Corredores Laterais

Corri pelos corredores de pedra do castelo, o som dos meus passos ecoando nas paredes frias enquanto procurava por Laura. Meu coração batia acelerado, um nó se formava na minha garganta, e minha mente estava tomada por pensamentos confusos. Eu sabia que precisava falar com ela, precisava entendê-la, precisava que ela me ajudasse. Já fazia tempo que eu vinha tentando alertar todos sobre Rosalie, mas ninguém me ouvia. Talvez agora, finalmente, alguém estivesse começando a perceber a verdade e por mais que eu tenha me chateado no passado com ela, eu nao podia perder essa chance. Eu a vi à frente, caminhando com passos rápidos, como se também estivesse sendo perseguida por pensamentos próprios. Acelerei o passo, até finalmente alcançá-la. — Laura! — Chamei, tentando manter minha voz firme, apesar da urgência. Ela parou, mas não se virou de imediato. Quando finalmente olhou para mim, seus olhos estavam carregados de algo que eu não conseguia identificar.

— Posso te fazer uma pergunta? — Laura ficou em silêncio por um momento, mas então assentiu levemente com a cabeça, desviando o olhar para o chão. Meu coração apertou com a tensão que pairava entre nós, mas continuei. — Eu… eu preciso saber —  Comecei, engolindo em seco enquanto me aproximava dela lentamente, minha respiraçao se acalmando.  — O que foi que te fez mudar de ideia sobre Rosalie? O que te fez começar a suspeitar que ela não era o que parecia ser? O que te fez parar pra pensar em tudo o que eu tentei contar, quando ninguém acreditou em mim? — Laura permaneceu em silêncio por um momento, e o som dos pássaros lá fora parecia um eco distante enquanto eu aguardava sua resposta. Eu observava cada movimento dela, cada pequeno gesto, tentando encontrar alguma pista, algo que me revelasse o que se passava na cabeça dela.

Finalmente, ela começou a falar. Suas palavras eram suaves, mas carregadas de uma estranha verdade. Não sei exatamente o que esperava ouvir, mas, conforme ela continuava, percebi que, de alguma forma, o que ela dizia fazia sentido. Enquanto Laura falava, senti uma sensação de alívio me inundar. Suspirei, contente com o que ouvia. Não era mais só eu. Agora, alguém finalmente entendia, finalmente via o que eu havia visto por tanto tempo. A minha luta não tinha sido em vão. Aproximei-me dela, tocando levemente o seu braço, buscando sua atenção de uma forma mais íntima, mais pessoal. — Laura, eu preciso da sua ajuda. —  Falei, minha voz quase um sussurro. Ela ergueu os olhos para mim, surpresa, mas atenta.

— Preciso que me ajude a fazer Aaron enxergar a verdade sobre Rosalie. Ele está sofrendo tanto —  Confessei, minha voz falhando um pouco ao dizer seu nome, meu coraçao se apertando por ele, por meu amor por ele. — Ele se culpa pela morte de Rosalie, quando, na verdade, tudo que ela fez foi usá-lo, manipulá-lo, fazê-lo de idiota. —  Fiquei em silêncio por um momento, tentando segurar o turbilhão de emoções que ameaçava tomar conta de mim. Aaron ainda significava muito para mim, mesmo que ele não me amasse mais como um dia amou. A dor de vê-lo sofrendo por uma mulher como Rosalie me rasgava por dentro.

— No scriptorium, ele olhou nos olhos de Rosalie e disse que amava, depois de tudo de ruim que ela revelou esta fazendo... — Minhas palavras saíram pesadas, carregadas de uma dor que eu vinha reprimindo há muito tempo. Senti meu corpo tremer, o peso da confissão tornando difícil até mesmo respirar. Mas continuei, porque eu precisava que Laura entendesse o quão desesperador era tudo aquilo. — Ele está se corroendo por dentro, achando que é culpado por tudo que Rosalie fez. Ele acha que, de alguma forma, ele poderia ter mudado as coisas, poderia ter evitado que tudo acontecesse. — Eu sabia que a culpa estava despedaçando Aaron por dentro. Seus olhos, antes tão brilhantes, estavam agora escurecidos pela dor e pelo arrependimento. Ele se culpava pela queda de Rosalie, pela forma como tudo havia terminado. Eu sabia que ele se odiava por não ter enxergado quem ela realmente era antes de ser tarde demais.

— Talvez — Continuei, minha voz baixa, como se estivesse hesitando em acreditar na própria esperança que surgia, — Se ele soubesse que até o bebê foi uma invenção da Rosalie, talvez, só talvez, ele parasse de se culpar. — Fiquei ali, em silêncio, as palavras pairando entre nós. Eu não sabia o que mais dizer. Tudo parecia tão óbvio para mim, mas ao mesmo tempo, tão distante para Aaron. Ele estava cego pela dor, incapaz de enxergar a verdade, e tudo o que eu queria era tirá-lo daquele abismo.— Eu sei que o perdi há muito tempo... Mas, apesar de tudo, eu não quero vê-lo sofrendo assim. Ele não merece isso.  — Admiti, minha voz embargando com a tristeza que eu tentava conter há tanto tempo.  Era a verdade mais dura que eu já tinha dito. Eu sabia que Aaron não era mais meu, não era mais o homem que me amava. Rosalie o tinha conseguido arrancar de mim. E ainda assim, eu não conseguia ficar de braços cruzados e assistir à sua autodestruição. Havia uma parte de mim, uma parte que eu não conseguia enterrar, que ainda se importava profundamente com ele.

Os dias tinham sido um verdadeiro sonho para mim, ou pelo menos era assim que eu me sentia. Todos os seus pensamentos estavam voltados para uma única pessoa: Vincenzo. Eu não conseguia me concentrar em mais nada. Era como se o mundo inteiro tivesse se transformado em uma constante busca por agradá-lo, por estar ao lado dele, por sentir o calor de sua presença. Naquele momento, estavamos no corredor do castelo, sentados no parapeito de uma das janelas mais isoladas. A luz que entrava por ela iluminava o rosto de Vincenzo, tornando-o ainda mais irresistível aos meus olhos. Eu estava sentada no colo de Vincenzo, sentindo a textura fria da pedra do parapeito da janela sob nós, mas o calor do corpo dele me envolvia, me fazendo esquecer o frio do corredor. Minhas mãos estavam ao redor do pescoço dele, e eu não conseguia parar de beijá-lo. Um beijo atrás do outro, sentindo o gosto dele nos meus lábios como se fosse a única coisa que importava no mundo. Cada beijo parecia um lembrete de que eu o amava, de que ele era meu e eu era dele. Para sempre.

— Eu te amo tanto, Vincenzo — Sussurrei contra seus lábios, mal dando tempo para que ele respondesse antes de mergulhar em outro beijo. Meus dedos brincavam com os cabelos dele, e a sensação da pele dele contra a minha era como um vício. — Você é tudo pra mim. — Eu não queria mais nada além de estar assim, colada a ele, completamente envolvida nele. Vincenzo sorriu, aquele sorriso dele que sempre me deixava com as pernas bambas. Eu estava completamente entregue, e ele sabia disso. Cada gesto, cada palavra minha reafirmava o quanto ele me tinha sob controle. Eu vivia para vê-lo sorrir, para sentir que eu o fazia feliz. Ele parecia gostar da atenção, do modo como eu o enchia de carinho. E, quando ele sussurrou contra meu ouvido, sua voz baixa e cheia de convicção, meu coração praticamente parou de bater.

— Você é minha... em todos os sentidos. — As palavras dele me arrepiaram da cabeça aos pés, e eu não hesitei em concordar, apaixonada, completamente cega pelo que eu parecia sentia por ele  — Sim, Vincenzo, eu sou sua... em todos os sentidos. — Meus lábios tocaram os dele mais uma vez, como se fosse uma promessa selada entre nós. Eu era dele. Meu coração, meu corpo, tudo. Tudo pertencia a ele, e eu não queria que fosse diferente. — Eu vivo para te fazer feliz. Era a verdade. Eu não tinha dúvidas disso. Tudo o que eu queria era ver o sorriso dele, sentir a mão dele me puxando para mais perto, ouvir sua voz suave me dizendo que eu era dele. Cada palavra que ele dizia parecia acender uma chama dentro de mim, uma necessidade constante de agradá-lo, de ser a garota que ele merecia. Eu estava tão apaixonada que mal conseguia pensar em outra coisa.

As pessoas passavam pelo corredor, mas eu nem ligava. Alguns olhavam, cochichavam entre si, mas nada disso me importava. Eu estava ali, nos braços de Vincenzo, e isso era tudo que importava para mim. O mundo podia cair ao nosso redor, e eu ainda estaria feliz, contanto que ele estivesse ao meu lado. Minha cabeça descansava contra o ombro dele, enquanto minhas mãos acariciavam seu rosto, seu pescoço, e eu continuava a beijá-lo, sem a menor vergonha de estar ali, exibindo nosso afeto em excesso para quem quisesse ver. Não importava o que pensassem. Eu era dele, e queria que todos soubessem disso. Queria que o mundo soubesse que Vincenzo Valak era o amor da minha vida, e que eu faria qualquer coisa por ele. Eu sentia que, de alguma forma, era isso que ele queria também. Ele gostava de me ter assim, sob seu comando, sempre pronta para obedecer, para me entregar de corpo e alma a ele. E ali, sentada no colo dele, completamente entregue ao nosso momento, eu sabia que não havia mais ninguém no mundo para mim. Não importava o que acontecesse, eu sempre seria dele.