Castor despertara com profunda tristeza aos gritos do despertador bruxo ambulante que se calava apenas quando seu dono levantava da cama e o perseguia para desligá-lo. Em seus pequenos pés encantados, o relógio saltitava por cima e por baixo dos objetos espalhados pelo quarto e o jovem brasileiro procurava por sua varinha pela bagunça infinita que era o seu cantinho particular. Não parecia estar em lugar nenhum, embora o motivo de seu estresse estivesse bem localizado ao seu extremo oposto, junto à alguns livros empilhados sobre Quadribol. Castor havia perdido os escrúpulos há tempos e apenas se jogou em direção ao objeto, desligando-o com o punho fechado, em um soco mais forte que o necessário.

— Como pode estar estressado? São sete da manhã, Cas. — A voz irrompia da porta e uma sombra formava-se no chão, revelando que a figura na entrada recostava-se na guarnição de madeira. O loiro sorriu antes de se virar na direção do locutor e suspirou lentamente ao seu levantar de sua posição de derrota. — São sete da manhã e você já está pronto? — Retrucou observando seu irmão. Pollux era muito mais ativo e disposto pela manhã, completamente o oposto de seu gêmeo, que preferia manter-se como uma figura noturna.

Ambos conversaram um pouco antes que Castor reunisse forças para tomar seu banho, ou antes que Dante fosse ao seu quarto, obrigá-lo a parar de enrolação e começar a se arrumar para o embarque. Para a sorte do rapaz, a única coisa que faltava, era ele próprio. As malas estavam prontas, os livros do quinto ano devidamente guardados e a roupas que usaria já se encontravam dispostas no cabide pendurado atrás da porta. Ele terminou seu banho e colocou suas roupas, saindo rapidamente para tomar seu café antes que a família rumasse à plataforma.

Se perguntassem ao jovem, sendo Pollux, o restante de sua família ou qualquer pessoa, o que ele pensava sobre estudar em Hogwarts e os costumes britânicos, o rapaz diria que preferia continuar seus estudos em Castelobruxo, onde tinha seus amigos e não haviam divisões simplórias por casas e características psicológicas. Todavia, se alguém que perguntasse decidisse ir mais fundo e perguntar o real motivo para tamanha revolta, Castor talvez precisasse admitir que tinha medo de se separar do irmão, aquele que era idêntico em aparência, mas detinha ideologias e personalidade muito destoantes de seu próximo, tão destoantes estas que Pollux parecia até um pouco animado com o início do ano letivo.

A família levou os gêmeos e a caçula dos Santiago para a Estação King's Cross por volta das nove e meia da manhã, não muito cedo para nao gerar ansiedade em ninguém e não muito tarde para não causar maiores estresses antes mesmo do início das aulas. Dante aparatou com a filha longe de olhares trouxas curiosos e Marjorie fez o mesmo com os primos, assim, todos foram juntos em direção ao trem. Chegando aos pilares nove e dez, havia o nove três quartos, aquele utilizado pelos jovens bruxos até sua graduação fundamental e aquele que fazia Castor estremecer em silêncio sepulcral.

Uma mão pousou sobre seu ombro direito, ligeiramente puxando-o para o lado e mais para perto daquele que o puxava. Era Dante. — Não se preocupe com Pollux. — Murmurava o mais velho, sem que olhasse diretamente para o sobrinho. Castor o olhou, com a cabeça inclinada para o alto, dada a diferença de altura. Procurava no olhar do tio uma espécie de reconforto, embora este parecesse saber o que o futuro guardava para ambos. Talvez suas inseguranças fossem vislumbres do que ainda não havia se concretizado, apenas ainda. — Eu sei. — Respondeu segurando firme em seu carrinho com as malas pesadas de sua mudança para o internato britânico.

Castor rapidamente acenou para Dante com a cabeça ao desvencilhar-se do tio e abraçou a prima mais velha. — Não seja tão chato e fará amigos mais rápido. — Disse Marjorie, esta sabendo que o loiro responderia com um "não quero fazer amigos" ou "não gosto de gente", que eram as frases preferidas do mesmo, e ela entendia perfeitamente sua personalidade complicada. Após as despedidas, foi o primeiro à passar pela pilastra de tijolos vermelhos enfeitiçada, esta que levava à real plataforma de embarque, onde o trem já esperava para partir e muitos bruxos já despediam-se de seus filhos. Castor continuou a empurrar seu carrinho e suas malas em direção ao trem, já pensando em qual cabine ficaria.