Área de Preservação de Criaturas Grandes

Meus pais (adotivos, no caso) costumavam dizer que tudo o que tínhamos na vida era a nossa palavra, eu sempre concordei com eles mas eu estava aqui descumprindo a minha de pouco mais de 6 anos atrás. Naquela época deixei a Inglaterra prometendo nunca mais voltar.

Ao contrário de Alma, naquela época eu não tinha lá muitas perspectivas do que fazer da minha vida, nada no mundo bruxo do Reino Unido me interessava por isso resolvi começar uma busca por minha família biológica e todos os caminhos me mandavam para os Estados Unidos, então sem pensar muito, segui essas pistas e fui embora. Tudo ia muito bem mesmo que eu não tivesse encontrado muitas informações além das que já tinha sobre minha mãe até eu descobrir que não tinha partido sozinha: eu estava grávida! Não era bem o tipo de novidade que esperava na minha vida naquele momento ainda mais quando eu sabia bem quem poderia ser o pai.  

Há algum tempo tinha lá uma amizade com benefícios com um dos gêmeos Odinson, Balder. Não era nenhum relacionamento amoroso, nunca tivemos nada
além disso: uma amizade colorida. Nada preocupante, éramos mais amigos do que qualquer coisa. Voltei para a Inglaterra com a intenção de contar ao Balder sobre toda essa história. Eu não esperava nem pretendia que isso nos tornasse o casal que nunca fomos mas julguei que ele devia saber mas não consegui contato com Balder apesar de todas as tentativas e que não foram poucas, vale frisar. 

Diante disso, voltei para os Estados Unidos, me estabeleci lá, onde Ava nasceu algum tempo depois em Salem. Irônico não? Não, apenas uma homenagem a tia Alma e ao que minha filha era: uma bruxa. Algumas pessoas disseram que estava fugindo. Eu ignorei cada palavra e argumentei que era o melhor, não queria prender ninguém a mim por causa de um filho. Não era esse tipo de pessoa.

Mas voltando ao que falei no começo, voltei para a Inglaterra para que Ava tivesse algum contato com a família e não apenas comigo, ainda mais na fase em que ela está. Então aceitei que viríamos por algum tempo e claro que minha querida irmã resolveu contar a Ava sobre o Santuário de Hogsmeade. Claro afinal ela sabia dizer as coisas certas para encantar Ava.

Sei que vai parecer estranho mas minha filha é louca por criaturas mágicas, ela adora e só posso dizer que esse gosto ela não herdou de mim, então desde que chegamos a Inglaterra ela não parou de perguntar quando a levaria ao tal Santuário, por isso estou aqui, com uma criança de 5 anos elétrica, empolgada graças ao dragão que se exibia para ela. - Acho que ele gostou de você, meu amor. - Maravilha! Prevejo um quarto repleto de figuras draconianas...

Pensava nisso quando observei com alguma atenção o tratador que estava com a criatura e quase ri diante da ironia do destino. Quase. Tanta gente para estar aqui e JUSTAMENTE encontramos Balder. Morgana deve estar rindo de mim agora, notei ele conduzir a criatura mais perto de nós e segurei firme a mão de Ava senão ela seria capaz de se jogar na direção do dragão, ao mesmo tempo que ele falava conosco, tão sutil quanto um hipogrifo. Além da minha aparência (já que ele me reconheceu de cara), aparentemente algumas coisas nunca mudavam.

Tentei sorrir naturalmente como faria com qualquer velho amigo mas acho que não pareceu tão natural assim. Eu precisava de um tempo maior para me preparar para esse reencontro e, de preferência, seria melhor estar SEM a Ava aqui mas como eu disse: Morgana estava rindo de mim no céu dos bruxos. Ignorei o apelido pelo qual ele me chamou e respondi - Ah, oi Odinson... Muito tempo mesmo. - notei o olhar curioso de Ava e a peguei no colo, apenas para evitar que ela se aproximasse mais do dragão e não para manter minha filha longe de Balder. Longe de mim.

-  Esta é a Ava, minha filha - enfatizei o minha só para deixar claro que ela era minha filha, de mais ninguém. Permaneci encarando ele por mais tempo do que era necessário e só parei porque Ava disse alguma coisa e achei que seria bom dizer a ela quem era a pessoa ali. - Ava, este é um velho amigo da mamãe. - sabia que se não dissesse nada, Ava não me deixaria em paz querendo saber quem era o cara que chamou a mamãe de Daph quando só a tia Alma chama a mamãe assim.  Acredite em mim, se você quer ter paz na vida é melhor evitar a curiosidade de uma criança de 05 anos.   

Santuário  ≡
  With Ava Peregrine e Balder Odinson ≡
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Durante todos esses anos fantasiei esse momento mas agora que acontecia bem diante dos meus olhos não sabia bem o que dizer ou fazer. Ava estava muito feliz em estar ali, mais ainda com a perspectiva de estar mais próxima das criaturas que ela tanto gostava. Despertei quando ouvi a proposta de Balder para Ava.

- Claro que pode chegar mais perto, pode fazer carinho nele e se sua mãe deixar, você pode até dar uma volta nele aqui comigo, ele é bem dócil.

Fuzilei ele com o olhar, qualquer um sabia que esse tipo de comentário era o que não se podia fazer para uma criança. Qualquer um. Senti o olhar ansioso de Ava, bem como seus movimentos frenéticos. Controlei minha vontade de lançar uma maldição no Odinson afinal eu não queria parecer uma louca na frente da minha bebê. Então a olhei e sorri - Pode se aproximar só um pouquinho, Ava... a gente não sabe como ele vai reagir e nem quer assustar ele certo? Já que ele nem te conhece, meu amor...

Eu sabia a filha que tinha: entusiasmada como uma Felícia do desenho animado e se dissesse "não, Ava, não é uma boa ideia" teria que lidar com centenas de perguntas que começariam pelo famoso: "por que não, mamãe?" até eu ceder, vencida pelo cansaço e ela se agarrar ao pescoço do tal dragão.  

Ergui meu olhar para Balder e expliquei séria num tom mais baixo aproveitando enquanto Ava estava distraída com a proximidade com o dragão - Não acho seguro ela dar uma volta num animal que não conhece, com alguém que não conhece, espero que não leve a mal. - Minha filha não era um boneco, e se ela caísse?

Ava falou qualquer coisa com a criatura e Balder voltou a falar comigo. - Eu senti a sua fala Daph, senti mesmo, o que você esteve fazendo esse tempo todo, me conta?

- Sentiu? - Analisei as palavras e a expressão dele que parecia sincera mas ele teve cinco anos para falar comigo. Não foram meses, foram anos! E ele nunca tentou falar comigo, nunca me procurou. Nunca nos procurou. Entendo que ele perdeu os pais mas eles também sabiam sobre a Ava, não acredito que não tinham dito nada para ele, eles não eram esse tipo de gente mesquinha, não pareciam ser o tipo de pessoa esnobe que julgava as pessoas. Se eram disfarçavam muito bem.

Abri um meio sorriso sarcástico quando ele perguntou o que eu tinha feito nos últimos anos. Era séria a pergunta? -  Cuidando da Ava e trabalhando na Macusa com a Obliviação de trouxas, não-Maj como eles chamam. Você pelo visto continua cuidando de criaturas mágicas.

Voltei meu olhar para Ava e sussurrei para ela - Amor, que tal continuarmos o nosso passeio? Outro dia voltamos ao Santuário, prometo. - e antes que ela reclamasse -  Lembra que você disse que queria ir na Dedos de Mel? Podemos ir até lá.  

Mais uma vez olhei para Balder e ensaiei uma despedida - Até mais, Odinson. - mais um sorriso fechado e talvez todos os ensaios mentais para esse momento não tenham me preparado para esse reencontro.

   

Santuário  ≡
  With Ava Peregrine e Balder Odinson ≡
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Diante daquela situação descobri que não estava assim tão preparada para lidar com o reencontro com Balder mas felizmente para mim havia Ava para me distrair de toda essa confusão. E ela era uma excelente distração.


Para distrair minha filha da ideia de montar num dragão tive que apelar para enchê-la de açúcar. Errado sim, mas a melhor alternativa e não tive como não rir da empolgação dela. Empolgação demais devo dizer - Sim, você vai comer um montãozão deles,Ava. Podemos até levar alguns para a tia Alma e para as meninas, que me diz? Podemos montar várias cestas de doces... - sim, eu estava empolgada com isso. Creio que por causa da distância que estive da minha família sentia uma necessidade muito grande de presenteá-las e mimá-las para demonstrar meu afeto por elas. Pode parecer errado e até seja mesmo mas é meu modo de demonstrar que elas são importantes para mim e que não estive longe porque quisesse essa distância e sim, porque o destino quis assim.

E falando em destino, o meu passado estava bem ali diante de mim e exigindo atenção já que falava comigo. De maneira inconsciente minha expressão materna, amorosa e divertida foi oculta tão logo Balder voltou a falar comigo e a expressão que descrevi foi substituída pelo ar profissional, sim a Daphne profissional, distante e reservada estava ali.

Ainda que cada palavra dele me tocasse, principalmente porque muitas delas representavam as minhas próprias dúvidas sobre o que aconteceu há seis anos mas agora não era o momento de falar disso, não na frente da Ava, não desse jeito. Ainda que eu não conseguisse imaginar, programar ou dizer como esperava que fosse esse momento. Claro que foram muitas vezes que imaginei como seria isso mas nunca incluiam um dragão na história, nem mesmo a presença da Ava em nenhum deles.

Respirei profundamente, era muita coisa para eu assimilar. Ele tinha ido atrás de mim? Minhas cartas nunca chegaram até ele? Lembro de que Ellie (nós éramos próximas em Hogwarts já que fazíamos as mesmas aulas e ela me ajudou a me adaptar ao mundo bruxo. Eu a garota criada num orfanato em Kent) falou dessa possibilidade mas como ela mesma estava longe da família não sabia me dizer se esse era o caso. Segundo ela sua família era estranha às vezes e com alguns assuntos. Também sou grata a ela por não ter interferido e contado a Balder sobre Ava, afinal o choque dele era bastante verdadeiro e suas palavras provavam isso.

E eu também não quis que ela se envolvesse nisso, era um problema meu. Não que Ava fosse um problema, ela não era! Era a melhor coisa que tinha acontecido na minha vida. Provou que apesar de ter sido uma criança abandonada pelos pais biológicos isso não me afetou de maneira definitiva; claro que devo  isso a todo amor que os Peregrine me dedicaram. Eles realmente me tornaram alguém melhor para que hoje pudesse ser a mãe que era para Ava.

Assim no tom mais calmo que consegui projetar comecei - Odinson, não acho que essa seja a hora para falarmos disso ainda mais na frente  -  "dela" disse sem palavras e indiquei Ava no meu colo. - Eu te procuro e falamos sobre isso ou o que pode ter acontecido. Acho que você entende meu ponto de vista de que não é o momento para isso.  Eu realmente não tinha me preparado para isso - indiquei a situação - Espero que me entenda, Odinson.

Dei minha atenção para Ava e pedi - Amor, diga tchau para o ... - como deveria chamar Balder? Moço do dragão? Amigo da mamãe? Não éramos mais amigos... A gente tinha perdido isso ao longo desses anos, na minha opinião. Então fiquei com - conhecido da mamãe, o Balder? E agradeça porque ele te deixou chegar perto do dra...- como o Odinson tinha chamado a criatura? Ah - Banguela que foi muito bonzinho não é? - quando Ava fez o que pedi e ele me olhou continuei - Precisamos ir agora mas como eu disse, entro em contato com você para conversarmos. - era um tom profissional, neutro, muito diferente do que usava com Ava mas achei necessário.  - Ainda mora na mansão? Para eu mandar a coruja... - perguntei e expliquei o porquê da pergunta afinal eu não sabia nada sobre ele. Vai que tinha se casado e morava em outro lugar? Muita coisa pode acontecer em 05 anos!
 
E para Ava com aquele sorriso de mãe babona que era - Vamos querida? Temos muitas cestas de doces para montar. - voltei a olhar para Odinson - Nos vemos em breve também, Odinson.

   

Saiu de lá com a Ava  ≡
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  With Ava Peregrine e Balder Odinson ≡
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