Adega

Daniel abre a porta da adega e me puxa para dentro fazendo-me passar por ele e então fecha a porta, ficando a sua frente. Um obstáculo para o caso de eu querer sair. Ele estava agitado, e inquieto. Ele geralmente era assim mas naquele momento era mais do que o normal.

Ele toma alguns longos segundos respirando fundo, começo a me irritar com a demora toda dele. Cara! Fala de uma vez o que esta acontecendo com você! eu acabo me exaltando mas ele me cala quando mais uma vez me pergunta o que ele era para mim. Junto minhas sobrancelhas, incrédula. Era possível ver em minha cara a raiva que eu sentia naquele momento. É serio isso Daniel? Agora no meio da festa? Ele ignora minha pergunta.

Sua voz volta a surgir no ambiente enquanto ele se escorava em um dos armários cheio de bebidas do meu pai. Ele me olha por alguns segundos enquanto dizia que ele sabia o que eu era para ele e o que sempre seria. Alivio a expressão em meu rosto ao entender do que aquilo se tratava. Ele estava atras de um encerramento. Suas palavras deixavam claro que ele estava atrás daquilo, e eu podia apostar que sua grande companhia da noite tinha parte nesta história toda.

Ele em suas palavras, relembrou a primeira vez que havíamos nos visto. No casamente de meu tio Edward com Julie. Naquele instante as memórias de nós dois naquele dia, invadem todos meus pensamentos. Meu corpo simplesmente relaxa. Eram boas memórias. Daniel era como um porto seguro para mim nos anos iniciais que estávamos estudando juntos, e que a verdade fosse dita, se eu não tivesse o colocado contra a parede, talvez nunca tivéssemos namorado pois ele parecia um panaca sempre que fala comigo ou que eu me aproximava o suficiente para não passar uma corrente de ar entre nós dois. E eu me perguntei em que momento eu havia deixado aquela Laura para trás.

Mas em seguida eu tive a resposta para aquilo. Daniel foi mesmo quem havia me dado ela. Todos que eu tinha se foram por algum período de tempo, minha mãe e ele. E de repente eu estava somente com meu pai, e a família que ele estava formando. Casou com Emily, que se inundou nossas vidas da mesma forma que um tsunami devasta as cidades que atinge. Aaron acabou vindo junto, a única coisa que prestava naquela junção toda de famílias. E pouco tempo depois Robert aparecia com uma órfã em casa, dizendo que a havia adotado, sem nem mesmo falar com ninguém sobre aquele assunto. Então eu que em um segundo não tinha nada, fui obrigada a aceitar toda aquela mudança, sem processar o que tinha perdido. Mais coisas ainda aconteceram depois disso, Daniel voltou depois de um ano sem noticias. Minha mãe voltou depois de três anos sumida, e um ano que tinha sido dada como morta. Emily então estava gravida, teve o bebê, sequestraram o bebe, mataram o bebe. Assim como aquela mesma tragédia estava assolando a parte Summiregis de mim com sequestro e morte de meu primo, também bebê.

Encaro Daniel, ele me inundava com suas palavras e seus pedidos, e me fazia pensar no caminho que eu estava traçando para mim mesma. "Preciso seguir em frente" dizia Daniel no momento que minha atenção principal voltou a ele. Diz que não sou nada, que acabou e que, se muito, vamos ser amigos... Ou nem isso... Me dá um motivo para olhar para você e meu coração não descompassar. Engulo em seco aquelas palavras. Mantenho meus olhos fixos no dele. Já tínhamos trilhado aquele caminho antes quando ele tinha voltado do ano que para mim ele tinha passado longe por escolha, e depois descobri a verdadeira história, sobre seus pais trouxas não aceitarem ele como bruxo e como ele havia passado um ano sofrendo. Eu o havia perdoado por tudo.

E então esta Laura. Esta era a Laura que todos aquelas tragédias haviam moldado e esculpido. Meu orgulho que outrora era pontual, agora era o que me dominava. A desconfiança que antes eu ignorei com relação a Daniel, depois dele me trair com Anastasia, agora era presente em todas as conversar, olhares que trocava com ele. Mesmo que ele alegasse que fora forçado como fazia sempre que o assunto surgia a tona. Eu não podia escutar a parte que queria se entregar a ele por saber que o amava. E sim o amava. Muito provavelmente desde o momento que ele havia me chamado de anjo naquela festa, e todas as vezes que parecia um panaca ao falar comigo ou me olhar. Mas não podia ceder, dar a ele aquele micro fio de confiança, uma pequena parte por conta das traições anteriores, mas a maior parte de não poder era justamente porque o caminho que estava a seguir, as escolhas que eu faria e estava fazendo não seriam aprovadas por ele, e que provavelmente ele faria de tudo para me impedir, mas àquele ponto já não havia mais volta.

Pigarreio limpando a garganta, repensando todas as possíveis respostas que eu tinha para dar a ele. Você sabe que não damos certo. Tentamos duas vezes. As coisas não vão mudar numa terceira vez. Aquele era o melhor que tinha conseguido formular. Mas ara ele não parecia o suficiente. Daniel se aproxima mais de mim, pedindo que eu falasse a verdade, que eu dissesse a ele o que sentia por ele, que fosse honesta daquela vez. Eu amo e odeio você em proporções iguais. Eu solto antes mesmo que ele pudesse continuar a frase que falava. Mas isso não muda os fatos. Eu sinto saudades suas, da mesma forma que quero que você desapareça. Enquanto eu falava ele repetia "proporções iguais". Eu quero você ao mesmo tempo que não quero. E nós últimos tempos eu tenho nutrido todos os sentimentos negativos em relação a você com mais intensidade. Seus olhos fogem dos meus. Mas.. a parte de mim que quer você nunca realmente vai embora. E então lá estava ele mais uma vez. Olhando para mim, como se conseguisse enxergar toda a minha alma, causando em mim um arrepio logo. E ainda sim sabemos que não damos certo. Desta vez sou eu quem me aproximo dele, o suficiente para conseguir tocar seu rosto com a mão. Talvez nós dois precisamos de um encerramento, nem magoas e sem ressentimentos.

Aquela ideia que acabara de passar por minha cabeça, talvez fosse suficiente para que ele seguisse em frente como queria, mas que também não se metesse em futuros planos que eu tinha em mente. Eu podia ver curiosidade nos olhos dele, mas nenhuma palavra saia de seus lábios. Ele jamais deixaria de ser aquele que ficaria bobinho perto de mim. Porque não fica aqui hoje, depois da festa? Pergunto passando o indicador desde sua tempora até a linha do maxilar, trançando-a perfeitamente.

Laura outfit