Travessa ► Narraçao // Alex // Lilith // Nathalie // Outros // Eliot

Back in town

Ellie saiu de casa e preferiu naquela tarde ainda não ir ao Ministério. Tinha regressado no dia anterior dos E.U.A. onde tinha estado a trabalho, investigando o modus operandi da Domus em solo americano. E, ao contrário dos Comensais, aparentemente era um grupo mais discreto em suas ações - daí a dificuldade da MACUSA em lidar com suas ações. Entretanto há alguns meses, após um acidente no que seria a sede da organização, as ações deles diminuíram consideravelmente, tendo, portanto, sumido do radar do Ministério Norte Americano. De outra forma, ações com características similares a da organização americana estavam ocorrendo em solo britânico, o que não seria nada surpreendente: membros remanescentes da Domus  bem podiam ter cruzado o oceano e para se juntar aos comensais (?). Era uma possibilidade. Bizarra? Com certeza, mas ainda assim uma possibilidade. Foram dias difíceis e estressantes e estava exausta. Felizmente poderia descansar um pouco e descomprimir.

Entrou no Beco Diagonal e naquele ambiente dava para perceber o lugar de Elleanor Hewitt-Mitchell no mundo bruxo. Passeava sorridente pela rua, respondendo aqueles que a cumprimentavam ou faziam perguntas sobre a mudança de seu tio para outro país. Todos admiravam Mark Mitchell e ela tinha orgulho de tudo o que ele havia feito pelo mundo bruxo. Ele e seus pais. Uma mulher baixinha e gorda de vestido cor de laranja berrante veio ao seu encontro e numa voz acelerada e animada cumprimentou-a pondo-se nas pontas dos pés para lhe dar dois beijinhos. Simpática e atrevida falava de seu “belo filho” que seria um belo partido para Ellie. A auror sorria alegre e jovial dirigindo palavras sem qualquer valor. Mais tarde um rapaz novo parava e agarrando a mão de Ellie agradecia-lhe um favor qualquer. Ela limitava-se a fazer o que sempre fazia e que lhe permitia conquistar o coração das pessoas. Era cordial – até mesmo para pessoas que desejava matar… E havia algumas.

Virou para Travessa olhando disfarçadamente em volta para ver se alguém reparara nela. Graças a seu sobrenome e seu cargo havia sempre alguém reparando nela… mas enfim. Entrou na Borgin &Burkes.. Dois homens posicionados num canto olharam para ela e logo o cumprimentaram com um aceno de cabeça (corajosos diria – ou menos dispostos a se tornar alvos do Ministério. Inteligentes.). Seguiu seu caminho até o balcão de onde outro homem igualmente mal encarado se dirigiu a ela – A que devo a honra da visita? Se está em busca de informações não tenho nenhuma para você, srta. Mitchell.

Ela abriu o mesmo sorriso polido com o qual brindara seus pares no Beco – Hey, Rupert! Também senti saudades, obrigada! Me surpreende que este lugar esteja tão abandonado porque você é sempre tão agradável com seus clientes... – completou num tom condescendente. Ele revirou os olhos e Elleanor sorriu.  – Jura que não tem nenhuma informaçãozinha sobre seres estranhos, novatos, donos de sotaques diferentes visitando sua loja? – se debruçou sobre o balcão e ofertou uma piscadela ao velho   – Ora vamos lá, Rupert! Em nome dos velhos tempos...– brincou sabendo que o homem não diria nada diante de outros clientes, conhecia o homem atrás do balcão por quase toda sua vida e fazia isso apenas para provocá-lo. Suspirou  – De toda forma, como não pretendo tomar toda sua atenção para mim, preciso de três Veritasserum...

E ele num tom mais baixo, de modo que os demais não pudessem ouvi-lo – Planejando alguns interrogatórios, Mitchell? - lhe sorri assentindo de leve e ele então num tom mais alto retomou – Aqui estão. Faça bom proveito, auror. – Pretendia responder quando alguém se aproximou do balcão e se dirigiu a Rupert, interrompendo a interação deles. Ela se voltou para a pessoa em questão com um  – Pode aguardar só... – não conclui porque, por Merlin, a pessoa em questão era dona de uma presença e tanto se é que me entendem.  

Back in town

Elleanor encarou o estranho tão logo este se dirigiu a Rupert e sua expressão não poderia ser menos crédula. Não que situações como aquela não fossem uma constante em sua vida, bem ou mal o ambiente no Quartel dos Aurores não era menos opressivo — muito embora a atual chefia deles estivesse sob uma figura feminina. Ainda assim não era dos ambientes mais acolhedores às mulheres e Ellie estava "acostumada" a isso.

Acompanhou o pedido dele enquanto refletia que seria bom acrescentar tentáculos venenosos a poção. Também notou o olhar de Rupert em sua direção e com um leve arquear de sobrancelhas indicou que ele atendesse ao neandertal ali, isso antes dele provavelmente se tocar do quão grosseiro havia sido e se afastar fazendo com que a jovem revirasse os olhos enquanto.

— Perdão. Tive uma noite ruim.

Elleanor o encarou sem dizer nada, aquele tom condescendente a irritava sobremaneira e muito embora seu olhar berrasse um: "e daí?" explicitando o que ia em sua mente a auror lhe ofertava um sorriso polido que em nada ocultava sua irritação antes de desviar o olhar e se voltar para Rupert sacando papel e caneta (mais trouxa impossível mas fazer o que se ela considerava fascinante a cultura deles?) ao passo que o dono do estabelecimento entregava a poção ao Sr. Tive uma Noite Ruim. — Rupert, preciso que envie duas essências de beladona e 4 frascos de antídoto para venenos incomuns para o Ministério... Como sei que para ambos não há pronta entrega não me incomodo em recebê-los diretamente lá.— concluiu ao passo que ouvia a voz do estranho soar ao seu lado.

— Se importa se eu pagar?

Ele ainda estava ali? Voltou a arquear levemente as sobrancelhas enquanto replicava num tom polido, quase neutro — Não é necessário. — sua reação automática não foi, propriamente, culpa do homem a seu lado, apenas tal oferecimento acendeu gatilhos de sua relação ao passado de Elleanor com Damian. Ele costumava ter tais arroubos de impaciência e depois querer "comprá-la" mediante pequenas gentilezas. Ela então depositou os galeões necessários sobre o balcão, despedindo-se de Rupert e focando brevemente no homem que ainda permanecia ali — Passar bem. — dito isso se encaminhou para a saída do estabelecimento ao passo que sua mente reverberava: "lamentável um gênio tão ruim num cara tão atraente..." suspirou antes de sair da Borgin e ser interpelada por um velho conhecido.

— Ora, ora... não é todo dia que encontramos uma Mitchell vagando pela Travessa... Titio Mark não ensinou que é perigoso andar por esses lados?

—Deverich, Deverich... você precisa urgentemente tratar sua obsessão pelo meu tio — então se aproximou dele apoiando a mão esquerda sobre o ombro do homem e prosseguiu – Veja, você já cumpriu seus 8 anos em Azkaban, querido... Está na hora de superar e seguir em frente. É o melhor a se fazer. — sorriu fofa, o que lhe garantiu uma varinha apontada em sua direção, entretanto antes que o homem pudesse fazer qualquer coisa, Elleanor já o havia desarmado com um expelliarmus e se dirigia num tom mais sério e gélido a ele — Deverich, me poupe, se poupe e nos poupe disso, é minha folga e não estou disposta a lidar com suas crises agora, entendido?— sorriu embora tal sorriso não tivesse nada de amigável e só parou quando o viu encarar um ponto atrás dela ao que ela de pronto se virou e encarou o cara da Borgin – Ah. Você ainda está aí?
 

Back in town

A jovem acompanhou o gesticular do homem atrás de si e lhe dirigiu um olhar intrigado ante o — Não vou me propor à nada. Vim pedir desculpas e... Bem, agora acho que deveria dizer “Uau!”.

Ele sorriu e Ellie teria de ser muito estúpida e claramente cega para não notar que ele ficava bem melhor quando sorria, ainda que fosse estranho que ele estivesse lhe sorrindo e dirigindo elogios— que foi o que deduziu pela fala do homem. Mesmo porquê não entendia exatamente o que o tinha impressionado. Só estava agindo como era de praxe dada a sua posição na sociedade bruxa como auror, por isso retrucou um — Imaginei que já tivesse se desculpado — ele já havia se desculpado não?

— Não sei seu nome. Posso me desculpar de forma apropriada? — ah, sim. Era isso então. O homem era daqueles metódicos que tinham rituais para tudo, até mesmo para se desculpar. Notou o olhar dele, provavelmente dirigido a Deverich antes dele completar — Dante Santiago. — ela encarou a mão estendida por um milésimo de segundo antes de retribuir ao cumprimento.

— Elleanor Mitchell — ao que um Deverich intrometido emendou — Hewitt- Mitchell né? Assim parece que você nem gosta da família da mamãezinha. — Ellie então inspirou profundamente, cerrando por alguns os olhos antes de fitar por sobre os ombros Deverich que permanecia os encarando perceptivelmente interessado — Quer se apresentar no meu lugar? Caso queira...— soltou a mão que Dante enlaçava,  indicou o homem diante dela e notou que Deverich se encolhia. É, ele não era tão burro para provocar o tal Santiago.

— Nos vemos em outra ocasião, Elliezinha... Quando não estiver com um guarda-costas a tiracolo.— dito isso se embrenhou pela Travessa em busca de sua varinha perdida ao passo que Ellie emendava para si mesma um — Espero que não.— Ela então voltou sua atenção para Santiago — Como Deverich fez questão de pontuar, Elleanor Hewitt-Mitchell.— ele retomou a palavra.

— Meu estresse não é motivo para tratar mal os outros.

— Admitir isso já é um grande passo... mas não preocupe, estou acostumada a esses arroubos masculinos — seus lábios se curvaram num meio sorriso. — Espero que a poção funcione, Santiago. — indicou o frasco que ele trazia nas mãos.

Assim que pronunciou o sobrenome dele, bastante incomum no Reino Unido, acompanhado do leve sotaque, recordou-se de que Victoria havia lhe contado sobre uma nova funcionária do Ministério cujo sobrenome era o mesmo, por isso — Engraçado... soube de uma Santiago no Ministério...Devo supor uma ligação?— e diante do olhar dele explicou cordial — Há de convir que é um sobrenome incomum, logo se destaca e levanta questionamentos. Ainda mais quando se é alguém curioso — encolheu de leve os ombros.

— Aliás, adoraria ficar conversando mas ainda preciso verificar algumas coisas no Beco Diagonal e imagino que queira descansar depois da noite ruim que teve então vamos deixar claro que não fiquei muito ofendida com o seu comportamento todavia, se quer um conselho: uma visita a ala psiquiátrica no St Mungus poderia te ajudar, eles tem ótimos terapeutas por lá — seu tom de voz era levemente divertido quando concluiu.  

Back in town

Alguns a chamariam de bisbilhoteira graças a sua habilidade em observar e guardar informações que julgasse importantes, por isso quando Santiago respondeu que a Santiago do ministério era sua filha, Ellie não pôde ocultar a surpresa, nunca o imaginaria pai de alguém quase da sua idade. Bem como não o imaginaria brasileiro. Ambos fatos surpreendentes. — Há de convir que você é curiosa mesmo.—ela encolheu os ombros e riu ante o comentário dele — É um traço bastante útil no meu trabalho. Pelo menos é o que me disseram...— Tanto George, irmão de sua mãe, quanto Mark, irmão de seu pai, haviam pontuado isso; ainda que em momentos e com objetivos diferentes. Tio George por realmente acreditar que era uma característica útil a um auror e tio Mark por tentar dissuadi-la de seguir os seus passos e de seu pai no quartel dos aurores. Perceptível que tio Mark não fora bem sucedido.

Desfocou a mente de seu passado e comentou para o homem diante de si — Nunca imaginaria que é brasileiro... Argentino, chileno, mexicano... Mas brasileiro seria a minha última opção, ainda que eu saiba que são um povo altamente miscigenado. Entretanto mais intrigante que isso é o fato de terem trocado um país como o Brasil, com suas praias e sol pelo Reino Unido... — concluiu mesmo que sua cabeça negasse com veemência que este era o fato mais curioso. Mais curioso do que isso era Dante ter uma filha quase da sua idade.

Felizmente a conversa tomou outro rumo antes que enveredasse pelo fato dele possivelmente ter uma esposa maravilhosa a quem encontraria tão logo encerrássemos aquela conversa, e a jovem preferia não acabar com o encanto dessa forma, daí a sugestão sobre o St Mungus.

— Acho que só por ter me chamado de louco

— Não o chamei de louco só...— ela tentou consertar sem sucesso entrando na brincadeira, supôs ser uma mas ele prosseguiu como se não a tivesse ouvido.

- Eu deveria lhe acompanhar pelo Beco e lhe ajudar com o que tiver que fazer por lá. — ela automaticamente arqueou as sobrancelhas num misto de confusão  e expectativa diante do que se desenrolava diante de si. — Veja bem, em menos de uma hora, você já encontrou um louco e um velho mais louco ainda. — Ellie tentou ocultar o sorriso ante tal fala ainda tentando descobrir se ele referia-se a si mesmo como o velho louco. — Sei que sabe se defender. — Ela assentiu concordando mas logo soltava uma sonora gargalhada ante a conclusão dele. — Mas fico preocupado com a sua falta de sorte.

— Ah sim...— balançou a cabeça numa leve negativa — Eu e essa maldita falta de sorte, tsc tsc... Nate costuma dizer que atraio confusões graças a isso— comentou recordando-se da fala do amigo. Desde o voto perpétuo deles com Lilith, Nate sempre dizia isso. Aliás, Ellie tinha quase certeza de que ele  diria isso quando lhe relatasse os acontecimentos do dia de hoje.

Manteve o sorriso e prosseguiu — Então deduzo que deva ser grata a sua imensa generosidade em me escoltar pelo Beco Diagonal? É isso, sr Santiago?— por Merlin! Qualquer um que os visse juraria que ela parecia flertar com o homem mas era o jeito dela. O que não significava que não estivesse mesmo flertando com ele, o que ela nunca admitiria em voz alta. Flertar com homens casados não era algo comum para ela, e sejamos honestos, desde seu relacionamento fracassado com Damian, Ellie evitava ao máximo complicações de qualquer natureza. Pretendia desfazer essa impressão mas tanto a fala quanto o gesto dele a impediram.

— Vamos. Conheço muita gente pelo comércio. Depois podemos comer algo e você me conta o que planeja com tanto Veritasserum. Também sou curioso, okay?

— Minha mente parou na proposta de comer algo...— e ante o olhar dele completou — Sou honesta fazer o que? — novamente encolheu os ombros antes de responder sobre as poções — Preciso entrevistar algumas pessoas e Veritasserum sempre é útil nesses momentos, você, sendo pai, deve saber disso ou vai me dizer que a senhora Santiago nunca usou umas gotinhas de veritasserum com sua filha? Eu se fosse mãe, claramente, faria algo assim. — óbvio que não diria a um total desconhecido, dono de um temperamento volúvel que era uma auror logo de cara. Atualmente nunca se sabia ao certo quando se estava lidando com um comensal ou simpatizante a causa de Natalie. Se bem que o homem ao lado dela vinha de um local altamente miscigenado então seria ilógico, incoerente mesmo, alguém como ele se juntar a uma causa tão estapafúrdia.

Back in town

— Que mãe é essa?

Ela deixou escapar outra sonora gargalhada diante da incredulidade estampada na expressão dele enquanto caminhavam na direção do Beco — Uma mãe esperta, diria eu. — A jovem retrucou num tom divertido enquanto refletia que a reação dele, era a comprovação de que ela nunca seria uma mãe sequer razoável. — Não me entenda mal, por favor, mas confio nas minhas filhas. Bem, tem a vantagem de não mentirem tão bem, mas de todo modo...

— Então são duas? Interessante... Você é um homem de sorte por elas serem péssimas mentirosas...

— E a senhora Santiago também nunca utilizou de tais métodos, na verdade, somos separados há alguns anos.

Pelo menos não era casado. Não que este fosse um fator importante. Ok, era. Não queria seu nome rolando à boca pequena da sociedade bruxa, já tivera sua experiência com isso quando o relacionamento com Damian naufragou. — A clara razão pela ex-senhora Santiago ser uma mãe e eu não. — deu de ombros. Isso e seu dedo podre para relacionamentos. Felizmente a conversa enveredou por temas mais amenos, como o fato dele explicar suas origens e das filhas também. O que fez com que Ellie avaliasse que ele era um pai bastante devotado e esta era uma característica admirável. E não é que o sr. Tive uma noite ruim estava ganhando uns pontinhos? Por isso, emedou a última fala dele — Tradições são válidas e toda família tem as suas. — a dela também tinha e sua escolha profissional era o resultado disso. Levaria décadas enumerar todos antepassados dos Mitchell estavam ligados ao quartel dos aurores. A jovem suspirou imperceptivelmente e foi distraída de suas divagações pela indagação de Santiago.

— Onde gostaria de comer, senhorita desconfiada?

Arqueou de leve as sobrancelhas, unindo-as no centro da testa e replicou — Não sou desconfiada, sr. Tive uma noite ruim...— brincou — Sou cautelosa, é mais forte do que eu. Me processe. —deu uma piscadela de leve — Mas o que me diz do Freya? Conhece? É um local bastante interessante e uma opção melhor do que a sorveteria na atual conjuntura? Fora que não é um point badalado por jovenzinhos de Hogwarts, o que é bastante consolador.