Meus olhos estavam fixos em Astrid, observando cada mínimo movimento dela, como se tentasse decifrar seus pensamentos apenas pelo jeito como ela respirava ou em seus gestos silenciosos, sentia meu coração descompassado, minha mente, por outro lado, naquele momento, estava em completo silêncio, como se todo o caos tivesse ficado quieto só para ouvir a resposta antes de volta a loucura anterior, minha respiração era meio pesada, mas eu mesmo não sabia dizer se pelos ferimentos ou pela espera da resposta e, então, quando ela respondeu, soube que era verdade, podia ver a sinceridade em seus olhos, apesar da lembrança do beijo ainda ecoar em minha mente, e o desejo de esmurrar Derek por aquilo, aquela imagem perdeu a força, por outro lado aquela resposta apenas colocou mais lenha no incêndio que era minha mente, senti um sorriso surgindo em meus lábios, mas segurei aquilo, não podia ficar alegre por algo tão simples.

Quando Astrid se aproxima meu corpo institivamente reage, como se ela fosse um imã se aproximando de um punhado de pregos, tremendo em uma confusão, uma parte desejando se aproximar ainda mais enquanto outra desejava se afastar, um misto de desejo de apertá-la em um abraço e medo de que qualquer toque pudesse quebrá-la. Sinto seus olhos sobre mim, tento desviar o olhar dela mais aquilo é simplesmente impossível, então quando sua pergunta vem enquanto ela desvia o olhar um sorriso surgiu em meus lábios, mas logo se transformou em uma careta de dor pelos ferimentos. Eu só tinha que falar aquilo. Respondi de forma simples, esperando que ela entendesse, no entanto o olhar dela me dizia que aquilo não era suficiente.

Arqueei a sobrancelha e respirei fundo, tentando explicar. Quando cheguei na ala hospitalar o enfermeiro parecia um tarado então me pareceu mais lógico falar aquilo. Falei com calma, interrompido ocasionalmente pela dor, mas Astrid mantinha o mesmo olhar sem entender. O enfermeiro era um tarado e a ruiv... Adora estava assustada. Concluí desviando o olhar e passava a mão sobre minhas costelas, pelo visto uma delas havia quebrado. Merda... Vou ver se o Garret pode acertar isso depois. Resmunguei voltando a olhar para Astrid, que mantinha o mesmo olhar entre curiosidade e dúvida. O que foi?

Você não respondeu o que perguntei. Astrid disse me encarando, fechei a cara, eu tinha acabado de explicar tudo, pelo menos na minha cabeça aquilo estava completamente resolvido, então não entendia o que ela não tinha entendido. Como não? Disse a encarando, como eu podia estar apaixonado por alguém tão avoada daquele jeito, certamente tinha alguma coisa errada com minha cabeça, devia ser a pedrada que Thomas me acertou que bagunçou tudo. Você não explicou nada! O olhar de Astrid era penetrante, como se buscasse algo mais. Você prestou atenção no que falei? Perguntei com a cara fechada, estava com dor e ter que ficar explicando a mesma coisa várias vezes não era algo que estava animado a fazer.

Astrid arqueou uma sobrancelha, claramente ficando irritada, pela cara dela ela estava em um misto entre simplesmente ir embora e querer ficar, seus olhos me fuzilavam, buscando algo que não conseguia identificar o que era, ela soltou um suspiro, claramente havia uma pitada de frustração ali. Você gosta ou não da Adora? Ela perguntou, pelo visto sua paciência tinha ido embora, mas a minha também, como ela conseguia não entender o que eu havia explicado claramente? Aquilo me fez soltar um suspiro nervoso. Deixa de ser sonsa eu gosto é de você. As palavras saíram da minha boca mais rápido do que pude acompanhar com a mente, os olhos de Astrid arregalaram, na hora fiquei mudo, minha cabeça ficou em completo silêncio, minha confissão pairando no ar entre nós, enquanto eu mesmo tentava compreender o que havia falado.

Meu corpo inteiro ainda pulsava com a dor das feridas infligidas durante a briga, mas era o peso do que não era dito ali que realmente pesava sobre meus ombros naquele momento, mas propriamente Astrid, que me encarava em um silêncio ensurdecedor, com uma intensidade que me deixava sem fôlego, claro, podia ver a hesitação em seu olhar, a dúvida que ela tentava esconder, algo que vim fazendo nos últimos dias, semanas, sei lá, meses, talvez desde o primeiro momento que a vi mas, naquele momento, não podia mais fugir da verdade, não podia mais ignorar o que eu sentia.

Loirinha. Minha voz escapou de meus lábios em um sussurro rouco, uma tentativa desesperada de quebrar o silêncio que se estendia entre nós, enquanto dava um passo em sua direção, um passo que foi o suficiente para sentir uma nova onda de dor, fazendo-me fechar os olhos por um momento para afastar a sensação aguda que se espalhava por todo o meu corpo. Você está machucado e precisa descansar A resposta de Astrid veio como um golpe que eu não estava preparado para receber, como se o que eu tivesse dito fosse uma ilusão, tanto para mim quanto para ela.

Abri meus olhos novamente, novamente encontrando seus olhos, havia algo mais ali, algo que eu não podia ignorar, abri a boca para protestar, para exigir que ela entendesse, mas antes que eu pudesse articular uma palavra, Astrid se aproximou e depositou um beijo suave em minha bochecha, algo que me deixou sem reação imediata. Descanse, ok? Enquanto a via se afastar, uma sensação de vazio se instalou em meu peito. Não preciso de descanso... Preciso de você! Murmurei para mim mesmo, as palavras escapando de meus lábios em um sussurro quase inaudível.

Aquela era a verdade, precisava dela mais do que precisava de ar para respirar, mas enquanto falava uma dor invadiu meu corpo novamente. Talvez eu precise descansar também. Disse com um suspiro resignado, então me virei e segui em direção à comunal, cada passo uma luta contra a dor que me consumia, indo diretamente para o dormitório, não estava afim de conversar com ninguém da Comunal e certamente não queria perder a imagem do rosto de Astrid da minha mente, já que era a lembrança de seu rosto que desejava ver em meus sonhos.