Castelo Medieval

Oxford (Continente), Captain KC Cooper, Setembro de 2051

Um dia de folga. Era isso que eu tinha. Um dia inteiro de folga.

O convés superior estava limpo, as velas recolhidas, a âncora no fundo do mar. Todas as minhas responsabilidades estavam feitas por hora. Não tinha mais o que fazer, com magia tudo ficava mais fácil - mesmo que vez ou outra meus pais ainda dispensassem tempo passando esfregão no convés para lustrar o deque sem a menor necessidade aparente. Nunca recebíamos visitas. Até os trouxas que paravam para ver o Sea Lady nunca pediam para entrar. Não que tivéssemos algum feitiço de proteção, não tínhamos. Mamãe era filha de um baleeiro trouxa e se apaixonou pelo pai à primeira vista, ou era o que contavam. Eu não perguntava muito, não queria correr o risco de entrarem em detalhes sórdidos que eu não precisava saber. Já bastava saber que eles ainda eram plenamente apaixonados mesmo depois de mais de 20 anos juntos.

Com tudo endireitado, papai sugeriu que eu fosse com um dos barcos dar uma volta no mar ou que fosse gastar energia na praia. Segundo ele, eu estava atrapalhando o feng shui do veleiro com minha falta do que fazer. Escolhi zanzar pela praia, logo teria que voltar para me arrumar e não gostava de ter hora para voltar quando saia de lancha por aí. Mais tarde naquele mesmo dia eu tinha um encontro marcado. Encontro romântico? Provavelmente não. A mulher era extremamente atraente e tinha me chamado muita atenção, mas não parecia ter se interessado por mim e eu que não iria atrás dela. Mas a jornalista tinha me enviado uma coruja pedindo para nos encontrarmos naquele dia em Oxford, em um Castelo Medieval. Era uma ótima forma de passar o tempo, se eu não fosse levar quase 6 horas para chegar lá e provavelmente o mesmo tempo voltando, já que tinha que ir por transportes trouxas, mas poderia tentar aparatar na volta (o que não era recomendado, uma vez que eu quero voltar para meu pacato e sem emoções trabalho).

Não fiquei muito na praia. A maior parte do tempo eu estava chutando a areia por puro tédio. Eu tinha um longo caminho a percorrer para chegar ao castelo medieval de Oxford naquela tarde de domingo. Voltei ao veleiro para trocar de roupa e pegar o dinheiro e o documento trouxa. Seriam longos momentos sozinha, então pensei melhor e peguei o iPod para passar o tempo pelo menos ouvindo músicas ao estilo trouxa.


Cheguei ao tal castelo medieval poucos minutos antes da hora marcada. O lugar, de fora, já era lindo demais. Me lembrava as histórias que o pai e a mãe contavam quando eu era mais nova. Eu estava no ponto de encontro com fones no ouvido, trança preta nos cabelos compridos, uma blusa branca simples, uma jaqueta preta de couro sintético, calça justa também de couro sintético preto como a jaqueta e uma bota de cano curto bege com salto largo de 5 cm nos pés. Eu não queria esperar muito, mas tinha chegado antes. O dia estava perto do fim, com apenas mais algumas horas para o por do sol. Procurei logo um lugar onde pudesse sentar e esperar pela jornalista maravilhosa que tinha me convidado até ali.

Oxford (Continente), Captain KC Cooper, Setembro de 2051

Não demorou muito para que a loira chegasse. O local não estava tão cheio então pude vê-la se aproximar ao longe. Logo desliguei a música e guardei o aparelho trouxa nos bolsos. -Liz! Estamos todos bem! - falei, com um sorriso que não tinha sido convidado à aparecer nos lábios quando ela beijou um dos lados do meu rosto. -O castelo parece interessante. Será que conseguimos encontrar alguma coisa perdida lá dentro? - perguntei brincando. O que estava acontecendo comigo? Eu não era disso e ainda assim estava ali fazendo uma piada para alguém que pouco conhecia.

Estendi minha mão, antes que pudesse pensar bem no que estava fazendo, e caminhei em direção à entrada da atração. Um cheiro gostoso, que eu não sabia se era perfume, vinha da mulher que estava comigo e isso me deixou um tanto encabulada, mas não ia perguntar. Não tão cedo nessa saída. -E você, como está? - perguntei de volta, depois de me tocar que não o tinha feito e que parecia má educação não perguntar de volta sobre a pessoa.

Desde a primeira vez que nos vimos, eu perdia o foco no que fazia ou falava perto dela. Tinha sido uma paixão à primeira vista? Talvez. Talvez fosse só uma fase por estar um tanto quanto mal acompanhada desde antes dela aparecer. Minha ex-namorada e eu não éramos o típico casal apaixonado que contam por aí. Fingíamos muito bem, na frente dos outros, mas passávamos a maior parte do tempo em disputas bobas que desgastou a relação até não dar mais para aguentar. Quem tinha terminado? Eu gosto de dizer que foi uma decisão mútua.

Voltei à olhar para a loira, o sorriso voltando a se abrir em meus lábios. Joguei minhas tranças para trás e esperei ela falar algo. Não queria ser a única falando ali.

Oxford (Continente), Captain KC Cooper, Setembro de 2051

Andamos juntas por algum tempo com as mãos entrelaçadas. Era estranhamente confortável aquela sensação. Não que eu assumiria algo. A mão livre ia no cós da calça, como se minha espada curta estivesse ali. Era um pouco desconfortável não senti-la, mas com o tempo deveria me acostumar. Eu a usava mais para não perder o hábito, já que só era realmente necessária quando estávamos em alto mar.

Os braços tão unidos quanto possível me fez olhá-la de rabo de olho. A sensação melhorando a cada instante. Mas de repente ela me puxou para uma passagem bloqueada por uma fita e um guarda que não queria realmente estar ali. Sem demora, já estávamos dentro do túnel longe o suficiente para que ninguém nos visse. Rindo feito bobas, nós duas, paramos para recuperar o fôlego da curta corrida e da adrenalina recebida. -Você é louca, sabia? - falei, depois de poucos minutos, com um sorriso no rosto.

Ela soltou sua mão da minha, mas eu me aproximei dela. Não tinha ninguém ali para nos ver. E sempre poderia fingir que nada tinha acontecido. Não levou mais que um segundo para que eu tomasse seu rosto em minhas mãos e unisse nossos lábios num beijo calmo e decidido. O beijo, por outro lado, demorou o tempo necessário. Quando nos afastamos, deixei um sorriso tomar meus próprios lábios. Talvez fosse do momento. Talvez fosse da adrenalina. Eu não sabia dizer porque exatamente tinha feito aquilo, só sabia que não me arrependia de nada.

Oxford (Continente), Captain KC Cooper, Setembro de 2051

-Devo ler isso do jeito que soou ou não? - Alizee perguntou com um sorriso malicioso nos lábios. É, acho que não foi exatamente sem motivo. Aquele sorriso dela, aquele rosto... mexia comigo. Estiquei a coluna e cruzei os braços antes de respondê-la. -Leia como quiser. - deixei um sorriso convencido tomar meus lábios. Não era eu que falaria primeiro de meus sentimentos.

Descruzei os braços e os apoiei no cós da calça com os dedões. Deixando-a só por alguns segundos, prestei atenção ao nosso redor. Era um ambiente simples, cheio de portas e pilastras. Talvez fosse passagem para algum lugar. Nas portas tinha inscrições que só poderiam ser lidas de mais perto e lá fui eu. Minha curiosidade falando mais alto do que o bom senso. E se tivesse armadilhas ali? Felizmente não tinha, mas era um risco. Eram palavras, inicialmente aleatórias, que não dei muita importância. Apesar de qualquer coisa, queria ficar com a loira jornalista que me fazia ficar perdida em pensamentos nos momentos mais inconvenientes. Mesmo assim, queria estar ali com ela. Fazer uma investigação particular poderia ser deixado para outro momento.

Voltei para perto dela, que parecia não ter gostado muito de minha resposta. Eu tinha sentimentos? Tinha. Mas uma longa viagem em alto mar tinha me feito perceber que isso não poderia ser tudo. Tomei suas mãos nas minhas e fiz nosso corpo se unir com uma leve puxada. Eu disse que não iria falar... demonstrar não era exatamente 'falar'. Soltei suas mãos e a abracei com uma mão no meio das costas e outra perto da nuca. Nossos rostos tão próximos que eu me embriagava em seu hálito. Ficamos alguns momentos assim. Momentos em que eu podia jurar ter ouvido o coração dela saltitar junto ao meu. Eu estava pronta para beijá-la novamente quando ouvi um barulho próximo e me afastei rapidamente, levando a mão à cintura onde a varinha estava escondida. -Pensei que tinha ouvido algo. - falei com um sorriso. Voltando para perto de Alizee, segurando uma de suas mãos. -Vamos continuar o passeio?

Oxford (Continente), Captain KC Cooper, Setembro de 2051

- Estou com uma auror e não sabia? - Alizee falou brincando e eu dei uma risada com aquela ideia. -Não sou uma auror, só sou precavida. Você não acreditaria nas coisas que ouço sobre o hall das profecias antes de saberem que sou a responsável por ele. - respondi sorrindo, ainda abraçada à loira. Seu perfume me levando às nuvens, enquanto minha cabeça me trazia de volta à realidade. - Vamos abrir outra porta então, falando nisso você me deve um dia na praia. E te devo um jantar.  -Um dia na praia? Um jantar? Por quê? - questionei um tanto confusa, tentando me lembrar se tinha convidado ela para algum passeio específico. Fui interrompida por passos mais altos se aproximando rápido demais. -  Hora de mudar de lugar. Já pensou em ser algo diferente ? E vamos descobrir o que tem atrás daquela porta.

-Algo diferente como ter outro trabalho ou estilo de vida? - perguntei enquanto andávamos juntas para a porta ao qual eu fiquei mais tempo observando. Passamos por ela tão rápido que não deu tempo de ver o que tinha dentro. Mas aproveitei o escuro do ambiente para puxar a Foucault até uma parede e prendê-la com meu corpo ali. Aproveitei também que suas mãos estavam perto da minha e as juntei acima da cabeça alheia antes de tomar os lábios dela nos meus em um dos beijos mais apaixonados que eu já tinha lhe dado até o momento. Tinha sido planejado? Não. Eu queria muito aquilo? Com toda certeza. Quando, depois de vários minutos, o fôlego me faltou, passei os beijos para seu pescoço onde também deixei algumas pequenas mordidas. Depois subi até o lóbulo de sua orelha esquerda despejando beijos por todo o caminho. -Eu quero você. - sussurrei ao final, soltando-a e me afastando um pouco.

Não fiz esforço nenhum para acender uma luz ou algo do tipo. Deixei que meu olfato me dissesse o que poderia encontrar ali antes de fazer um foco de luz e me assustar com a sujeira que provavelmente aquela sala tinha de sobra. Não estava nada entusiasmada em descobrir uma caveira ou algo assim por ali. Preferia minha completa organização da Sea Lady ou mesmo do Hall das Profecias.

Oxford (Continente), Captain KC Cooper, Setembro de 2051

- Eles te tratam mal? - Alizee perguntou meio irritada e tratei logo de acalmá-la. -Não me tratam mal, mas falam horrores sobre o nível de mistérios em geral. - contei em tom ameno, tentando não aflorar a irritação alheia.

- Você citou que morava na praia da última vez que nos vimos e ficou de me levar. eu disse, que se fosse assim, deveríamos ir jantar depois. - falou e eu dei um sorriso de lado. -Ah sim, agora eu lembro. Temos que marcar quando estivermos de folga. - falei, observando-a rapidamente enquanto íamos para outro lugar.

Ouvir o gemido dos lábios da loira me fez dar um sorriso enquanto beijava seu pescoço. Soltei as mãos dela e coloquei-as em sua cintura, puxando-a para mais perto fazendo com que nossos corpos se unissem mais e mais. - Querida você pode me ter como desejar. - Alizee respondeu beijando meu pescoço e involuntariamente meus lábios se abriram um pouco, deixando escapar um pequeno gemido. Aquela mulher ainda ia me levar à loucura e não era só o que eu queria dela. Mas com a surpresa, olhei-a surpresa o que pela sua fala seguinte deve ter sido interpretado completamente de uma forma diferente. - Não me diga que uma capitã é tão delicada assim. Podemos ir embora se quiser.

-Quem disse que eu quero ir embora? Estamos apenas começando. - voltei a me aproximar da jornalista. -Eu não sou delicada. - sussurrei em seus lábios antes de tomá-los novamente. Agora uma mão minha ia na base de suas costas e a outra em sua nuca, guiando para onde virar a cabeça durante o beijo que durou bem mais do que o anterior. Cheio de desejo e intenções que eu não planejava demonstrar naquele passeio, arranhei suas costas vagarosamente. Os beijos descendo de seus lábios até o limite de sua pele com a blusa, passando pelo pescoço novamente, de ambos os lados. Eu nunca tinha sentido isso por alguém. Era novo, maravilhoso e diferente de qualquer outra coisa. Aquela garota não sairia de meus pensamentos tão cedo e eu realmente esperava encontrá-la mais vezes do que já tínhamos combinado até então.

Depois de um longo tempo, tirei meus lábios daquela pele cheirosa, mantendo só nosso corpo juntos. -Acho que precisamos sair daqui... - falei, ofegante, tomando coragem para separar nossos corpos. Levou mais algum tempo até que eu pegasse minha varinha e abraçada à jornalista, aparatasse para uma viela que eu usava muito quando ia para o trabalho. Lá, ainda lhe dei mais alguns beijos antes de nos despedirmos.