Já fazia uma semana e alguns dias que estava na casa de Malia, e com isso os dez dias que haviam me sido dados para entregar sua cabeça se esgotaram. Ainda deitada na cama, me pergunto se a essa hora a cabeça de Eliot já estava em algum lugar na decoração do esconderijo ou se ele de alguma forma ainda estava atras de Malia.

A casa de Malia era toda aquecida, então assim que me levanto eu coloco um short e uma regatinha, afinal eu não estava mesmo sequer deixando a casa. Ouço alguns passos no corredor, como se seguisse em direção ao escritório. Em uma semana havia percebido que Malia ficava lá por muito tempo. Sem por um sapato abro a porta do quarto e sigo os passos da loira.

Antes que eu pudesse bater na porta a mesma se abre fazendo com que Malia quase esbarre em mim. Nos estávamos nos dando incrivelmente bem durante o tempo que estava aqui, havia me esquecido de como sua companhia era boa para sei lá, minha alma. Tinha algo em Malia que sempre me trazia algum tipo de paz. Talvez eu tivesse me acostumado com a chatice se tivesse escolhido outro lado da guerra em Hogwarts. – Vai a algum lugar? – olho a loira de cima a baixo. Malia tentou passar por mim, mas a impeço de passar pelos buracos que meu corpo não cobria entre a porta e eu.

Sua resposta faz com que meu sangue ferva, Alex, Alex Alex. – Você está maluca? – eu digo desta vez avançando no escritório e fechando a porta sem deixar que a mesma saia. – O que você teria para falar com ela? – solto a frase carregada com raiva e com um ciúme que não sabia que ainda existia. – Não pode confiar nela, nem se aproximar dela. Sabe que pode se machucar Malia. Então porque esta indo atrás dela?! – meu tom de voz aumenta durante a frase mas logo diminui assim que vejo o rosto de Malia em desaprovação.  

Eu percebia que havia despertando a raiva nos olhos de Malia, era evidente que ela não deixaria meu pequenino ataque de ciúmes em vão. Ela, com a paciência de sempre esperou que eu terminasse com minhas palavras para que ela então começasse.

Eu sabia, pelo menos imaginava o que viria e não foi para menos. Dou um passo para trás no mesmo momento em que ela cita a forma que a trai quando ela me amava, o que era uma confissão que ela havia feito antes mas nunca havia realmente usado aquela palavra, citou a morte de seus amigos, daqueles quais o sangue jorrava vermelho em minha conta, e acima de tudo meu lado na própria batalha. Então em sua cabeça eu era a pessoa que mais poderia machuca-la e ainda sim estava ali.

Meu rosto vermelho, podia sentir que esta era a cor que estava assumindo. Eu estava com vergonha? Não era um sentimento natural então realmente não sabia dizer. Mas o sentia quente, fervendo diferentemente de quando aquilo acontecia por estar com raiva. — Ou já esqueceu que esta aqui por que por sua culpa Nathalie pediu minha cabeça?  - tento abrir a boca para falar alguma coisa mas sua expressão me cala instantaneamente. Mas reviro os olhos, ela acha mesmo que Alex não tem poder de escolha, sendo que ela tem e muito. Alex escolheu nosso lado depois de anos, e depois de perdas, ela quem nos escolheu, todos que estávamos daquele lado, ninguém foi forçado. — Deveria aproveitar esse tempo aqui em casa, longe dos comensais e de Eliot para rever tudo que já fez comigo e com outros, quem sabe voce nao muda Lilith... – a loira sabia bem como tornar as palavras em argumentos excruciantes.

Não que de alguma forma realmente mudar de lado em algum momento naquela semana tornou-se de fato uma ideia plausível, mas ela insistia tanto naquela mesma tecla que quase fazia aquilo parecer normal e uma possibilidade. Por fim ela se calou. Mas meu orgulho me prendia o suficiente para eu apenas ignorar tais sugestões. – Por favor Malia. Minha conta jorra vermelho sangue. – eu dou uma risada debochada – Nem se eu quisesse eu conseguiria ter uma vida normal seguindo a lei, porque eu estaria no lugar de Alex agora. Ministério nenhum me daria absolvição como deram a Marie e a Robert. Porque tudo que eu fiz, todos que eu matei incluindo meu irmão e meu pai nesta lista, todos eles eu matei porque eu quis e eu gostei de como me senti quando fiz. – seus olhos estavam vidrados. Talvez ela não esperasse aquelas palavras no final das contas. – E a sua queridinha que você tanto quer salvar? Depois que aceitou a vida conosco, como você acha que esta a conta dela? – eu pergunto retoricamente. – Se não estiver tão suja quanto a minha esta quase. Por anos ela foi a escravinha de Nathalie, o pau mandado, aquela que tinha que fazer todo o trabalho sujo para que a mamãezinha não fosse implicada de forma nenhuma. – desta vez eu abro a porta mas me aproximo da loira perigosamente, não com a intenção de feri-la. Deixo meu rosto próximo do seu o suficiente para que ela sentisse minha respiração acelerada assim como as batidas altas e descompassadas de meu coração bombeando sangue loucamente por todo meu corpo por conta da adrenalina. Meus olhos intercalam entre os dela e sua boca, quando finalmente os fixo em suas orbes verdes – Eu não sou santa Malia, e não tenho a intenção de ser, mas não pode negar que entre Alex e eu, eu nunca realmente menti sobre quem eu era. Quando me conheceu você sabia que eu era comensal da morte, mas você quis acreditar que eu tinha algo bom... posso ter manipulado os fatos mas quem te enganou e te deixou não fui eu - abro caminho para que a loira passasse, afinal em minha chagada ela parecia apressada.

Ela fica ali parada alguns segundos me encarando. Mantenho o contato visual sem o quebrar, mas ela parecia inerte, reviro meus olhos quando vejo que nenhuma resposta saíra de sua boa neste momento e deixo o escritório sem saber se ela ainda iria ou não visitar Alex.