Cabeça de Javali

Eu havia aparatado para O Três Vassouras, mas como de costume aquele lugar estava bombando de gente e eu não estava pronta ainda para ser reconhecida, e por mais que eu não soubesse como exatamente as coisas se acertaram por aqui eu tinha certeza que meu nome e rosto assim como o de muitos que estudaram comigo era coisa de conhecimento publico ainda mais depois da noticia sobre eu ser herdeira de um certo lorde se fez notável... eu tinha uma pessoa a agradecer por isso... Robert, com minha volta a Londres com certeza ele daria um jeito de me contatar e essa seria a chance perfeita para podermos colocar todos os pingos nos is.

Dei as costas da frente do três vassouras e caminhei para o local da vez: Cabeça de Javali. O bar de adultos, de caráter duvidoso.  Mas era definitivamente um lugar que sabia vender bebidas, e aquelas que eu estava precisando. Eu havia me esquecido de como aquela taverna era escura e tinha suas cabines, de certa forma aconchegante para se fazer negócios sem que se fosse interrompido.

Entrar no local me trouxe uma nostalgia, que eu não imaginei que iria sentir, mas era bom estar de volta. Senti algumas cabeças se voltarem em minha direção, mantive a postura e caminhei até o balcão do local. Um dos atendentes estava para perguntar o que eu queria quando uma voz familiar soou atras de mim. Eu me virei espantada, o susto por estar vendo Emily ali em carne e osso logo se tornou felicidade e eu a abracei forte.

Emily era a amiga que mais me ajudou durante Hogwarts, com todos os problemas que passei envolvendo minha mãe, não nos víamos desde que fui embora, mas estávamos sempre enviando cartas dizendo como estávamos, o que estava acontecendo em nossas vidas, mas concordamos que por segurança das duas nunca revelaríamos nossa localização.

Nos soltamos do abraço com Emily pedindo duas cervejas amanteigadas. – Eu não imaginei que encontraria você logo no primeiro dia que coloquei meus pés aqui – disse sentando na banqueta do balcão e me virando para ela, eu sabia que iriamos passar horas e horas conversando e sabendo disso fiquei feliz. – Foi uma decisão de ultima hora... eu me formei Auror pela MACUSA  tem quase dois anos, minha mãe faleceu e eu não podia simplesmente ficar nos Estados Unidos... eles me deram duas opções para transferência, Londres ou Tókio. – eu olhei em volta e ergui meus ombros – então eu decidi que era hora de voltar para casa – tomei um gole da minha cerveja e pousei o como em cima do balcão. – Mantive contato com as professoras do Instituto das Bruxas de Salem, e fiquei sabendo que você foi promovida a professora de TCM.. meus parabéns – eu digo sorrindo, sempre soube que aquele lugar um dia teria uma Watsgrint novamente – Me conte como está sendo? Tem muitos de nós mesmos por lá?

Fiquei um pouco triste em saber que muitos daqueles que fizeram parte dos meus anos em Hogwarts acabaram desertando, e preferiram se manter longe da escola assim como eu. Seria de certa forma completamente complicado revê-los se é que algum dia seria até possível de isso se tornar realidade.

Eu olhei para o copo de cerveja amanteigada e lembrei de como gostávamos de fugir para o três vassouras, todos nós, Ems, Robert, Julie, Edward, James e eu, ao pensar nisso e deixei com que minha cabeça vagasse pelo passado mas em milésimos de segundos estava focada em Emily que retornou a falar enquanto tomava um gole grande de minha caneca de cerveja. - Mas você nao vai acreditar.... Quem esta em Londres e andando livremente... – um calafrio correu por toda minha coluna. Eu sabia exatamente o nome que sairia de sua boca, mas não tinha certeza se queria escutar. E a apesar de já esperar que Robert  estivesse de voltar eventualmente não estava tecnicamente prepara para revê-lo por entre as ruas, ou pior sabendo que o mesmo está trabalhando em Azkaban como auror,  não estava preparada para ve-lo em meu oficio, e sequer ser parceira de trabalho com ele.

Todas as mentiras, as memórias que foram implantadas as discussões de anos que tive com minha mãe sobre a identidade de meu pai, se era ou não herdeira de Darligulv, se eu tinha mesmo que seguir os passos dele, ou se eu era uma pessoa boa, Robert havia conseguido ferrar com minha cabeça de uma forma que eu antigamente, se alguém me contasse, iria dizer que tal coisa era impossível. Depois de muitas brigas com minha mãe ela me revelou a verdade, eu não era filha ou herdeira daquele monstro especifico que Darligulv, mas meu pai  era de fato um comensal da morte e por isso devia permanecer escondida e nunca jamais revelar meu nome ou ir atras dele, mesmo sabendo quem era.

Emily parecia irritada, lembrar de Robert para ela era como se ela tivesse que reviver todas as perdas que teve na vida, e era culpa dele. Ele havia conseguido a façanha de matar mais de dois terços do clã Watsgrint e isso eu sabia que deixava Emily com os nervos a flor da pele, com toda e devida razão. Nós tínhamos motivos para odiá-lo, e nós iriamos. – Eu não consigo entender, depois de tudo que Robert fez, e foi comprovado. Como ele conseguiu um cargo como auror? – eu olhei para a mesma, eu sabia que não teria uma resposta dela, justamente por nem ela entender – Mas eu discordo de você em uma parte. Não acho que Robert deveria estar em Azkaban preso. – Emily me olha duvidosa – Você é boa de mais com as coisas que deseja Emily, sempre foi. Robert, apostando no mínimo, deveria ter o mesmo destino das pessoas que ele machucou. Ele tinha que ter sua mente destruída, ficar com a duvida de quem ele realmente é por muito tempo e depois simplesmente apodrecer embaixo da terra. – eu disse colocando para fora uma ideia que eu tive quando descobri toda sua mentira, eu estava olhando fixo para o balcão do bar enquanto imaginava como seria matar Robert. Sorri e olhei para Emily – Passou pela minha cabeça uma vez, devolver na mesma moeda todo o mal, ou fazer até pior, mas eu consegui um perdão do ministério, justamente por ter sido manipulada por ele, não é como se eu pudesse estragar isso para me tornar ele – digo tomando o ultimo gole de cerveja, e acenando com a cabeça para que o garçom me trouxesse mais uma caneca cheia. Emily fez alguns comentários sobre, mas eu não queria mais falar de Robert. Nós duas teríamos tempo para falar, odiar e se o tempo permitir revidar – Mas,  me conte como esta sua vida Emily, você foi a primeira a voltar para cá. Tenho certeza que não queria nem ter saído daqui – digo e espero que a mesma responda.

Era estranho como todos acabamos por nos dividir. Eu me formei no Instituto das Bruxas de Salem, Emily acabou sendo forçada a ir para Ilvermorny, Robert sabe se lá onde se formou. Todos seguimos caminhos diferentes, mas estávamos de volta e eu não sabia como as coisas iriam ser daqui para frente.

Enquanto tomava goles alternados de cerveja escutei Emily atenta contando a mim como tinha ambições e Hogwarts, e eu queria ve-la se tornar diretora da escola, afinal era algo que corria em sua família, e nada seria mais digno. – Eu tenho certeza que logo que tudo estiver certo, novamente, eles verão que não tem alguém melhor para a diretoria da escola do que você – eu digo e levanto meu copo em sua direção em sinal de celebração. - Mas falando de você agora, você ainda não me disse o que te fez querer ser Auror amiga – ela me perguntou e eu a encarei por alguns segundos.

- Robert – eu falei, pousando o copo mais uma vez vazio em cima do balcão – Eu não me lembro se eu cheguei a contar toda a história para você – eu a olhei, eu não sabia como mas meu cérebro havia conseguido bloquear muitas memórias minhas quando o assunto era Robert, mas com o tempo fui recordando de uma coisa ou outra – Enquanto estávamos em Hogwarts, Robert me fez acreditar que eu era herdeira de Darligulv e eu era fácil manipular minha mente uma vez que sabia como eu era apaixonada pela Arte das Trevas – eu dei uma risada seca ao lembrar como me deixei manipular tão facilmente – Robert tomou ciência e vantagem disso. Eu estava feliz com a possibilidade de um dia assumir o trono daquele qual eu achava que era meu pai... quando a guerra começou minha mãe e eu fugimos, ela disse que precisávamos nos esconder, pois meu pai não poderia sequer sonhar que eu existia, eu a confrontei sobre Darligulv. Ela negava até não poder mais, dizia que não era ele meu pai e, no entanto, se negava a me dizer quem realmente era – Eu olhei ao redor, apesar de cada um estar cuidando de seus próprios negócios queria me certificar de que ninguém estava prestando atenção em nós. – Foram dois longos anos até eu conseguir acreditar nela, e tirar o lorde das trevas de minha cabeça, fui destravando algumas memórias que Robert bloqueou em minha cabeça e eu coloquei em minha cabeça que iria me tornar auror para que isso não acontecesse com mais ninguém que eu amo, nem mesmo comigo mesma novamente... e também para descobrir quem é meu pai realmente – eu menti para Emily, eu sabia quem era ele, mas eu não podia deixar ninguém saber. Até eu saber como destruir ele e sua corja.

Dei a Emily alguns minutos para que ela pudesse processar todas as informações que havia passado para ela e logo a mesma disse algo.

Nós duas não sabíamos o que pensar sobre toda a história, afinal nem eu mesma sabia porque Robert fez o que fez, não conseguia imaginar uma razão plausível para toda a encenação, e analisando tudo que aconteceu em minha vida na escola tinham apenas poucas coisas verdadeiras, e elas se resumiam aos meus amigos, meu antigo relacionamento com James, o qual eu não tinha visto desde que fui embora, recebi suas cartas. Suas tentativas de comunicação, mas ninguém podia saber onde eu estava, e ele, conhecendo-o como eu o conhecia sabia que iria atrás de mim. - O que não me entra na cabeça é o por que Robert precisava tanto que você acreditasse que era filha dele... O que ele queria de você com isso sabe? – eu levantei meus ombros em sinal de que não sabia também suas motivações.

Olhei para o resto de cerveja que sobrava em meu copo, havia já esquentado e eu acabei por descobrir com o tempo que cerveja quente é simplesmente horrível. – Eu realmente não sei o que se passou e passa na cabeça de Robert... Aquela época ainda é uma incógnita para mim, gostaria muito de resolve-la no entanto, eu preciso encontrar Robert para isso e não sei se isso hoje é uma boa ideia – eu olho para a mesma, com tudo que Robert me fizera acreditar eu não sabia dizer se me mudou, se me criou ou se só despertou coisas que já estavam dentro de mim e eu não queria aceitar, e isso me assustava. Estava eu pensando com meus botões quando Emily tornou a falar, perguntando sobre meu pai verdadeiro – Minha mãe somente disse que ele era de Londres, bruxo e que era para eu ficar longe dessa história pois ele não se importou comigo antes e não seria quando eu o procurasse que iria. Mas – eu olho para Emily, e suavizo minha feição – eu sinto que ele esta por perto sabe... como se alguma coisa me atraísse para encontra-lo. Espero que o ministério me de algumas pistas sobre isso. – Convenientemente deixei fora a parte que sei o nome de quem procurar, mas não podia arriscar Emily descobrir que é um comensal fiel a Darligulv até porque eu nem sequer sabia onde encontrar ele. – Mas Ems, eu gostaria que isso ficasse entre nós, não poso arriscar mais pessoas descobrindo a verdade sobre eu ser filha de Darligulv, infelizmente depois do que eu causei em Hogwarts e fora dela, isso é o que mantém os perigos longe de mim no momento. – eu peço a ela, ainda mais depois de receber uma carta me ameaçando momentos antes de voltar doa EUA.

Emily e eu estávamos conversando já há algumas horas, eu percebi que fazia muito tempo quando a mesma disse que precisava ir embora, pois amanha começaria seu dia logo cedo com a turma do quarto ano.

No fundo fiquei aliviada de poder contar com sua discrição no assunto “não filha/herdeira” de Darligulv, por enquanto era o que eu precisava até conseguir mais respostas. Eu e a morena nos abraçamos assim que a mesma terminou sua ultima caneca de cerveja amanteigada, dizendo para na próxima semana nos encontrarmos para mim atualiza-la do andamento de minha investigação.

Seria um pouco mais difícil manter Emily fora desse assunto uma vez que deixei que ela soubesse de boa parte da história, então sabia que eventualmente eu teria que abrir toda a história para ela – Vamos sim com toda certeza,  até semana que vem desejo ter descoberto alguma coisa que me faça avançar neste caso – digo e ela dando mais um abraço na mesma. – É muito bom poder rever você. Nos vemos semana que vem então? – digo segurando em sua mão e a mesma concorda.

Caminhamos lado a lado após pagarmos o que consumimos e ao sair pela porta ambas aparatamos.
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