ela estava oferecendo sem que eu pedisse.  — Nathalie quer a minha cabeça ou a sua, se você não quer fazer isso para ela... Por que continua com os comensais? Quer dizer, eu te conheço, sei que gosta de ter liberdade e de poder fazer o que quer... Você fala em liberdade com eles mas o que eu vejo a minha frente é alguém presa e desesperada sem saber como sair.

Era de se esperar que ela viria com esse papo de assumir saber mais do que eu quando o assunto se tratava do caminho que eu gostaria de seguir. Mas pela primeira vez Malia me fez pensar. Pego a garrafa que ela me entrega. Algumas coisas haviam mudado, alguns sentimentos sobre os comensais, isso era fato. Muitos haviam desertado depois da batalha, outros morrido. E nós, como grupo, não conseguimos recrutar tantos quanto os que perdemos. – Você precisa parar de achar que me conhece nesse ponto Malia – percebo que ela estava perdida em seus próprios pensamentos quando eu falo. Sua atenção se volta a mim. Bebo um gole longo do vinho que me foi oferecido e retorno a garrafa para suas mãos. – Talvez não seja uma boa ideia me deixar beber com esta garrafa – comento, mas logo prossigo, sem dar muita atenção para a frase que foi soltada, com segundas e mais intenções. – Eu jamais me adaptaria ao seu mundo Malia, onde você cuida dos outros, e se importa com cada pessoa ao seu redor. E segue fazendo as coisas dentro da lei. Se algum paciente seu morre, você tem o respaldo da lei mesmo se foi nas suas mãos e isso é muito chato mesmo – eu reviro meus olhos com a imagem de uma Lilith se aliando a qualquer lado que fosse contra os comensais, era no mínimo repugnante. – Você se importa comigo o suficiente para me alertar sobre Eliot. Então eu imagino que não seja tão diferente assim Lilith... no fundo você se importa e sabe disso.

Eu tomo a garrafa da mão de Malia e dou mais um gole no liquido avermelhado que desce queimando pela rapidez que fora engolido. Apoio o fundo da garrafa em minha perna, que agora estava dobrada em cima no aconchegante sofá. – É diferente, eu conheço você, e não esta errada em assumir que eu me importo afinal eu estou mesmo tentando salvar a sua vida de alguém que eu... amo.  – me limito a apenas aquelas palavras. Não por querer dizer mais e não conseguir, mas porque não tinha mais o que ser dito. Era a primeira vez que assumia para alguém fora de meu relacionamento que amava Eliot – Mesmo não tendo mais certeza de muita coisa. – sussurro, mas percebo que o tal fora o suficiente para captar a atenção mais aguçada de Malia.