Loja Curiosités

Já não sabia mais quantos clientes eu havia atendido aquele dia, a maioria em busca do mesmo produto: um tônico produzido por botos, criaturas mágicas brasileiras; o produto conseguia embelezar até mesmo o mais feio dos trolls - e ainda tinha um leve efeito sedutor sobre aqueles que estivessem próximos do indívudo que o usasse.
- Sim, madame Marsh, é só espalhar sobre a pele. O efeito é instantâneo e dura cerca de 5 horas. Expliquei novamente a uma bruxa que visitava a Curiosités com certa frequência, era uma sexagenária solteirona. O boom do tônico era devido a uma matéria publicada no Profeta Diário há alguns dias, relatando o caos que estava gerando nos países latinos - quanto tempo o Ministério inglês levaria para intervir na venda em seus territórios? Não sabia, mas o meu estoque ficaria esgotado até o fim da semana, o que era ótimo.

Ouvi a sineta que anunciava a chegada de um novo cliente, me virei para observar e imediatamente reconheci os cabelos longos e castanhos de Magni, aquele homem transpirava beleza e outras coisas que não podem ser ditas antes da meia noite. Porém, ele podia esperar, me recompus e voltei minha atenção para a velha Marsh, que estava reluntante em relação ao tônico. Me distraí enquanto elucidava as dúvidas da bruxa, mas não ao ponto de não perceber a cena entre Magni e um fortão que também estava interessado nos tônicos. Sorri de lado e pedi licença à cliente, me dirigindo discretamente até o cabeludo que estava se insinuando despudorosamente.
- Este senhor está incomodando? Perguntei ao desconhecido, rápido o suficiente para que ele não tivesse tempo para processar a cantada de Magni. - Os tônicos estão naquela prateleira, é melhor correr, já vão acabar. Emendei a minha primeira fala, apontando para os fundos da loja. - Posso te arranjar um desconto, venha conversar comigo depois que eu terminar com esse inconveniente aqui, certo? Até mais. Murmurei para que apenas os dois pudessem ouvir, finalizando com um toque suave no ombro direito do desconhecido para que ele seguisse o seu caminho.

Os joguinhos entre Magni e eu eram constantes, era satisfatório manipular alguns desavisados para entreter o nosso relacionamento - um pouco estranho, admito. Me voltei para o professor de Hogwarts e sorri, fingindo que a cena anterior não havia acontecido. - Na minha própria loja, Magni? Você não tem jeito mesmo. Falei fitando os seus olhos e a sua boca, sentia falta da maciez dos seus lábios. - Como conseguiu fugir daquele mausoléu? Férias adiantadas? Ou foi demitido por falta de pudor? Brinquei, o levando para um canto reservado da loja.

Alexander revirou os olhos e riu internamente, precisava se manter no personagem. - Sim, espero que ele volte para pegar o desconto que ofereci. Comentou dando uma últimada olhada no homem, precisava concordar com Magni, ele não era de se jogar fora. - Ervas? Nem me lembrava, se tivesse avisado eu teria comprado para você, por mais que eu ache besteira. O francês levou uma das mãos aos cabelos do outro e enrolou uma mecha em seus dedos, apreciando a maciez.

- Não seria a primeira vez, acho até que desistiram de bater aqui, eu sempre recorro e recupero as minhas mercadorias. Duvido que se interessem por um tônico que destrói casamentos e induz as pessoas a transarem em público. Alexander riu de lado com a última parte, imaginando como seria engraçado ver os ingleses, tão recatados, perdendo a cabeça em praça pública. Seus dedos liberaram os fios e seguiram para pescoço de Magni, tocando a sua nuca, o calor e a suavidade daquela pele reviviam certas memórias.

- Então essa é a sua nova fantasia? Podemos realizar, só me dê algumas horas para arranjar... espera, o que um guarda-caças usa? Não me lembro dos funcionários de Beauxbatons. Questionou, encerrando o carinha na nuca do namorado e se distanciando um pouco.

Alexander era um tipo certinho, os d'Évreux prezavam pela boa imagem - mas acreditavam que, para garantir um exterior bonito, o interior precisava estar impecável, como estar bem com o mundo se não controlamos nosso próprio caos? Assim, o jeito impulsivo e caloroso de Magni iam de encontro a frieza do francês, sempre disciplinado e atento às opiniões alheias, isso fascinava Alexander, o deixava instigado, o seu coração sempre acelerava as batidas na companhia do professor, como se estivesse se preparando para o inesperado.

O beijo arrancou um gemido rouco do comerciante, seu corpo prontamente demonstrou a falta que sentia do outro, se arrepiando por completo. No entanto, ainda estavam na loja e algum cliente curioso poderia aparecer, Alexander detestava ser pego de surpresa.
- Quanto tempo vai ficar? Disse enquanto passava a mão esquerda sobre o cabelo, que havia se desalinhado com o beijo afoito. Foi atrás de Magni, o francês tentava se recompor, fingindo não estar sedento por mais daquele tipo de contato. - Podemos jantar fora ou coisa do tipo. Murmurou passando os olhos pela sala pequena, perfeitamente em ordem, como havia deixado.

Alexander ouviu as palavras do professor e concordou, ambos sempre estavam muito ocupados. Assistiu aos movimentos refinados do outro com a varinha, até ter seus lábios capturados por ele. O comerciante estava embriagado pelo momento, o perfume que exalava pelos poros do corpo que Magni o envolvia em um transe - no entanto, o torpor provocado pelo beijo pareceu disparar um gatilho no francês, o contato físico foi interrompido e todo o corpo de Alexander ficou rígido como uma pedra.

Porém, era apenas um dos seus acessos de clarividência. Os pensamentos do comerciante foram borrados por uma névoa pálida até que ele se visse no meio da loja, entre as prateleiras que guardavam vidrarias e outros itens frágeis, Alexander compreendeu o que aconteceria em breve ao notar o homem que havia despertado o interesse de Magni momentos antes, ele andava distraidamente enquanto tentava ler o rótulo de uma poção e ia, sem se dar conta, até uma prateleira, o choque era inevitável.

O francês voltou a si ainda ouvindo o barulho da vidraria se chocando contra o chão, o prejuízo afetaria os rendimentos da loja durante semanas. - O idiota vai derrubar os meus cristais. Resmungou se afastando do moreno e correndo até a porta, sacando a sua varinha no processo e destravando o feitiço que a havia trancado, não sabia com exatidão em que momento o acidente aconteceria, porém seu sangue gelou ao se deparar com o homem corpulento fazendo o mesmo trajeto da sua visão em câmera lenta.